Clima

Emissões de CO2: pegada de racionalidade ambiental

“Nada em livros. Fomos aprendendo com fisiologia vegetal.” Para entender o contexto da frase que abre esta matéria, foi preciso ouvir por mais de hora o pecuarista gaúcho Arno Schneider, 80 anos (foto), desde sempre um oponente aos números usualmente expressivos de observatórios e especialistas em clima


Publicado em: 20/07/2022 às 17:20hs

Emissões de CO2: pegada de racionalidade ambiental

“Nada em livros. Fomos aprendendo com fisiologia vegetal.” Para entender o contexto da frase que abre esta matéria, foi preciso ouvir por mais de hora o pecuarista gaúcho Arno Schneider, 80 anos (foto), desde sempre um oponente aos números usualmente expressivos de observatórios e especialistas em clima. E, para não ficar apenas nisso, outra frase rebate as constantes estatísticas que apontam a pecuária como a vilã – se não a principal – do clima em todo o planeta. “O primeiro carro Ford, é preciso dizer, o carbono emitido ainda está na atmosfera. Por isso, e também por outras variáveis observadas por nós, vou contra o painel do clima e a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] sobre o metano e clima. As emissões estão em neutralidade”, assevera, contundente, o inquieto engenheiro agrônomo por formação preocupado com as futuras gerações e a continuidade dos negócios na fazenda.

A propriedade rural localizada no município de Santo Antônio do Leverger, interior de Mato Grosso, conta com 1,2 mil hectares de pastagens (além das 2 mil cabeças de bovinos) e exuberante plantação de árvores Teca (Tectona grandis, originária do sudeste asiático e muito bem adaptada ao clima mato-grossense), de alto valor comercial no mercado madeireiro.

Lá, explica Schneider, ficou constatado que o plantio em nível não é muito adequado, até mesmo pelas características da árvore em questão. “Temos que adequar o espaçamento adequado das árvores. As duas culturas, pastagens e a Teca, precisam combinar.” E o extenuante trabalho, de décadas a fio (desde 1978, quando migrou do Rio Grande do Sul), tem o fim de mitigar efeitos do metano emitido, em um singular consórcio de culturas pautado no programa Integração Lavoura, Pecuária, Floresta (ILPF).

Para o pecuarista, a bovinocultura atualmente emite quase tanto quanto todos os veículos movidos a combustível fóssil no mundo. E, durante a exposição dos estudos feitos por ele na propriedade, emerge a constatação de que o metano emitido pela produção pecuária, além de ficar até 12 anos na atmosfera – período relativamente curto, se comparado ao CO2 que paira de 500 a 1 mil anos -, é mitigado ao nível da neutralidade.

Logo, as “emissões estão, portanto, em neutralidade. O metano, depois de 10, 12 anos, já foi embora. Já estava na atmosfera”

“O carbono dos combustíveis fósseis vem do fundo da terra, passa pela refinaria que também polui. A indústria siderúrgica é outra que polui bastante”, assevera, ao acrescentar que o “carbono guardado é queimado e 100% adicionado à atmosfera”.

Enquanto caminha entre os troncos de Teca (a árvore precisa de 25 anos para atingir valor comercial), Schneider mostra um resumido, mas esclarecedor, esboço da matemática aplicada na propriedade. O metano é 25% mais potente que o CO2 (1 molécula de metano é multiplicada por 25 para ter 1 de CO2). Contudo, o metano fica apenas de 10 a 12 anos na atmosfera. O metano de 10 anos atrás, exemplifica, é o mesmo de hoje. E está se decompondo em CO2. “O que é emitido de metano deve-se ao fato de o boi ter comido o capim, emitindo gás metano. O mesmo CO2 que a pastagem sequestrou, o boi comeu, ruminou e emitiu metano”, diz. 

Logo, as “emissões estão, portanto, em neutralidade. O metano, depois de 10, 12 anos, já foi embora. Já estava na atmosfera”. Em outra ponta, o pecuarista diz que é fundamental pensar na redução da idade de abate, levando em conta a precocidade e a dieta oferecida ao animal. “Quando menor a idade do animal, menos metano vai emitir.”

A ração, ao invés do capim, não passa pelo rúmen do animal. Com isso, o confinamento reduz drasticamente a idade do abate, aconselha o agrônomo. Para em seguida afirmar que o agro brasileiro “não precisa do desmatamento da Amazônia. Existem muitas maneiras de incrementar a produção, sem optar pelo desmatamento”.

Pioneirismo Nas paredes da casa da fazenda, as fotografias mostram um passado de muito pioneirismo por parte da família de Arno Schneider, que se despediu do Sul em busca da realização de um sonho. Isso, no início da década de 1970. Iniciou nas atividades como agricultor, em sociedade com o irmão. Em 1983, já no finalzinho do Regime Militar, separaram os negócios. Foi aí que ele deu início ao trabalho com pecuária na região, tornando-se em referência em inovação e tecnologia. 

No começo da lida, o rebanho era composto por Nelore. Mas, logo aportaram na fazenda os cruzamentos com Caracu, ainda no início dos anos 80, em Brahman. Motivado, o pecuarista se especializou na cria, recria e engorda de bezerros com a utilização de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Daí foi um pulo para que Schneider se convertesse em um dos desbravadores no cultivo da Teca e na integração entre a pecuária e a floresta.

Sobre o futuro do agronegócio no Brasil, Schneider é taxativo ao afirmar que o País tem uma área de agricultura de 70 milhões de hectares, com potencial para atingir 15 milhões, sem desmatamento. Isso, em áreas cedidas pela pecuária. Outros países, afirma, sequer tem condições tão propícias para se trabalhar o consórcio pecuária natureza, por meio da IPF.

Em resumo, o Brasil na ótica do produtor que sequer chegou aos 90 anos de idade, pode se tornar um grande player na área de produção de alimentos de qualidade, garantindo segurança alimentar e baixo custo de produção. Produzir duas safras com irrigação já é realidade. E, não menos, até três em algumas regiões. Três safras anuais é um sonho nada equidistante. “Algo que vai acontecer em maior escala”, acredita. (A reportagem não conseguiu apurar números atualizados do clima e da pecuária junto à Embrapa)

Teca Os dados do mês de janeiro de 2006, da Secretaria de Estado da Fazenda de Mato Grosso (Sefaz-MT) não deixam dúvidas quanto à rentabilidade associada ao cultivo da Teca. A árvore nativa das zonas úmidas do sudeste asiático é tida e havida como uma das madeiras mais caras do mundo e era comercializada à época no município de Cáceres (215 quilômetros a Oeste de Cuiabá), a US$ 900, o metro cúbico.

O município foi o primeiro do Estado a plantar a Teca e possui uma área de cultivo de aproximadamente 15 mil hectares. Á árvore também pode ser encontrada no Estado de Goiás e, inclusive, na capital, Goiânia. Na área urbana, é utilizada no paisagismo de ruas e avenidas.

Após 25 anos de cultivo, em Cáceres (MT) as toras de madeira são retiradas com 8 metros de comprimento e 45 centímetros de diâmetro (altura do peito). É considerada madeira “tipo exportação” e utilizada para fabricação de móveis, casco de embarcações e reflorestamento – e os desbastes ou aparas laterais da planta são utilizados para produção de carvão.

Muitas empresas preferem comprar madeira legalizada, como é o caso da Teca, sendo utilizada para reflorestamento e contribuindo para a preservação ambiental. Os estados do Pará, Rondônia, Maranhão, Goiás e Tocantins juntos possuem uma área de 50 mil hectares com o cultivo da madeira. (Com informações da Sefaz-MT)

Efeito estufa Em 2019, as emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa subiram 9,6%. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), divulgados pelo Observatório do Clima. O País lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), contra 1,98 bilhão, em 2018.

Segundo afirma o observatório, o dado consolida a reversão da tendência de redução das emissões no Brasil, verificada entre os anos de 2004 e 2010, além de sugerir que o País não deverá cumprir a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) em 2020. “Estamos numa contramão perigosa. Desde 2010, ano de regulamentação da lei nacional de clima, o país elevou em 28% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja no ar todos os anos, em vez de reduzi-la”, diz o executivo Tasso Azevedo, coordenador do Seeg, em comunicado à imprensa.

Agropecuária A atividade agropecuária vem em segundo lugar (o primeiro no ranking fica por conta do desmatamento da Amazônia, considerado no estudo), com 598,7 milhões de toneladas de CO2e (equivalente) em 2019, um aumento de 1% em relação às 592,3 milhões de toneladas emitidas em 2018.

“Somando-se as emissões de uso da terra e agropecuária, o Seeg conclui que a atividade rural — seja direta ou indiretamente, por meio do desmatamento, que é quase todo destinado à agropecuária — respondeu por 72% das emissões do Brasil no ano passado”, diz o comunicado enviado à imprensa.

“Os resultados do Seeg agro mostram a crescente contribuição da agropecuária para as emissões nacionais. Esse cenário precisa ser revertido e, para isso, os sistemas de produção devem adotar as boas práticas de manejo e cuidar do solo, onde está concentrada a maior parte dos estoques de carbono”, diz a executiva Renata Potenza, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

E completa: “um solo conservado produz mais e ainda estoca carbono, sendo, portanto, um dos recursos naturais mais importantes do Brasil”. (Com informações de agências, Agronews, Sefaz-MT e Observatório do Clima)

Fotos: Moacir Neto/Márcio Peruchi (Compre Rural)

O repórter Moacir Neto viajou a Santo Antônio de Leverger (MT) a convite do Sindicato Rural de Mato Grosso/Texto Comunicação Corporativa (Road Show para jornalistas e influenciadores digitais do Agronegócio)

Fonte: Portal Safra

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