Café

Crescimento do consumo doméstico de café tende a arrefecer

As pessoas se enganam ao dizer que o preço baixo favorece a indústria


Publicado em: 23/04/2019 às 12:20hs

Crescimento do consumo doméstico de café tende a arrefecer

Quando um elo da cadeia está em dificuldade, prejudica toda a cadeia. Isso para a indústria não é bom, pois o produtor se descapitaliza e não tem como investir na lavoura.

O consumo do café no Brasil não deverá repetir neste ano o ritmo de expansão de 2018 em decorrência de um cenário econômico de menor crescimento, estimou ontem o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Ricardo Silveira. "A expectativa é de um crescimento moderado. Acho que será um pouco menos que no ano passado, mas vamos torcer para que fique próximo", afirmou o dirigente durante a cerimônia de premiação do Concurso Nacional Abic de Qualidade, em São Paulo.

Entre novembro de 2017 e outubro de 2018, o volume consumido no país alcançou 21 milhões de sacas de 60 quilos, 4,8% mais que entre novembro de 2016 e outubro de 2017. "Os bancos estão revendo a perspectiva de crescimento da economia e isso vai mexer com o mercado do café", acrescentou. A perspectiva é que os preços ao consumidor também não repitam a alta de mais de 30% registrada no ano passado. "Se o preço cai para o produtor, cai na gôndola também, embora não na mesma proporção", disse Silveira.

Ele destacou que, ainda que a matéria-prima esteja mais barata, os impostos são elevados – representam em torno de 36% do preço na prateleira- e os insumos, como embalagens, subiram muito além da inflação. Conforme o presidente da Abic, o café em si representa 45%.

"As pessoas se enganam ao dizer que o preço baixo favorece a indústria. Quando um elo da cadeia está em dificuldade, prejudica toda a cadeia. Isso para a indústria não é bom, pois o produtor se descapitaliza e não tem como investir na lavoura. E isso é um tiro no pé". Mas, para Silveira, o cafeicultor brasileiro sofre menos que o de países concorrentes por ter melhores condições de produção, como a colheita mecanizada. "Quem é estruturado e tem produtividade consegue passar por isso", disse.

Para a safra 2019/20 – a colheita da espécie conilon começará a ganhar força neste mês, Silveira projeta qualidade geral semelhante à obtida em 2018/19. "Será uma safra de excelente qualidade, assim como foi a anterior". Na semana passada, o IBGE estimou a produção brasileira de café em 53,9 milhões de sacas de 60 quilos, redução de 10% em relação a 2018 por se tratar de um ano de bienalidade negativa para o arábica.

No evento da entidade ontem, foram anunciados os campeões do 15º Concurso Nacional Abic, Melhores Cafés do Brasil. O produtor Joel Marques de Oliveira, da Fazenda Brejos dos Aguiar, de Ibicoara (BA), foi o vencedor, com 8,63 pontos. O micro lote de arábica (catuaí) de Oliveira foi leiloado por R$ 4 mil a saca e adquirido por 3corações e Excelsior.

A propriedade tem 30 hectares, metade destinada ao café, com área irrigada. "Chegamos à conclusão que tínhamos que produzir cafés de qualidade há mais de dez anos, e desde então perseguimos isso", afirmou Paulo Azevedo, que mantém uma parceria com Oliveira na produção. "Os preços estão numa crise que não se sabe aonde vai parar. A única saída é produzir café de qualidade", disse Azevedo, que espera conseguir ágio superior pelo produto campeão no mercado – que teve uma produção total de 20 sacas, das quais duas foram vendidas em leilão em fevereiro. Na safra passada, a saca do café especial foi vendida a R$ 600, ante R$ 400 pago pelo café "commodity".

É a primeira vez que a propriedade leva o primeiro lugar no concurso. "Escolhemos os grãos mais maduros com colheita manual", afirmou Oliveira, que é responsável pelos trabalhos no campo com a esposa e as filhas. Os lotes vencedores são adquiridos com lance mínimo de 70% acima do preço na Bovespa na abertura do pregão.

Fonte: Revista Cafeicultura

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