Algodão

Produtor de algodão do Brasil vê risco de queda maior na área e vendas adiantadas

A área plantada com algodão no Brasil em 2020/21 pode ter redução de 15% ante o ciclo anterior, em meio a preocupações com atraso na safra de soja pelo clima irregular, disseram integrantes da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) nesta terça-feira


Publicado em: 10/12/2020 às 20:00hs

Produtor de algodão do Brasil vê risco de queda maior na área e vendas adiantadas

Até setembro, antes do atraso no plantio de soja, que estreitou a janela climática ideal para a segunda safra de algodão em Mato Grosso (maior produtor brasileiro), a Abrapa via uma queda menor, de pouco mais de 10% na área plantada na comparação com a temporada 2019/20.

A jornalistas, o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, ponderou que ainda há incertezas sobre a opção do produtor diante do clima irregular, e que a associação terá um número mais claro sobre o tamanho da área plantada em janeiro.

Com o atraso da soja, que levou muitos em Mato Grosso a realizar replantio da oleaginosa, parte dos agricultores desistiu da pluma em 2020/21, uma vez que não haveria um período ideal para o desenvolvimento da lavoura na segunda safra, na qual o Estado planta quase a totalidade do seu algodão.

Por outro lado, ele admitiu que, uma vez que alguns produtores decidiram fazer algodão primeira safra em Mato Grosso --em áreas antes planejadas para a soja e que foram afetadas pela seca-- isso poderia limitar uma queda maior na área da pluma.

“É um fato que a gente considera, por isso que em meados de janeiro a gente já tenha esse número com maior exatidão... O produtor pode mudar a estratégia dele. Ele está neste exato momento nessa transição que pode trazer mudanças para a área”, disse Garbugio.

O Mato Grosso responde por quase 75% do plantio de algodão no Brasil, sendo seguido pela Bahia, com mais de 15%.

Sobre o impacto do clima irregular na produtividade, o presidente da Abrapa disse que ainda é cedo para comentar, uma vez que o plantio da safra está apenas começando.

Em 2019/20, o Brasil colheu um recorde de cerca de 3 milhões de toneladas da pluma. Anteriormente, a Abrapa chegou a apontar uma produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas em 2020/21, que poderia cair mais, se a expectativa de área menor se confirmar.

VENDAS ANTECIPADAS

Da safra total que o país pode colher em 2020/21, a Abrapa estimou que produtores brasileiros já comercializaram cerca de 50% do total, um nível adiantado ante os 40% da média histórica para esta época.

Sem considerar as questões climáticas, o Brasil --quarto produtor mundial de algodão e o segundo exportador, atrás apenas dos Estados Unidos-- já teria uma área menor de algodão em 2020/21 após o setor sofrer os impactos da pandemia.

Júlio Busato, que deverá ser o novo presidente da Abrapa a partir de janeiro, concordou durante a conferência com a imprensa que os preços tiveram uma recuperação mais forte em reais, mas avaliou que os produtores estão recebendo menos em dólar do que em 2018.

Ele disse ainda que a maior parte dos custos, incluindo fertilizantes e defensivos, é em dólar, o que adiciona cautela ao setor. “Se fosse olhar a matemática, os produtores teriam reduzido mais a área plantada, mas não podemos perder algumas coisas...”, afirmou ele, indicando que o Brasil está avançando nos mercados internacionais e não poderia deixar de atendê-los.

O Brasil saiu de uma situação de segundo maior importador de algodão em 1990 para a condição de segundo maior exportador nos últimos anos e almeja ser o primeiro em breve.

A produtividade média da pluma do Brasil é mais que o dobro da vista nos Estados Unidos, diante de ganhos obtidos por tecnologias e condições de clima e solo, disse a Abrapa.

Em três anos, o país dobrou sua produção da pluma, enquanto avança em programas de certificações de qualidade e sócio-ambientais.

Entre as iniciativas desenvolvidas está a rastreabilidade do algodão desde a fazenda, ao mesmo tempo em que o projeto Cotton Brazil busca focar em vendas para países asiáticos, que no momento compram a maior parte do produto brasileiro --só a China leva ao menos 35% das exportações do país.

Para isso, a Abrapa tem agora um escritório em Cingapura, enquanto conta com o apoio de embaixadas na Ásia para avançar em negócios.

Fonte: Reuters

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