Publicado em: 12/08/2019 às 10:00hs
Os anos 2000, por sua vez, foram marcados pela entrada de novos investidores no setor – especialmente por parte de grupos multinacionais –, e por mudanças institucionais e econômicas. Foi neste período, inclusive, que o Cepea iniciou o levantamento de preços da raiz, da fécula e de farinha de mandioca, passando a ser a principal fonte de informações para a cadeia produtiva. E desde 2004, o Cepea realiza o “Censo da Indústria de fécula no Brasil”, que se tornou referência para a tomada de decisão por parte de agentes envolvidos tanto no mercado de mandioca e como na formulação de políticas públicas.
Em função do advento da industrialização de mandioca dos anos 2000, o parque industrial brasileiro é um dos mais modernos do mundo. A capacidade instalada no País é para a moagem de 21,4 mil toneladas de raízes por dia, concentrada no Paraná, em Mato Grosso do Sul e no estado de São Paulo. Nos últimos anos, até foram observadas instalações de firmas em outros estados, mas estas foram desativadas, seja pela falta de matéria-prima ou por aspectos relacionados ao mercado.
Em 2018, foram produzidas 536,6 mil toneladas de fécula de mandioca Brasil, tendo expressivo avanço de 27% frente ao ano anterior – que, ressalta-se, foi a menor desde 2004. Este ponto evidencia um dos grandes entraves na indústria, a ociosidade industrial, que é resultado das características da produção agrícola e também da ausência de arranjos institucionais.
Com a capacidade instalada atual, considerando-se - um total de 280 dias trabalhos no ano e um rendimento médio de amido de 26%, seria perfeitamente possível se produzir um volume superior a 1,5 milhão de toneladas. Para atingir esse resultado, contudo, é necessário a busca por relações contratuais que venham a garantir o abastecimento das firmas.
Mesmo com os entraves que se observam no setor, a indústria de fécula brasileira tem mantido o número de empregos diretos, que, em 2018, ficou acima de 3,4 mil, segundo dados do Cepea. Além disso, o Valor Bruto da Produção (VBP) desta cadeia de produção ficou acima de R$ 1,3 bilhão no mesmo ano, crescimento de 8% frente a 2017.
As fortes sazonalidades na produção e consequentemente no preço da mandioca e dos derivados tiveram efeitos sobre o consumo nos últimos anos, especialmente com a migração de alguns mercados para o amido de milho – que são os casos das indústrias de papel e de papelão e do setor têxtil. Porém, a quantidade consumida se consolidou na indústria de massas, biscoito e panificação, nos frigoríficos, atacadistas e, mais recentemente, na indústria de tapioca. Um ponto de destaque é que, em 2018, mais empresas comercializaram o derivado por meio de contratos.
Os dados apresentados indicam que têm sido observadas mudanças na dinâmica da indústria de fécula e também no consumo do derivado. O setor de fécula ainda tem grande potencial, mas, para que cresça ainda mais, é preciso minimizar as sazonalidades de produção e de preços e tentar impulsionar as exportações – este último pode ter suporte diante do recente acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
CARDOSO, C.E.L.; SOUZA, J.S. Aspectos agro-econômicos da cultura da mandioca: potencialidades e limitações. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 1999. 27 p. (Embrapa Mandioca e Fruticultura. Documentos, 86)
Fábio Isaías Felipe - Pesquisador do Cepea
Fonte: Cepea
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