Pragas e Doenças

Ataque surpresa: lagarta Helicoverpa armigera desafia soja transgênica

Caso ocorreu em novembro passado, em Chapadão do Céu, Goiás; Monsanto diz que está investigando o que aconteceu


Publicado em: 18/01/2018 às 18:20hs

Ataque surpresa: lagarta Helicoverpa armigera desafia soja transgênica

Ela voltou a atormentar o campo e parece estar mais forte. A Helicoverpa armigera, nome científico da lagarta que devora lavouras de soja, algodão e feijão há cinco anos, causando prejuízos estimados em R$ 10 bilhões à agricultura brasileira, coloca a pesquisa em alerta novamente nesta safra. Mas agora um caso em específico intriga o setor. Em novembro passado, a praga infestou campos de soja plantados com a tecnologia RR2 (segunda geração dos transgênicos), uma semente que promete manter esse inseto longe da plantação, porque contém uma proteína tóxica à lagarta que, se ingerida pelo bicho, o leva à morte. Não foi o que aconteceu.

Os primeiros técnicos que chegaram ao local da infestação, em Chapadão do Céu (GO), constataram de duas a quatro unidades da Helicoverpa por metro de linha e, em alguns pontos, a média era de 11% das plantas com a presença da praga. É um quadro considerado crítico. “No começo, eram lagartas pequenas, e fomos acompanhando por 15 dias, para checar se a tecnologia (semente) iria controlar. Mas, no fim, se desenvolveram e chegaram a um estágio de crescimento que indicava claramente que iriam fechar o ciclo”, conta Germison Vital Tomquelski, pesquisador da Fundação Chapadão, doutor em entomologia e um dos pesquisadores que estão acompanhando o caso.

A Monsanto, multinacional detentora da tecnologia RR2, foi acionada para avaliar a situação. Numa nova visita de campo, equipamentos importados que aferem transgenia de grãos com alta assertividade concluíram que não havia mistura de sementes. Ou seja, 100% da área estava plantada com a mesma tecnologia, o que eliminava a hipótese de outro material estar atraindo os insetos. Algumas lagartas foram maceradas e analisadas pelos equipamentos. Conclusão: os bichos estavam se alimentando da planta e não sofriam nenhum efeito colateral. Em seguida, o mutirão técnico fez uma varredura pela região e nenhuma suspeita de infestação foi detectada na vizinhança.

O mistério permanece. Alguns dias depois das visitas de campo, a Monsanto se manifestou sobre o caso. Disse que não é comum acontecer isso e que continuará investigando. E mais: a empresa “recomenda a adoção do manejo integrado de pragas (MIP) como medida para otimização dos resultados das tecnologias Bt (que contêm a proteína Bacillus thuringiensis), bem como as práticas para adoção correta de áreas de refúgio,” informa a nota da Monsanto.

Em entrevista à Globo Rural, o presidente da multinacional, Rodrigo Santos, ressaltou que não é possível constar vulnerabilidade da tecnologia à praga e que novos testes estão sendo feitos. “A Intacta não tem o objetivo de controlar todas as pragas nem todas as lagartas na soja. A gente faz a supressão de elasmo (outra espécie de lagarta) e de Helicoverpa”, acrescenta o executivo, que também reforçou a importância do MIP no campo.

Os próximos capítulos da história dependem dos resultados de laboratório. Segundo o entomologista da Fundação Chapadão, algumas lagartas estão sendo criadas em um laboratório no Rio Grande do Sul. Posteriormente, elas serão cruzadas para se verificar a resistência de cada indivíduo, explica. Pelos cálculos de Germison, os testes devem ser concluídos até o próximo mês.

Embora recomende o uso de defensivos só em último caso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou, poucas semanas após o caso de Chapadão virar notícia, a comercialização do benzoato de emamectina no Brasil para combater as lagartas. O produto teve uso autorizado em caráter de emergência em 2013. Agora, está liberado definitivamente no país.

O benzoato de emamectina é o tarja preta dos defensivos. É considerado extremamente tóxico, por isso o cuidado principalmente com quem manuseia deve ser redobrado. Além disso, se usado acima das doses recomendadas no rótulo, o efeito pode ser um grande tiro no pé. “Se o produtor usar da forma correta, é uma alternativa eficaz e de efeito rápido. Mas, se aplicar em demasia, pode causar resistência às biotecnologias e aos defensivos. Esse é o perigo. Consequentemente, aumentará muito o custo de produção, e lá na frente o produtor vai ter problema. Ele terá poucas opções de controle, porque o desenvolvimento de novos produtos é muito demorado. E caro. Sem contar o impacto no meio ambiente e aos consumidores”, alerta Germison.

O governo diz estar consciente do risco do uso de defensivos no campo e justifica a decisão de liberar o produto contra a lagarta. “Temos responsabilidade de oferecer mecanismos de controle de pragas aos produtores. O Ministério da Agricultura recomenda o MIP, inclusive registrou uma série de produtos biológicos após o surto da Helicoverpa em 2013. Mas quem vai decidir o que vai usar é o produtor rural”, diz Carlos Venâncio, coordenador geral de agroquímicos no Ministério da Agricultura.

Ele lembra ainda que, antes da liberação definitiva, o benzoato de emamectina passou pelo crivo do Ibama, para avaliar o impacto no meio ambiente, e da Anvisa, que estimou o perigo à saúde humana.

Fonte: Globo Rural

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