Café

Ameaçada a liderança mundial do Brasil nas exportações de café solúvel

Concorrência industrial da Ásia afeta o desempenho de indústrias e produtores brasileiros


Publicado em: 06/02/2018 às 18:20hs

Ameaçada a liderança mundial do Brasil nas exportações de café solúvel

O Brasil, desde a implantação do parque industrial de café solúvel, no início da década de 1960, tem se mantido na liderança mundial de produção e exportação do setor. Nos últimos anos, passou a enfrentar a intensa concorrência de indústrias da Ásia, coincidente com o grande aumento da produção de cafés robustas no continente, devido ao crescimento do consumo interno dos países da região, que estimulou o processo de montagem de novas plantas de café solúvel.

O Vietnã encabeça a fila dos países que mais crescem em produção e embarques, acompanhado por Malásia, China, Coreia do Sul, Filipinas e Índia. Essas nações aproveitam o excelente crescimento médio de 6% ao ano no consumo de café solúvel no continente asiático, praticamente o dobro do avanço anual mundial de 3,2%, segundo a consultoria LMC.

A Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel) divulgou, recentemente, o Relatório Café Solúvel do Brasil, elaborado pela consultoria BARRAL MJORGE, que faz um diagnóstico objetivo da situação atual e dos desafios que a indústria deve superar. A Revista do Café entrevistou o presidente da ABICS, Pedro Guimarães, que confirma que ”as indústrias de solúvel projetam uma queda de 13% nas exportações em 2017, o que significa que 500 mil sacas deixarão de ser enviadas pelas empresas nacionais ao exterior. Com esse desempenho, o setor voltará a registrar os patamares de 2010, quando o País comercializou 3,362 milhões de sacas do produto com o exterior”.

Guimarães entende que “essas perdas, reflexo da escassez de café conilon entre os meses de setembro de 2016 e março de 2017, período em que também os preços da commodity alcançaram níveis recordes acima de R$ 500 por saca, descolando intensamente das cotações internacionais, deixaram oportunidades comerciais para que os concorrentes do Brasil ocupassem de imediato o espaço deixado pelas indústrias nacionais”.

Desde julho do ano passado, a Abics vem comunicando que o Brasil perdeu boa parte dos contratos de fornecimento para as indústrias asiáticas e que esses compradores perdidos dificilmente serão recuperados, o que prejudica não apenas o setor industrial, mas, principalmente, o produtor de café conilon no Brasil, fornecedor da matéria prima às indústrias do País.

Em contrapartida ao desempenho brasileiro, o Vietnã se destaca na aquisição do café solúvel nacional no acumulado de janeiro a outubro de 2017, importando 28.264 sacas, volume que implica um substancial crescimento de 3.639% em relação a suas compras do produto do Brasil no mesmo intervalo de 2016.

O país asiático vem adotando agressiva estratégia de conquista de mercados e, não tendo café suficiente para fazer frente a suas exportações de solúvel, adquire de outras origens, mas engendrando uma estratégia criativa. No caso do Brasil, por exemplo, os vietnamitas impõem tarifa de importação de 30% como imposto para a entrada do produto em seu país, no entanto, como irão reexportá-lo, aplicam o regime de “drawback”, o que dá isenção de impostos de importação, uma vez que o produto brasileiro será “blendado” ou embalado para ser exportado a outras nações compradoras.

Frente à crescente concorrência que se apresenta, Pedro Guimarães destaca “que a Abics tem se mobilizado para manter a competitividade das indústrias nacionais no mercado global. Após “ranquear” mercados-alvo em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Associação também vem mantendo negociações com setores estratégicos do Governo Federal para aproveitar as possibilidades que surgem”.

A esse respeito, a Abics monitora a execução do Protocolo de Adesão do Panamá à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), os acordos entre Mercosul e Egito e Mercosul e União Europeia, além da aproximação do Mercosul com a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), pontos que poderão gerar redução da tarifa de importação do produto brasileiro nesses destinos, possibilitando o crescimento do market share do café solúvel do Brasil.

O desempenho das exportações de café solúvel do Brasil e outras informações relacionadas ao cenário mercadológico do setor estão disponíveis na versão completa do Relatório do Café Solúvel do Brasil – Novembro de 2017, que pode ser acessado no site da Abics (http://www.abics.com.br/).