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VANTs, uma solução inteligente


Publicado em: 15/03/2011 às 00:00hs

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Em recente discurso no seminário que discutiu a implementação dos Centros Regionais de Referência em Crack e outras Drogas, a presidente Dilma Rousseff ressaltou a importância do controle de fronteiras no combate ao narcotráfico. Em sua fala, a presidente enfatizou a necessidade de reforçar o aparato da Polícia Federal para coibir a entrada de entorpecentes no país. Esse “reforço”, obviamente, demanda um conjunto de ações que vai desde o aumento do contingente policial até o aprimoramento do setor de inteligência. Nesse sentido, vale dizer que algo já está sendo feito.

No mês passado, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que o monitoramento da fronteira entre o Paraná e o Paraguai será feito com o auxílio de Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANTs). A decisão do ministro vai ao encontro do posicionamento da presidente Dilma. Com alta capacidade de geração de imagens e dados de inteligência, esses aviões – guiados por um sistema autônomo de navegação ou por controle remoto – fornecerão aos policiais da fronteira imagens em tempo real, potencializando o combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas.  

Embora seja desconhecido por grande parte dos brasileiros, o VANT já deu provas de que a tecnologia embarcada em pequenos e médios aviões pode ser usada para fins de defesa e segurança, utilizando as imagens para agilizar as intervenções. Na tragédia que devastou a região serrana do Rio de Janeiro, por exemplo, o Exército usou um pequeno VANT para mapear e apoiar as operações de buscas nas áreas assoladas pela chuva e refazer a imagem geológica do terreno, bastante modificado com a tragédia. 

Além da utilização estratégica em catástrofes e áreas de fronteiras, os VANTs também surgem como grandes aliados da defesa do meio ambiente. Uma parceria inédita entre a Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo e o Instituto Inova (São Carlos/SP), com apoio do INCT-SEC (ICMC/USP), está viabilizando o emprego dos aviões não-tripulados para o monitoramento ambiental em áreas rurais. Será um apoio de peso ao trabalho das patrulhas terrestres que percorrem regiões imensas à procura de agressões ao meio ambiente. Ainda em caráter experimental, essa parceria deverá em breve abranger todo o estado de São Paulo. Podemos imaginar o salto que o controle ambiental terá no Brasil quando esse tipo de monitoramento for expandido par a todo o país.  

Os motivos são óbvios.  Estima-se que o país tenha hoje entre 65 a 70 milhões de hectares de áreas agrícolas. Para fiscalizar essa área, o Ibama conta com um contingente de apenas 1.319 fiscais espalhados por todo o território nacional. Se levarmos em conta apenas a atuação do instituto, são 530 milhões de metros quadrados de monitoramento para cada funcionário do Ibama. Uma tarefa praticamente impossível de ser cumprida: além da grande incidência de crimes ambientais, verifica-se também um alto índice de impunidade, uma vez que flagrar a agressão ao meio ambiente é uma tarefa difícil e exige muitas vezes que os fiscais arrisquem suas vidas no exercício de sua função.

Em termos práticos, a utilização dos VANTs no combate aos crimes ambientais é bastante ampla. A alta qualidade das imagens captadas permite aos aviões não-tripulados detectar com precisão e eficiência áreas desmatadas, diminuição de áreas de preservação permanente (APPs), atividades irregulares de mineração em leitos de rios, além de identificar crimes como queimadas, pesca ilegal e corte de vegetação nativa.

Isso não é tudo. Se embarcado com sensores termais e multiespectrais, os VANTs podem revelar dados impossíveis de serem vistos a olho nu. Apenas para exemplificar, o uso de tecnologia infravermelha pode revelar, entre outros, a utilização de substâncias químicas empregadas em lavouras, a contaminação de cursos d’água por agentes químicos, o estresse hídrico de plantações e doenças em áreas agrícolas. É a tecnologia usada a favor da proteção do meio ambiente e da agricultura.

É claro que falar de tecnologia envolve custos que nem sempre são baixos. A partir de R$ 30 mil, é possível adquirir hoje um VANT fabricado com tecnologia 100% nacional. É o preço de um carro popular. Vale então a análise custo/benefício: em um país com as dimensões continentais como o Brasil a fiscalização por terra se torna muitas vezes inviável. Com o emprego dos aviões não-tripulados, a localização das agressões ao meio ambiente e a identificação das operações de tráfico na fronteira podem ser mais frequentes, até em tempo real. Isso permite direcionar os recursos do estado de forma precisa, resultando na otimização das intervenções e na produção de provas concretas c ontra crimes que muitas vezes ficam impunes pela dificuldade de seu registro e sua mensuração. Sem dúvida, uma nova estratégia que poderá amenizar a devastação ambiental e coibir a entrada de drogas no país. Os resultados falarão por si mesmos.

Adriano Kancelkis é diretor da AGX Tecnologia e Onofre Trindade Junior é professor do Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP/São Carlos e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC).

Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada

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