Saúde Animal

Como as boas práticas de manejo impactam na IATF

Sabemos que o manejo da IATF deve ser bem conduzido, com o intuito de maximizar as chances de sucesso durante as etapas realizadas na estação reprodutiva


Publicado em: 05/08/2019 às 13:00hs

Como as boas práticas de manejo impactam na IATF

A adoção da técnica de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) e suas vantagens já são percebidas pela maioria das propriedades brasileiras, em razão do impacto positivo sobre a produção de animais superiores e, consequentemente, pela sua maior valorização no mercado consumidor.

Sabemos que o manejo da IATF deve ser bem conduzido, com o intuito de maximizar as chances de sucesso durante as etapas realizadas na estação reprodutiva. Uma equipe bem treinada promove um trabalho executado corretamente e traz benefícios ao processo. Entretanto, ainda nos deparamos com produtores insatisfeitos com os resultados obtidos e, ao avaliar de perto estas propriedades, é possível identificar, em sua maioria, falhas no manejo e condições de má utilização da técnica, ocasionando resultados abaixo da média. Diante deste cenário é importante ressaltar as vantagens na adoção das “boas práticas” relacionadas ao manejo da IATF.

O desempenho reprodutivo de um rebanho é resultado da ação conjunta de diversos fatores, como manejo nutricional (em especial score de condição corporal), sanidade dos animais, mão de obra envolvida, época do ano, sêmen e protocolos utilizados, horário de execução da IATF e o manejo ao qual os animais são submetidos ao longo do ano, proporcionando tranquilidade ou agressividade ao rebanho.

Ao elaborar o planejamento estratégico dos investimentos utilizados para intensificar a reprodução do rebanho, é preciso ter em mente o ciclo produtivo da propriedade, em razão da forte ligação dos sistemas de produção animal. O investimento em genética gera ganhos diretos na produção, porém somente se concretizarão se todas as exigências forem atendidas, como sanidade, manejo reprodutivo e nutricional. Por outro lado, atendidas as exigências, são obtidas grandes possibilidades de ganho em escala, levando a novos investimentos em genética melhoradora. Assim fecha-se o ciclo, que pode ser vicioso se não houver êxito nos ganhos em produção ou virtuoso se atingir os ganhos, estimulando novos investimentos.

Prioridades nutricionais da vaca

A nutrição é fator determinante na atividade reprodutiva em vacas de corte, influenciando diretamente no retorno da atividade ovariana durante o pós-parto. Quando em condições de baixa disponibilidade de alimentos, a distribuição dos nutrientes ocorre por ordem de prioridade. Sendo assim, o organismo animal determina uma ordem no uso da energia disponível para as diferentes funções orgânicas. Nesta ordem de importância, a ocorrência de ciclos estrais e o início da gestação são funções menos prioritárias. Desta forma, as funções reprodutivas só serão ativadas quando o balanço entre quantidade e qualidade da dieta, reserva de nutrientes, demanda para o crescimento, metabolismo e outras funções forem atendidas.

Planejamento da IATF

O planejamento da IATF tem início no período pré-parto para poder atender as exigências nutricionais das fêmeas gestantes, preparando-as para o parto. Em seguida, após o parto, inicia-se a formação dos lotes que serão trabalhados durante a estação de monta.

Costuma-se preconizar que o lote ideal para o manejo da IATF deve girar em torno de 100 a 120 fêmeas, entretanto, a quantidade de animais pode variar conforme o manejo da propriedade. Vale reforçar que dentre todas as variáveis que influenciam no resultado da IATF, a nutrição é, sem dúvida, a de maior impacto e relevância. Deste modo, a formação dos lotes deverá ocorrer de acordo com a estrutura e tamanho dos pastos da fazenda, perfil de trabalho, limitação da mão de obra etc. Outro ponto importante na formação dos lotes está relacionado à segregação de acordo com a categoria animal, ou seja, o ideal é termos lotes de vacas primíparas e multíparas separados, de preferência os melhores pastos para as primíparas, para que as necessidades específicas e suas exigências nutricionais sejam plenamente atendidas.

À medida em que as vacas vão parindo, elas são transferidas da maternidade até o pasto, onde permanecerão durante a estação de monta. Após o parto, inicia-se o processo de recuperação do aparelho reprodutivo da fêmea, até que esteja em condições de receber uma nova gestação. Esta fase é conhecida como puerpério, e ocorre num prazo de aproximadamente 45 dias. Por este motivo, o início do programa de IATF normalmente ocorre 40 dias após o parto da última vaca que formou este lote. O programa reprodutivo estabelecido deve ser determinado previamente entre os gestores e a equipe técnica, de acordo com o perfil de trabalho da fazenda.

Quando o lote estiver pronto para iniciar o trabalho de IATF, devemos então colocar em prática o que foi previamente planejado. O primeiro passo é repassar as orientações gerais para a equipe de execução, explicando de maneira simples e objetiva como os trabalhos deverão ser conduzidos, ressaltando a importância de um manejo calmo e tranquilo. É importante respeitar os horários pré-estabelecidos em cada manejo, assim como a aplicação correta dos fármacos, respeitando as dosagens recomendadas em bula ou de acordo com a orientação de um médico-veterinário. Deve-se seguir um calendário com a programação dos lotes que serão trabalhados, em seus respectivos dias e horários e é necessário que o responsável pela equipe identifique os colaboradores mais qualificados e estabeleça as funções e responsabilidades de cada um no processo, mantendo todos os envolvidos cientes do objetivo comum. Neste momento, não poderá haver dúvidas.

O histórico de resultados é um ponto de avaliação muito importante neste momento para se corrigir erros e ajustes em busca de melhorias no processo. Vale lembrar que a maioria dos protocolos reprodutivos disponíveis atualmente no mercado funciona bem, por isso o sucesso pode estar nos detalhes, como por exemplo, um ajuste na dosagem ou o momento de aplicação do fármaco, de acordo com a necessidade da categoria animal ou lote tratado. Na manipulação e aplicação de medicamentos veterinários, recomenda-se a utilização de luvas descartáveis. Organizar os materiais que serão utilizados em cada manejo, dar atenção especial à higiene e limpeza dos equipamentos e instalações. Manter um estoque mínimo de produtos veterinários, evitando surpresas e pedidos de urgência, além de avaliar periodicamente o nível de nitrogênio do botijão de armazenamento de sêmen.

Observação adicional:

Faça um check-list de materiais e produtos necessários para cada dia de manejo a ser realizado, para que nada falte no momento da realização do manejo. Em algumas propriedades, o estoque fica muito longe do curral de manejo, e se algum produto ou material for esquecido, o manejo será prejudicado.

Considerações importantes em cada etapa de execução do Protocolo Reprodutivo:

Início do protocolo – Dia 0:

• Desinfecção prévia do aplicador que será utilizado e higienização depois de cada animal tratado. O ideal é trabalhar com mais de um aplicador;
• Identificar os animais por meio de brincos ou marcação a fogo. Se a propriedade não trabalha com identificação individual, aconselhamos utilizar tinta, pelo menos durante os 10 dias de execução dos protocolos;
• Atenção na coleta de dados. Anotar a numeração individual dos animais, ECC (escore de condição corporal), categoria animal, pasto, mês de parição etc. A precisão na coleta de dados gerará relatórios de maior confiabilidade.

Retirada de implante – D8 ou D9:

• Muita atenção no manejo de higienização e armazenamento de implantes que serão reutilizados;
• Cuidados na diluição e no transporte do eCGen;
• Conferência dos animais e coleta de dados adicionais.

Manejo de IA – D10 ou D11

• Realizar a Inseminação Artificial por Tempo Fixo;
• Cuidado especial no descongelamento do sêmen, respeitando a temperatura e o tempo necessários;
• Atenção para o limite de altura e ao tempo de exposição ao levantar a caneca do botijão, a fim de garantir a qualidade do sêmen;
• Sempre utilizar pinça para o manuseio das palhetas de sêmen.

Repasse dos touros – D20

• De maneira geral, recomenda-se a introdução dos touros 10 dias após a inseminação do lote. Porém, este manejo de integração dos touros ao lote de vacas varia muito de acordo com o objetivo de cada fazenda, se terá ressincronização do lote ou não etc.
• A relação touro x vaca comumente utilizada é 1:20 ou 1:25, porém esta relação poderá variar de acordo com o objetivo e principalmente com a quantidade de touros aptos.
• Lembre-se que foi feito uma IATF e isto sincroniza o cio de retorno das fêmeas, então a relação touro x vaca pode ser de 1:10 (diferente dos 1:20 ou 1:25 utilizados normalmente)
• A avaliação prévia dos touros de repasse por meio de exame andrológico é essencial para a máxima eficiência durante a estação reprodutiva.

Considerações finais:

É importante monitorar constantemente o estoque de produtos e sêmen, evitando a falta durante a estação de monta. A coleta de dados tem influência direta sobre o relatório final. O relatório de serviço bem feito permitirá avaliar possíveis falhas durante a IATF, touros com melhor performance, melhores inseminadores, bem como a identificação de lotes específicos ou categoria de vacas que apresentaram índices abaixo da média do rebanho.

O compromisso e o envolvimento de todos os colaboradores no processo serão fundamentais para o atingimento de bons resultados.

Se todos estes fatores estiverem sincronizados, aumenta-se as chances de sucesso na propriedade, elevando consideravelmente a rentabilidade do sistema de produção.

Que este artigo possa contribuir com o seu negócio e a todos uma excelente estação reprodutiva!

  • Althuir Schneider: médico-veterinário, promotor técnico GlobalGen
  • Gabriel Sandoval: médico-veterinário, gerente de Marketing GlobalGen
  • Alexandre Prata: médico-veterinário, promotor técnico GlobalGen

Fonte: Attuale Comunicação

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