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INTERNACIONAL: Guerra comercial acelera freada global

A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump vem assustando o investimento em empresas


Publicado em: 24/06/2019 às 17:00hs

INTERNACIONAL: Guerra comercial acelera freada global

A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump vem assustando o investimento em empresas, a confiança e os fluxos comerciais em todo o mundo, uma situação que líderes e executivos empresariais estrangeiros dizem que está agravando a desaceleração econômica global que já vinha sendo sentida. Uma recente atenuação da atividade na Europa, na Austrália e em outras regiões coincidiu com a intensificação da disputa comercial de Trump com a China e outros parceiros. Os economistas alertam que uma nova escalada dessa guerra comercial, com a imposição de novas tarifas sobre produtos chineses ou taxas cobradas sobras autos estrangeiros, pode levar o crescimento a uma quase paralisação.

Encruzilhada - “Com estas tensões comerciais, a economia global está perto de uma encruzilhada”, disse Ayhan Kose, diretor do Prospectus Group do Banco Mundial. O enfraquecimento da economia na China, motivado em parte pelas consequências da guerra comercial, se propagou para a Alemanha, Austrália e outros países, elevando os custos da cadeia de produção, arrefecendo as exportações e preocupando líderes econômicos e políticos.

BCE - Na terça-feira (18/06), Mario Draghi, presidente do BCE – Banco Central Europeu, afirmou que a instituição está pronta para injetar um novo estímulo na economia da zona do euro para combater o desaquecimento econômico.

Alemanha - A guerra comercial de Trump atingiu mais duramente a Alemanha, a maior economia da Europa, que aguarda uma decisão dos Estados Unidos quanto a uma imposição de tarifas sobre as importações de automóveis. O nervosismo levou a um declínio nos gastos e no humor das empresas. No geral a produção industrial alemã contraiu fortemente em abril, registrando uma queda de 1,9% no mês contrariamente ao 0,5% que os analistas esperavam.

Riscos - “Os riscos considerados importantes durante todo o ano passado, em particular os fatores geopolíticos, a ameaça crescente do protecionismo e as vulnerabilidades dos mercados emergentes, não dissiparam”, afirmou Draghi em um discurso na terça-feira. “E como esses riscos vêm se prolongando eles pesam nas exportações e em particular no setor de manufatura”.

Críticas - No Twitter, Trump criticou duramente o presidente do BCE, acusando-o de tentar desvalorizar a moeda europeia para dar impulso ao comércio global tornando os produtos europeus mais baratos para compra no exterior. “Mario Draghi anunciou que mais estímulos serão aplicados, e isto imediatamente fez cair o euro face ao dólar, o que torna muito mais fácil para eles competirem desonestamente com os Estados Unidos. Eles vêm adotando essa tática há anos, junto com a China e outros”.

Abordagem - A abordagem agressiva do presidente com relação aos parceiros comerciais é adotada quando nações desenvolvidas e em desenvolvimento começam a recuar da rápida globalização que dominou duas décadas de política econômica. Os fluxos globais de investimento estrangeiro direto caíram 13% no ano passado, chegando ao seu mais baixo patamar desde a crise financeira, segundo estudo divulgado na semana passada pela Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas. Foi o terceiro declínio anual consecutivo e as autoridades culpam as multinacionais que retornaram seu dinheiro para os Estados Unidos após a reforma tributária de Trump em 2017. Segundo elas, as tensões comerciais colocam em risco uma recuperação do crescimento dos investimentos este ano.

Punição - Trump tem feito uso constante das tarifas de produtos para punir parceiros comerciais como a China, Europa, Canadá e México que, segundo ele, destruíram os empregos americanos ao inundarem os Estados Unidos de produtos baratos e erigirem barreiras econômicas injustas.

Prova de Trump - O secretário do Tesouro Steven Mnuchin, em entrevista no início deste mês, afirmou que “de nenhum modo a desaceleração que se está vendo em partes do mundo são resultado das tensões comerciais no momento”. E observou que o crescimento na Ásia e na Europa já vinha diminuindo antes de as conversações comerciais entre Estados Unidos e China entrarem em colapso no início de maio.

Desaquecimento - Trump tem citado repetidamente o desaquecimento observado na China como prova de que sua guerra comercial está dando certo, e disse a jornalistas na semana passada que os Estados Unidos “aumentaram em US$ 14 trilhões seu valor líquido”. “E a China perdeu provavelmente US$ 20 trilhões. É uma tremenda diferença”, disse ele.

Outras economias - Mas uma desaceleração da segunda maior economia do mundo, profundamente envolvida nas redes comerciais globais, afeta outras economias. “A China é a maior nação comercial do mundo”, disse Jacob Funk Kirkegaard, membro do Peterson Institute em Washington. “A ideia de que é possível desacelerar o motor de crescimento global sem afetar outros países não é verossímil”. As multinacionais já estão mudando as cadeias de produção e retardando as despesas de capital em resposta às tarifas de Trump sobre produtos chineses e metais estrangeiros.

Perda de negócios - Tom Linebarger, chairman e diretor executivo da fabricante de motores diesel Cummins, disse na semana passada que sua empresa perdeu negócios na China por causa da guerra comercial.

Mudança de práticas - A companhia com sede em Indiana está mudando suas práticas de terceirização para minimizar a exposição à China e Linegarger afirmou que os custos resultantes das tarifas agora já superaram os benefícios dos cortes de impostos para as empresas aprovados por Trump em 2017.

Manufatura - Uma pesquisa do Federal Reserve de Nova York indica que o setor de manufatura registrou sua pior queda já vista, o que, para os economistas, foi por culpa das ameaças do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, no início do mês, de estabelecer tarifas sobre as importações mexicanas para punir o país por não conter a imigração ilegal. Embora tais tarifas tenham sido evitadas, as chances de o presidente adotar medida similar contra qualquer outro parceiro comercial, chamam a atenção de empresas globais e líderes estrangeiros.

Impacto mais forte - A guerra comercial já tem tido um impacto mais forte nas contratações e investimentos nos Estados Unidos do que muitos analistas pensam, escreveu o Deutsche Bank numa nota na segunda-feira (17/06). Várias medidas de incerteza política, compiladas pelos economistas Scott R. Baker, da Northwestern University, Nicholas Bloom da Stanford University e Steven J. Davis da Universidade de Chicago, dispararam com a intensificação das tensões.

Conversa - Na terça-feira (18/06) Trump afirmou no Twitter ter conversado por telefone com o presidente da China, Xi Jinping, e que ambos terão uma reunião “estendida” na próxima semana durante a reunião do G-20 no Japão. Esses comentários devem acalmar os temores, que aumentaram depois de os Estados Unidos acusarem a China de romper um acordo comercial no mês passado e Trump elevar as tarifas para US$ 200 bilhões de produtos chineses como punição.

Valor adicional - Mas nenhum acordo está assegurado e Trump ameaçou novas tarifas, desta vez sobre produtos chineses num valor adicional de US$ 300 bilhões, no caso de Xi não concordar com o acordo original.

Imposição - O presidente norte-americano já impôs taxas sobre produtos chineses num total de US$ 250 bilhões e atingiu parceiros comerciais com tarifas sobre aço e alumínio, ameaçando também taxar automóveis estrangeiros vindos da Europa e do Japão.

Desaceleração - O setor de manufatura, que é especialmente vulnerável ao comércio, vem desacelerando nas economias avançadas mesmo com os setores de serviços resistindo. As estimativas das fábricas caíram em toda a Europa e estão oscilando no Japão. Nos Estados Unidos, em maio o índice do Institute for Supply Management caiu para seu nível mais baixo durante a presidência de Trump.

Queda estrutural - As políticas comerciais não são as únicas responsáveis pela queda da produção. Uma queda estrutural, em curso, do crescimento chinês e as tensões decorrentes da saída da Grã-Bretanha da União Europeia, também são fatores contribuindo para a queda. Se as próximas negociações não terminarem com uma solução, os Estados Unidos e suas companhias também pagarão o preço, foi o alerta dado por líderes do grupo de lobby Business Roundtable, com sede em Washington, na semana passada.

Maior risco - “O maior risco para o crescimento atualmente será o comércio desabar”, disse Jamie Dimon, diretor executivo do JPMorgan Chase.

Fonte: The New York Times / O Estado de S.Paulo

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