Análise de Mercado

ECONOMIA: Brasileiro leva 1 hora para produzir o que americano faz em 15 minutos

O trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um americano consegue realizar em 15 minutos e um alemão ou coreano em 20 minutos


Publicado em: 22/03/2019 às 17:00hs

ECONOMIA: Brasileiro leva 1 hora para produzir o que americano faz em 15 minutos

Isso significa que a produtividade do Brasil é baixa, mas não quer dizer que o brasileiro seja preguiçoso ou inapto. Há atrasos na formação e na infraestrutura das empresas, o que afeta os resultados, dizem especialistas.

Riqueza - Em termos de riqueza, o Brasil produz em uma hora o equivalente a US$ 16,75, valor que corresponde apenas a 25% do que é produzido nos EUA (US$ 67). Comparado a outros países, como Noruega (US$ 75), Luxemburgo (US$ 73) e Suíça (US$ 70), o desempenho do país é ainda pior. As informações são do professor José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP.

Relação - Estes dados equivalem à relação entre o total produzido na economia (PIB) e o número total de horas trabalhadas, metodologia mais comum para medir a produtividade de um país, de acordo Pastore.

Educação e equipamentos - "A produtividade média do brasileiro é de apenas um quarto da do trabalhador americano e de um terço da do alemão ou do coreano. Perdemos muito mercado [lá fora] porque a baixa produtividade dá como resultado baixa competitividade", disse Pastore.

Condições - Isso não quer dizer que o brasileiro seja um trabalhador pior do que os outros. É preciso melhorar as condições, como educação dos funcionários e equipamentos nas empresas. Renan Pieri, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirmou que, além das correções estruturais necessárias para melhorar a produtividade, o Brasil precisa trilhar dois caminhos:

- Melhorar a educação em todos os níveis (inclusive técnico) com investimentos

- Investir na modernização do capital físico (máquinas e equipamentos das empresas)

Educação voltada às empresas - "Esses dois aspectos têm a ver com o Estado, que precisa gerar um ambiente econômico que permita, por sua vez, o aumento dos investimentos, tanto público como privado", declarou Pieri. Na opinião dele, o trabalhador precisa chegar às empresas com conhecimento consolidado, e não "tão sem base" como chega hoje. "Precisamos de um programa que aproxime a demanda das empresas da oferta das escolas, sejam do ensino superior, do ensino médio ou do ensino técnico."

Estagnada - Segundo Pastore, a eficiência do trabalho no Brasil está praticamente estagnada desde a década de 1980, salvo raras exceções. "Estamos parados, enquanto outros países estão melhorando. A distância tem aumentado." Por que o Brasil está abaixo de outros países? Pieri disse que o acesso a certos recursos no Brasil, como capitais humano, físico e financeiro, entre outros, é insuficiente e desfavorável se comparado ao de outros países.

Fatores - Entre os fatores que conspiram contra a produtividade, ele enumera:

- Baixa qualificação e capacidade dos trabalhadores (capital humano)

- Tecnologia atrasada e mal administrada nas empresas (capital físico)

- Investimento caro e abaixo do necessário (capital financeiro)

- Infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos insuficientes e sucateados)

- Burocracia complicada

- Ambiente de negócios perverso

Escolaridade - "Melhoramos nossa escolaridade média nos últimos 25 anos, mas foi insuficiente para aumentar a qualidade do capital humano e, assim, atender às necessidades das empresas", disse o professor da FGV. Para Pastore, o alastramento do trabalho informal também agrava o quadro de baixa produtividade no país. "Afinal, temos cerca de 40 milhões de pessoas nessa situação hoje. Isso significa que não é apenas o trabalhador que tem baixa qualidade, é o seu emprego que é de baixa qualidade", afirmou.

Setores - Setores onde a eficiência melhorou:

- Agricultura (devido à incorporação maciça de inovações tecnológicas)

- Financeiro (devido ao salto dado com base às tecnologias do mundo digital)

- Indústria automotiva e Embraer (devido à robotização e racionalização do trabalho)

Aumento - A pesquisa mostra que a produtividade do trabalho na indústria de transformação no ano passado aumentou 0,9%, em relação a 2017, quando já havia crescido 4,5%, em comparação a 2016. Trata-se do quarto ano consecutivo de crescimento do indicador, mas ainda insuficiente para ganhar competitividade.

Indústria - O setor industrial brasileiro ainda é 23% mais caro que o norte-americano, segundo estudos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) citados pelo professor Pastore.

Renda per capita dobraria com melhor produtividade - Um relatório do Banco Mundial sobre produtividade, lançado em 2018, aponta que a renda per capita brasileira é aproximadamente 20% da renda per capita dos EUA. Se o Brasil tivesse a mesma produtividade que a norte-americana, a renda do país seria mais de 50% da dos EUA, mesmo sem investimento adicional em máquinas ou capital humano. Ou seja, a renda per capita atual mais do que dobraria somente com melhorais na produtividade.

1980 - Jorge Arbache, economista e estudioso do assunto, mostrou que em 1980 a produtividade do trabalhador brasileiro era 670% maior do que a do trabalhador chinês e 70% menor do que a americana.

2013 - Em 2013, o Brasil perdia nos dois casos: a do trabalhador brasileiro era 80% inferior à americana e 18% menor à chinesa. No período, a eficiência dos chineses cresceu 895%. Já a dos brasileiros, meros 6%.

Contra - E os números que conspiram contra o Brasil não param por aí. Pieri afirmou que a relação PIB/trabalhador em 1994 no Brasil era de R$ 25 mil. Em 2016, já considerada a inflação no período, passou para R$ 30 mil. Isto é, em 22 anos aumentou apenas 20%. "Nesse mesmo intervalo, a relação PIB/trabalhador nos EUA cresceu 48%", disse o professor da FGV.