Publicado em: 19/12/2025 às 18:00hs
O mercado brasileiro de trigo encerrou a semana com baixa liquidez e negociações travadas, reflexo da postura cautelosa de produtores, cooperativas e indústrias à espera dos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o cenário combina excesso de oferta global e preços internos abaixo do mínimo oficial, o que mantém o viés baixista.
“A expectativa em torno dos instrumentos de apoio, como o PEP e o Pepro, respaldados pelos R$ 67 milhões já destinados, é o principal vetor de curto prazo. Até a definição de regras, volumes e prêmios, os agentes evitam novas posições”, explica Oliveira.
No mercado físico, as referências permanecem praticamente nominais. No Rio Grande do Sul, os preços FOB oscilaram entre R$ 1.000 e R$ 1.020 por tonelada, valores inferiores ao preço mínimo oficial e dependentes de intervenções governamentais para destravar o escoamento.
Já no Paraná, as indicações variaram de R$ 1.160 a R$ 1.175 por tonelada FOB, com leve sustentação em relação ao Sul, mas ainda insuficiente para estimular negócios no mercado spot.
No exterior, o mercado de trigo continua pressionado por fundamentos amplamente negativos. A safra global 2025/26 é estimada em 837,8 milhões de toneladas, crescimento de 4,6% em relação ao ciclo anterior, enquanto o consumo deve avançar apenas 1,5%, gerando um excedente de cerca de 15 milhões de toneladas.
“Esse descompasso gera um excedente significativo, elevando estoques e limitando qualquer reação consistente de preços”, afirma Oliveira, ressaltando que as tensões no Mar Negro tiveram impacto secundário diante da oferta abundante.
No Brasil, mesmo com redução de área plantada, a alta produtividade compensou a retração, mantendo a oferta em patamar confortável. O Paraná colheu cerca de 2,7 milhões de toneladas de trigo de boa qualidade, mas continua deficitário frente à capacidade de moagem de 3,85 milhões de toneladas, o que mantém a necessidade de importações.
Regiões do Cerrado, como Minas Gerais e Goiás, além de São Paulo, registraram safras tecnicamente muito positivas, reforçando a estabilidade da oferta nacional.
A valorização do dólar acima de R$ 5,50 ao longo da semana trouxe algum alívio ao setor, tornando o trigo nacional mais competitivo e podendo reduzir a entrada do produto argentino nos próximos meses.
Apesar disso, o analista destaca que o quadro estrutural segue pressionado:
“Os leilões da Conab têm efeito paliativo — mais financeiro do que estrutural — e não alteram os fundamentos de oferta elevada e demanda limitada”, conclui Oliveira.
Os leilões de PEP e Pepro da Conab, programados para o dia 22 de dezembro, devem apoiar o escoamento de cerca de 198,53 mil toneladas de trigo da safra 2025/26 nos estados do Sul. Caso os volumes não sejam totalmente negociados, o saldo deverá ser reofertado no dia seguinte.
Fonte: Portal do Agronegócio
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