Assuntos Jurídicos

Legislação flexibilizará regras para pequenas agroindústrias paulistas

A nova lei do Estado de São Paulo, que contempla a fabricação – artesanal ou não – de produtos como queijos, mel e embutidos, visa desburocratizar a fiscalização, mas alega manter a qualidade


Publicado em: 18/01/2018 às 10:40hs

Legislação flexibilizará regras para pequenas agroindústrias paulistas

Uma nova legislação para agroindústrias de pequeno porte em São Paulo deverá ser publicada pelo governo do Estado no primeiro semestre deste ano. A intenção é flexibilizar as regras, mantendo exigências que garantam a qualidade dos produtos.

A legislação contempla a produção – artesanal ou não – de produtos como queijos, mel e embutidos, entre outros, no bojo do sistema de inspeção do Estado (SISP). “A proposta é desburocratizar os procedimentos, compreendendo a necessidade dos produtores, mas mantendo a rigidez no que diz respeito à qualidade dos produtos”, afirma o secretário da Agricultura do Estado, Arnaldo Jardim. “Queremos convidar todos a entrar na legalidade, porque, como está hoje, o produtor desiste ou fica ilegal”, diz.

Entre os pontos que devem ser alterados estão itens que reconhecem as especificidades da produção de pequenas agroindústrias, como a permissão de uso de leite cru na elaboração de queijos ou a maturação dos produtos em prateleiras de madeira.

“São coisas que não se consegue fazer em uma grande indústria com segurança e qualidade”, argumenta o secretário executivo das câmaras setoriais da secretaria da agricultura, Alberto Amorim.

Para ele, o ajuste na legislação é necessário pois a lei atual não contempla a agroindústria intermediária, apenas os muito pequenos – de produção caseira – e as grandes agroindústrias. “A maior parte dos produtores de São Paulo não se enquadra nestas categorias”, afirma. Com as alterações, ele acredita que será possível a regularização de produtores que estão à margem da lei. “Isso é importante para que eles possam ampliar a participação nesse mercado, elevar a renda e permanecer no campo”, salienta.

Primeiro será publicada uma resolução com as alterações e, na sequência, um decreto com as novas regras. Segundo ele, o texto deverá ser publicado ainda no primeiro semestre do ano.

Para a diretora da Associação dos Estabelecimentos com SISP, Andrea Resenfeld, a principal vantagem da mudança é a exigência de uma estrutura mais enxuta para essas empresas, o que demandará menos gasto para adequação à lei. “Também acredito que a exigência de um auto-controle na produção será importante para assegurar a qualidade dos produtos”, salienta a diretora.

Ela ainda avalia como positiva a possibilidade de esses estabelecimentos serem considerados multifuncionais , o que significa que um apicultor poderá também envasar seu produto ou fazer uma geléia, por exemplo. “Isso amplia as possibilidades de aumento de renda para a propriedade.” Ela calcula quer o Estado tenha 400 estabelecimentos apenas no setor lácteo.

Ajuste

Entre as agroindústrias que não conseguiram se adequar ao sistema atual de inspeção do Estado está a Pardinho Artesanal, que utiliza leite cru para a elaboração de queijos. “Buscamos direto a chancela da inspeção federal porque a do Estado não permite o uso de leite cru”, afirma a veterinária Vanessa Alcolea, responsável pela produção.

A saída para a agroindústria foi atender às exigências do Sistema de Inspeção Federal (SIF). “A lei (estadual) não avançou no mesmo ritmo que o segmento”, avalia Vanessa.

Conforme o mestre queijeiro da Fazenda Santa Luzia, Martin Breuer, as mudanças propostas são positivas. “No médio prazo, a nova legislação terá um efeito positivo, pois dará um viés mais empreendedor para a produção”, salienta.

Ele espera que, com a melhora da economia e com a definição sobre as regras, mais produtores estarão dispostos a fazer os ajustes necessários para atuar de acordo com a legislação ou mesmo para ingressar na atividade.

A fazenda, situada em Itapetininga, produz 18 tipos de queijo desde 2001 e conta com um rebanho de 150 vacas da raça Simental.