Algodão

Brasil tem salto na participação nas importações chinesas de algodão, aponta ICAC

Para a temporada 2019/20, no período de agosto a abril, os embarques dos EUA para a China atingiram 277 mil toneladas, um aumento de 29% em relação ao período anterior


Publicado em: 06/07/2020 às 19:20hs

Brasil tem salto na participação nas importações chinesas de algodão, aponta ICAC

O Brasil teve um grande salto na participação nas importações chinesas de algodão, apontou o Conselho Consultivo Internacional de Algodão (Icac, na sigla em inglês), em relatório divulgado nesta quarta-feira. Segundo o conselho, o País foi o principal beneficiário dos atritos entre EUA e China, vendo sua parcela do mercado chinês aumentar 170% na temporada 2018/19.

Para a temporada 2019/20, no período de agosto a abril, os embarques dos EUA para a China atingiram 277 mil toneladas, um aumento de 29% em relação ao período anterior. A expectativa do conselho para a atual temporada é de que outros fornecedores além de Brasil e EUA diminuam suas exportações para a China - o destaque nesse sentido seria a África Ocidental, com redução de 48%, enquanto outras origens teriam retrações nos embarques entre 7% e 73%. Em termos de cotações, o Icac projetou que o valor médio na temporada 2019/20 do índice Cotlook A deve ficar em 71 centavos de dólar por libra-peso. Para a safra 2020/21, a perspectiva é de 58 centavos de dólar por libra-peso.

No webinar Geopolítica e Comércio: cenários para o algodão brasileiro na Ásia, promovido na segunda-feira pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), especialistas destacaram que a crise entre os dois países abriu uma oportunidade para o Brasil assumir pela primeira vez a liderança nas vendas para o gigante asiático, mas que a assinatura de um acordo entre as duas potências ainda é uma incógnita. "O acordo comercial previa que as exportações norte-americanas iriam chegar a US$ 35 bilhões em 2020, mas, até agora, não chegaram a US$ 5 bilhões. Está bem aquém do que foi prometido", disse o professor de Agronegócios do Insper, Marcos Jank, segundo nota divulgada pela Abrapa. De acordo com Jank, o Brasil se beneficiou da contenda nos últimos anos, tirando cerca de US$ 10 bilhões dos EUA no mercado chinês. Segundo o professor, a presença do setor na Ásia é importante para manter mercado. "O algodão brasileiro está crescendo de maneira muito pronunciada, e a presença física é uma promoção frente aos Estados Unidos, que já exportam há 200 anos. Acredito que, em dez anos, vamos superar o algodão norte-americano em exportações, chegando ao primeiro lugar do ranking."

Para o trader suíço residente na China Thomas Reinhart, se o acordo sino-americano não prosperar, o Brasil terá uma vantagem relativa no suprimento de algodão para o mercado chinês. "Mas, sem acordo, a economia chinesa vai sofrer, e a demanda mundial vai diminuir, o que é ruim para todos", afirmou. Ele acredita que, se a primeira fase do pacto se concretizar, a China vai comprar basicamente algodão norte-americano. "Nos preços atuais, o Brasil é competitivo frente aos Estados Unidos, mas a demanda das fiações continuará fraca, até o fim da pandemia. Para todos os mercados, e não apenas o asiático", afirmou. "Por isso, o algodão sustentável ABR/BCI é um grande trunfo do Brasil, especialmente porque a BCI não está mais certificando algodão da região de Xinjiang", disse Reinhart, referindo-se a problemas em questões trabalhistas.

No seminário, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, enfatizou o trabalho realizado pelo ministério na abertura e manutenção de mercados fora do Brasil. "A pandemia afetou todas as cadeias produtivas, mas, especialmente, a do algodão. A recuperação da China, com redução dos casos de covid-19, já justificaria um aumento de importações, apesar de que estamos vendo um movimento diferente da pandemia, com segundas ondas, em lugares que pensamos que já estavam estabilizados, teremos de acompanhar isso muito de perto, para saber o que vem por aí", disse a ministra.

As exportações brasileiras de algodão totalizaram 56,704 mil toneladas em junho, uma queda de 12,6% ante igual período do ano passado, quando foram embarcadas 64,884 mil toneladas. O volume também ficou 18,47% abaixo do observado em maio, quando o Brasil vendeu ao exterior 69,553 mil toneladas. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia e consideram 21 dias úteis do mês de junho. A receita com exportações somou US$ 83,632 milhões, o que significa um recuo de 22,77% em relação a junho de 2019, quando o faturamento com os embarques chegou a US$ 108,293 milhões. O valor também é 19,72% inferior na comparação com os US$ 104,18 milhões obtidos em maio deste ano.

Em relatório divulgado esta semana com foco em algodão, a Maersk destacou que o segmento de exportação da fibra cresceu 55% ante igual trimestre do ano passado, devido à uma safra maior de algodão do Brasil e à disputa comercial entre EUA e China, com os principais destinos da fibra brasileira nesse período sendo China, Vietnã e Bangladesh.

Em coletiva, o diretor comercial da Maersk para Costa Leste da América do Sul (Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina), Gustavo Paschoa, destacou que 70% da safra 2019/20, estimada em 2,8 milhões de toneladas, já está vendida para as tradings. "Agora as tradings estão olhando para ver como vai ser a negociação principalmente com a China, devido ao acordo entre China e EUA de equilibrar o fluxo comercial entre esses dois países. Isso pode ou não impactar a nossa exportação", destacou. "A gente ainda tem uma previsão bem positiva, a safra de fato começa a ser exportada a partir de fim de agosto e começo de setembro. Teremos aproximadamente 200 mil toneladas sendo exportadas por mês a partir de agosto, então isso vai somar de agosto a dezembro aproximadamente 1 milhão de toneladas."

Fonte: Estadão Conteúdo

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