Biotecnologia

Biotecnologia pode ser a salvação do pomar

Uma laranja geneticamente modificada parece ser a única saída para o greening, mas seu desenvolvimento é demorado e caro e o suco pode ter problemas de aceitação pública


Publicado em: 08/08/2013 às 12:20hs

Biotecnologia pode ser a salvação do pomar

A biotecnologia está sendo encarada por especialistas de instituições brasileiras e do exterior como a salvação da citricultura, ameaçada pelo implacável greening. Artigo publicado em 28 de julho no jornal americano The New York Times e intitulado “A race to save the orange by altering is DNA” (“A corrida para salvar a laranja por meio da modificacão de seu DNA”, em português) fala em “emergente consenso científico” sobre a engenharia genética ser necessária para combater a ameaça da doença. “As pessoas vão beber suco de laranja transgênico ou passar a beber suco de maçã”, teria declarado um pesquisador da Universidade da Flórida, segundo o jornal norte-americano. 

O greening, também conhecido como Huanglongbing (HLD) e de origem chinesa, é a mais devastadora doença que atormenta citricultores de todo o mundo. Causada pelas bactérias Candidatus Liberibacter asiaticus e Candidatus Liberibacter americanus, transmitidas para as plantas pelo psilídeo Diaphorina citri, afeta os frutos, que tem seu desenvolvimento comprometido, podendo cair prematuramente ou permanecer verde após a maturação (daí a origem do nome “greening”), e apresentar gosto amargo. Não há variedade comercial de copa ou porta-enxerto resistente e as plantas contaminada não podem ser curadas. 

A doença tem causado muitos prejuízos à segunda maior citricultura do planeta, a da Flórida (o maior produtor mundial é o Estado de São Paulo), uma indústria de US$ 9 bilhões e que emprega cerca de 76 mil pessoas.

Em busca de uma solução para o problema – contornado hoje com erradicação de árvores e aplicação de inseticidas – os pesquisadores americanos bem que procuraram por uma planta naturalmente imune à bactéria causadora do greening, mas não acharam. Assim, o desenvolvimento de uma planta geneticamente modificada com um gene de um organismo resistente seria a única solução.

Mas não é tão fácil: a pesquisa é lenta, especialmente por se tratar de uma planta perene, e cara; é preciso a aprovação dos órgãos regulatórios; e vencer a possível resistência da população com relação a tomar um suco de laranja transgênica.

A indústria de suco de laranja dos EUA teme arranhões à imagem do “suco 100% natural”, que não pode faltar no café-da-manhã do americano e que ainda patrocina o campeonato anual de futebol americano Orange Bowl, uma verdadeira instituição na Flórida. 

Pesquisas no Brasil

No Brasil, maior produtor mundial de laranja, instituições como o Centro de Citricultura do Instituto Agronômico (IAC) e a Embrapa se dedicam a pesquisas por uma laranja transgênica resistente a pragas. Na unidade de pesquisa do IAC, em Cordeirópolis (SP), o Laboratório de Biotecnologia trabalha desde 1991 com pesquisas por uma laranja geneticamente modificada, resistente a pragas e segura para consumo, principalmente baseada em cisgenia, que, ao contrario da transgenia, usa genes da mesma espécie, ou seja, de citros.

A doença foi detectada em 2012 em 7% do parque citrícola paulista, segundo levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), tendo avançado 82% em relação ao ano anterior. O problema exige, portanto, solução urgente, sendo que a demora nos resultados em biotecnologia, segundo o diretor do Centro de Citricultura, pesquisador Marcos A. Machado, está em encontrar e validar genes de interesse em uma planta lenhosa perene, como os citros, que demora alguns anos para florescer e frutificar, diferentemente da soja e do milho, para citar as duas mais populares culturas transgênicas existentes no mercado hoje.

Outro grande complicador, segundo o pesquisador, é a estabilidade desses eventos de transformação, isto é, não se sabe se eles se manterão estáveis ao longo do tempo, pois o genoma de citros é dominado por fração de elementos móveis que poderão – “teoricamente” – alterar a funcionalidade do novo gene e seu promotor.

As pesquisas do Centro de Citricultura têm sido apoiadas pelo CNPq e pela Fapesp, e estimadas em cerca de US$ 10 milhões, em valores históricos. “Não é muito para a importância que o assunto tem para o Estado de S. Paulo. Realmente falta investimento maciço e coordenado para acelerar o processo”. A pesquisas são desenvolvidas em parceria com instituições como Esalq/USP, Unicamp, Embrapa e Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA). “Não temos parcerias com o setor privado. Esse prefere comprar a tecnologia da Espanha”, diz Machado. 

Para ele, as grandes empresas multinacionais de sementes, como Monsanto, Bayer, BASF e Syngenta, que se dedicam ao desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, não se interessariam em investir em uma laranja transgênica, porque a participação da commodity suco de laranja é muito pequena no mercado mundial quando comparado com soja, milho ou algodão, por exemplo.  Além disso, as dificuldades da pesquisa com citros e o fato dessas plantas serem propagadas vegetativamente, o que dificulta a garantia da propriedade intelectual, devem afastar essas empresas do investimento em uma laranja transgênica.

“A própria indústria também sempre teve aversão ao tema OGM, por considerar o aspecto de aceitação pública do suco de laranja, um produto muito ligado ao conceito de saúde”, completa Machado, explicando que os principais focos da pesquisa com biotecnologia em citros no Brasil hoje são tolerância ou resistência a doenças. No entanto, qualidade de fruta, tanto nos aspectos nutricionais como nos visuais (cor de casca e de suco), frutas sem sementes e fáceis de descarcar são uma linha muito perseguida pelos pesquisadores da Espanha, que essencialmente trabalham com fruta para o mercado de fruta fresca.

Fonte: Sou Agro

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