Bovinos de Corte

Lama: um dos principais desafios de confinar no período das águas

Em 2017 os valores iniciaram mais baixos comparados com 2016, ou seja, a ciclicidade que habitualmente os pecuaristas estavam acostumados hoje se tornou mais complexa


Publicado em: 11/12/2018 às 10:00hs

Lama: um dos principais desafios de confinar no período das águas

O Confinamento ainda é visto como um sistema produtivo utilizado para engorda de animais no período da seca, onde normalmente ocorre escassez quantitativa e qualitativa de forragens, forçando os produtores a intensificar o sistema para evitar perdas de peso e atrasos no período de abate dos animais. Outro fator importante de confinar seria a visão de alguns produtores em obter melhores preços de venda no período de transição seca – águas. No entanto, os últimos anos mostram que o período de maior valorização das arrobas vem sendo cada vez mais incerto, anos com preços mais valorizados em janeiro e fevereiro e outros de agosto a outubro. Em 2017 os valores iniciaram mais baixos comparados com 2016, ou seja, a ciclicidade que habitualmente os pecuaristas estavam acostumados hoje se tornou mais complexa.

Período das águas: oportunidades

A oportunidade de confinar no período das águas está ligada a alguns fatores, tais como: diluir o custo fixo das estruturas do confinamento; reduzir a pressão de compra do boi magro no período; diminuir a pressão de compra de alguns insumos com boa oferta no período; otimizar animais de qualidade com peso de desmama elevado na saída da seca; e para atender mercados exigentes e que necessitam de entrega de carne de qualidade regularmente o ano todo.

Confinar nas águas requer alguns cuidados e ações para superar os desafios que normalmente acontecem, tais como a lama, fornecimentos e desperdícios de dietas, armazenamentos e monitoramento dos insumos e a ronda sanitária.

Considerando que a estação chuvosa ocorre no período do verão, quando temos temperaturas elevadas, a formação de lama além de dificultar a locomoção e os acessos dos animais aos cochos e bebedouros, pode contribuir para o aumento de moscas e prejudicar a dissipação de calor pelo animal, podendo ocasionar estresse térmico em determinadas regiões. Os desafios de confinar na estação chuvosa não são pequenos, mais podem ser contornados e minimizados com boas práticas.

O desempenho e a eficiência dos animais dependem muito das dietas consumidas, tanto qualitativamente como quantitativamente, e uma relação que sempre é preocupante nesse período é a da dieta ofertada versus dieta consumida, em outras palavras ter a certeza de que o fornecido seja o mais próximo possível do que foi efetivamente consumido pelos animais. Os desperdícios de dietas com as chuvas fortes podem ser maiores, ou seja, parte da dieta contabilizada no custo alimentar na realidade não foi ingerida e consequentemente convertida em carcaça. Para minimizar o impacto de desperdício uma importante ação é adotar o manejo de cocho limpo, onde a relação de ofertado vs. consumido é extremamente ajustada. Confinamentos que possuem o manejo de cocho bem implantado certamente estarão mais preparados para a engorda no período das chuvas.

Do ponto de vista de desempenho zootécnico podemos colocar a camada de lama como um dos principais fatores de impacto, ou seja, piquetes que apresentam grandes desafios:

Estudo realizado na Universidade do Estado da Dakota do Sul, nos Estados Unidos, determinou-se que em situações de lama com profundidade correspondente a 10,2 – 20,3 cm, o ganho de peso e a eficiência alimentar foram reduzidos em 14 e 12-13 %, respectivamente. Quando a profundidade da lama aumentou para 30,5 – 61,0 cm, a piora no ganho passou para 25 % e na conversão de 20-25 %. Existem alguns fatores de ajuste para o consumo em função da quantidade de lama presente nos currais, como por exemplo reduções de 15 e 30 % na ingestão quando a presença de lama corresponde a 10-20 cm ou 30 – 60 cm, respectivamente.

A declividade dos piquetes é um ponto importante para permitir adequado escoamento da água, sendo recomendado de 3-5 %. Essa declividade estará diretamente ligada ao espaçamento por animal no piquete, que certamente deve ser aumentada em relação ao período da seca. A recomendação é para que seja no mínimo 25m² por animal, podendo ser aumentada conforme condições de drenagem de cada confinamento. Importante também que se tenha uma faixa de concreto de aproximadamente 2,5m de largura para evitar formação de lama próximo ao cocho, calçada importante também nos bebedouros. Durante o planejamento para as águas deve-se visar a utilização das melhores instalações, ou seja, realizar investimentos em linhas/piquetes que realmente irão proporcionar melhores condições para os animais.

Outra possível ação para os piquetes que serão utilizados são as construções de “murundus”, montes de terra no meio do piquete. Estes são utilizados pelos animais principalmente para deitar, tendo assim melhora na eficiência de ruminação. A prática de limpeza dos piquetes no final do período da seca, antes das chuvas, retirando o esterco e, se necessário utilizando cascalho, também minimiza o problema de estrutura com as chuvas.

Práticas comuns no período das águas

Para o período das águas são indicados ajustes nos horários e frequência de tratos, dietas com maiores níveis nutricionais para atender a demanda animal mesmo com menores consumos e manutenções frequentes das ruas de trato para que estejam adequadas para o fluxo de veículos e fornecimento das dietas. Estas são práticas comuns mais que merecem atenção constantemente para minimizar os desafios de confinar nesta época.

É extremamente importante que durante o período das águas sejam realizadas avalições das estruturas e dos animais. Os piquetes podem ser classificados em três níveis de acordo com a camada de lama: Bom (lama < 5cm); Médio (lama de 5 – 10cm); Reprovado (lama > 10cm). Em relação aos animais podemos classificar em quatro níveis: Nível 1 (animais limpos com presença de lama nos pés e acima dos cascos); Nível 2 (lama nas patas acima do jarrete com flancos e barriga limpos); Nível 3: (barriga com presença de torrões de lama e flancos limpos; Nível 4: (barriga e flancos com torrões de lama).

As mensurações rotineiras ajudam no monitoramento do real impacto que cada lote pode sofrer, visto que as perdas de desempenho têm como um dos grandes fatores as condições dos piquetes, aliado ao tempo em que os animais ficam expostos ao desafio. Mensurações semanais irão indicar a somatória do tempo de permanência, condições das estruturas e dos animais. Em confinamentos com até 20 piquetes em uso é recomendado realizar a avaliação em 100% da estrutura, unidades de 21-50 piquetes avaliar no mínimo 40%, acima de 50 piquetes avaliar no mínimo 20%.

Certamente confinar no período das águas exige um bom planejamento e tomadas de decisões estratégicas, sempre visando proporcionar melhores condições aos animais, redução no desperdício de ração e potencializar os índices técnicos e econômicos. Importante destacar que cada estrutura de negócio tem sua realidade e habilidades para potencializar seus lucros, devendo ser analisada de forma criteriosa e assim tomar decisões precisas e mais assertivas.

A decisão de confinar no período das águas deve partir de um bom planejamento técnico e econômico, buscando os benefícios que o período pode trazer para potencializar a produção. A Cargill Nutrição Animal – tem à sua disposição técnicos capacitados e prontos para realizar atendimentos especializados e, dessa maneira, potencializar o lucro de cada confinador/investidor.

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Felipe Bortolotto é coordenador Técnico Comercial da Cargill Nutrição Animal – Nutron.
Andre Brichi é assistente Técnico Comercial da Cargill Nutrição Animal – Nutron.

Fonte: Cargill

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