Bovinos Leite

Alegrete é o primeiro município a retomar Balde Cheio no RS

Programa desenvolvido pela Embrapa desde 1998 agora é estratégia nacional para a atividade leiteira


Publicado em: 19/08/2019 às 15:40hs

Alegrete é o primeiro município a retomar Balde Cheio no RS
Foto: Visita Técnica à propriedade de Sangra Vargas - Foto Felipe Rosa

O município de Alegrete, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, deu um passo importante rumo ao fortalecimento da sua bacia leiteira, com o início, nesta segunda-feira, 12 de agosto, das atividades do Balde Cheio, programa desenvolvido há 21 anos pela Embrapa. O evento de lançamento aconteceu na sede da Acripleite (Associação dos Criadores e Produtores de Leite de Alegrete), localizada no Parque de Exposições Lauro Dornelles, e contou com a presença de representantes da Embrapa, Prefeitura local, Emater/RS-Ascar, Sicredi, Fundação Maronna, além dos produtores da Associação e do profissional que fará a instrução das atividades do Balde Cheio em Alegrete, Juliano Alarcon Fabrício.

Mesmo com produção crescente entre os anos de 2009 e 2018, culminando com um total de 13 milhões de litros de leite no último ano, é consenso no município que com alguns ajustes ou mudanças dentro da propriedade é possível aumentar e qualificar essa produção, com ganhos de conhecimento e econômicos para os produtores e para toda a cadeia produtiva do leite.

É justamente nesse sentido que caminha o Balde Cheio, mas sem apresentar um modelo pronto, levando em conta as características de cada propriedade e o perfil de cada produtor. A ideia é realizar um diagnóstico do estabelecimento rural e, a partir daí, com o acordo do técnico e do produtor, estabelecer metas e um planejamento para alcançá-las.

Estes ajustes ou mudanças vão desde a melhoria na produção de forragem para os animais até o controle zootécnico do rebanho e um melhor gerenciamento e organização da propriedade. "Nós temos exemplos de produtores que tinham renda anual de R$ 900,00 e hoje estão batendo a meta de 1 milhão de reais/ano. É claro que isso não é fácil, demanda muito trabalho, demanda tempo, mas é possível. Temos produtores que estão chegando a lugares que jamais imaginaram alcançar", destacou Fabrício.

Apesar de fundamental, o ganho econômico não é um pilar isolado para o sucesso do programa. O incentivo a qualificar a produção e a melhor gerir a propriedade também estimula o produtor e o técnico assistente. Aposentada das atividades de professora na cidade, Sandra Soares Vargas voltou para o campo com o objetivo de levar para frente o sonho que alimentou durante muito tempo, o de produzir leite, como seu pai fizera no passado. Selecionada para participar do Balde Cheio, a produtora revigora uma força de trabalho que já parece infindável. "Eu acordo às 4h da manhã e muitas vezes a rotina de trabalho vai acabar 22h, à noite. O que me anima é estar fazendo aquilo que gosto", diz.

Contemplada com a primeira visita técnica do programa, realizada na segunda-feira (12/08) à tarde, ela já planeja colocar em prática todas as primeiras recomendações dadas pelos profissionais, como a de detalhar melhor algumas anotações da propriedade e a de ajustar os ciclos de alimentação dos animais, assim como deixar o acesso livre para vacas também se alimentarem durante a noite, de forma que tenham o rúmen com comida pelo menos a cada quatro horas, uma das indicações importantes para aumentar a produção.

"Vou seguir todas as recomendações técnicas. Hoje temos 54 vacas em lactação, produzindo 18,5 litros de leite ao dia. Minha meta inicial é chegar a 22 litros por vaca ao dia. O objetivo de forma geral é melhorar a produção, mas é claro que a gente pensa também em sobrar um pouco mais de lucro no final do mês", destaca.

Projeto nacional

Criado em 1998 pelo pesquisador Artur Chinelato, da Embrapa Pecuária Sudeste, o Balde Cheio é agora um projeto nacional. Conforme a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Renata Suñé, uma das coordenadoras do programa no RS, a organização do trabalho em rede facilita o processo de interpretação das propriedades e aplicação local das tecnologias.

“Esse projeto está completando 21 anos, e se transformou há dois anos em um projeto nacional, em rede, o que vai nos permitir alocar de forma mais direcionada as tecnologias que já foram desenvolvidas para determinada região. Além disso, é nosso papel fazer essa articulação entre as instituições que integram o projeto e também podemos oferecer a nossa infraestrutura para treinamento, para análises, para eventos, assim como o acompanhamento geral das atividades técnicas que serão exercidas dentro da propriedade", explicou a pesquisadora.

A metodologia ao longo dos anos tem proporcionado ao produtor a evolução em termos econômicos e também nos índices técnicos. Mas não é apenas o produtor que ganha. “O que acontece é o que chamamos da política do ganha-ganha. Ganha o técnico que se qualifica, ganha a região que aumenta sua receita e aumenta o emprego, ganha o produtor, que diminui despesas e aumenta a lucratividade, etc. Esse valor de 13 milhões de litros de leite produzidos em 2018 em Alegrete representa cerca de 1 milhão de reais por mês, injetado na economia local. Então muita gente acaba andando junto nesse negócio, que ainda tem um potencial enorme de crescimento”, pontuou o analista da Embrapa Clima Temperado, Sergio Bender.

Programa Mais Leite 4.0

O programa Balde Cheio já foi desenvolvido em Alegrete em meados dos anos 2000 e agora retorna ao município como uma das estratégias integrantes do Programa Mais Leite 4.0, que engloba uma série de atividades para incrementar a bacia leiteira alegretense.

Presente durante o lançamento do projeto, o prefeito de Alegrete, Márcio Amaral, comemorou o retorno do Balde Cheio ao município. “Estamos muito felizes com a retomada desse trabalho, que vai ajudar muito a bacia leiteira de Alegrete”, disse. Com um momento de baixo preço pago ao produtor de leite, o engenheiro agrônomo da Prefeitura, Leonardo Cera, destaca que a ação de direcionar esforços para a atividade é uma forma de manter a motivação do produtor. “Com essas ações buscamos qualificar os trabalhos dentro das propriedades, para que nenhum produtor saia da atividade”, completou.

Alegrete contará com sete Unidades Demonstrativas (UDs) do Balde Cheio, cada uma com o acompanhamento técnico de um profissional do município, além da instrução geral feita pelo engenheiro agrônomo Juliano Alarcon Fabrício e visitas técnicas da Embrapa.

Balde Cheio

O Balde Cheio é uma metodologia de transferência de tecnologia que tem o objetivo de capacitar profissionais da assistência técnica, extensão rural e pecuaristas em técnicas, práticas e processos agrícolas, zootécnicos, gerenciais e ambientais. As tecnologias são adaptadas regionalmente em propriedades que se transformam em salas de aula. Estas são monitoradas quanto aos impactos ambientais, econômicos e sociais no sistema de produção após a adoção das tecnologias.

Como participar?

Técnicos e pecuaristas interessados em participar do programa devem entrar em contato com o coordenador ou instituição responsável em sua região. Para saber mais, entre em contato por meio do SAC da Embrapa ou pelo telefone (16) 3411-5754. No Rio Grande do Sul, as Unidades Embrapa Pecuária Sul (Bagé) e Embrapa Clima Temperado (Pelotas) podem prestar informações sobre o tema, através dos contatos (53) 3240-4650 e (53) 3275-8400, respectivamente.

Fonte: Embrapa Pecuária Sul

◄ Leia outras notícias