Publicado em: 20/08/2025 às 11:05hs
A combinação de superoferta interna, câmbio desfavorável e retração no consumo tem mantido os preços do arroz em queda no Brasil. Segundo levantamentos do Cepea e entidades do setor, o cenário já preocupa produtores e indústrias, que veem risco para a próxima safra caso não haja medidas de equilíbrio na cadeia produtiva.
De acordo com o Cepea, o arroz em casca segue em trajetória de leve queda. A pressão sobre as cotações vem das baixas externas, da valorização do real frente ao dólar — que reduz a competitividade nas exportações — e da menor liquidez no mercado interno.
As indústrias relatam dificuldades para comercializar o arroz beneficiado, o que limita a disposição de pagar mais pelo grão em casca. Parte das empresas reduziu os preços de compra, enquanto outras optaram por trabalhar com os estoques já disponíveis. Do lado dos produtores, a estratégia varia conforme a região: alguns mantêm cautela nas vendas, enquanto outros liberam novos lotes para gerar caixa e se preparar para a safra 2025/26.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a produção brasileira atingiu 12,3 milhões de toneladas em 2024, acima da estimativa inicial de 11,7 milhões. Situação semelhante se repete no Mercosul: segundo a consultoria AgroDados, a produção conjunta de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai superou 17 milhões de toneladas, frente à previsão de 16,5 milhões.
Esse cenário gerou estoques elevados em toda a cadeia, agravados pela queda no consumo interno, sobretudo entre as novas gerações, o que amplia o desequilíbrio entre oferta e demanda.
A reabertura das exportações da Índia e a maior competitividade dos Estados Unidos no mercado global intensificaram os desafios para o arroz brasileiro. Com o câmbio desfavorável, o Brasil reduziu seus embarques externos, o que elevou a disponibilidade doméstica e pressionou ainda mais os preços, que chegaram a recuar para cerca de R$ 60 por saca de 50 quilos em algumas semanas.
A semeadura da próxima safra de arroz está prevista para começar entre agosto e setembro, estendendo-se até outubro em algumas regiões. No entanto, o atual cenário pode desestimular investimentos por parte dos produtores.
Segundo o presidente do SindArroz-SC, Walmir Rampinelli, os agricultores devem buscar formas de reduzir custos, especialmente no uso de insumos como adubo e ureia, o que pode comprometer a produtividade e a qualidade do grão. “Santa Catarina poderá manter sua produtividade, desde que o clima ajude. Mas, diante dos preços baixos, os produtores devem se ajustar para evitar maiores perdas”, destaca.
As indústrias orizícolas também enfrentam dificuldades diante de margens reduzidas e altos estoques. Para o SindArroz-SC, o equilíbrio de preços é essencial para que produtores, indústrias e consumidores possam atravessar esse momento. “Queremos que o arroz mantenha um preço justo, sem grandes oscilações. Hoje, as indústrias trabalham com margens apertadas, mas acreditamos em recuperação”, reforça Rampinelli.
Para o presidente da Abiarroz, Renato Franzner, há duas alternativas para tentar equilibrar o mercado: ampliar as exportações ou criar estoques reguladores.
No primeiro caso, o programa Brazilian Rice, em parceria com a ApexBrasil, já abriu novos mercados na América Latina e negocia oportunidades na África e no Oriente Médio. A segunda alternativa seria a formação de estoques públicos pela Conab, que poderiam ser usados em períodos de frustração de safra.
Além disso, a Abiarroz prepara para setembro o lançamento de uma campanha nacional de incentivo ao consumo de arroz, com foco nas novas gerações. A ação pretende valorizar os aspectos culturais, nutricionais e sociais do grão e contribuir para a sustentabilidade da cadeia produtiva.
Fonte: Portal do Agronegócio
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