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Recursos genéticos de batata nativos do Brasil: fonte de genes para mitigar os impactos negativos do aquecimento global

A batata é uma importante fonte de alimentação humana, ocupando atualmente o terceiro lugar em produção mundial, sendo superada apenas pelo trigo e o arroz.


Publicado em: 03/01/2014 às 01:00hs

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Entretanto, com relação à produção de energia, a batata lidera o ranking dos alimentos com 216 megajaules/ha/dia, contra 135 e 121 megajaules/ha/dia produzidos respectivamente pelo trigo e arroz.

O Brasil produz anualmente cerca de 3,5 milhões de toneladas de batata. Com o cultivo crescente de batata nos países em desenvolvimento, a importância da cultura como garantia da segurança alimentar tem sido ainda mais relevante, principalmente no que diz respeito a populações mais carentes. Por outro lado, o cultivo de batata está fortemente ameaçado pelos prognósticos das mudanças climáticas. Resultados de estudos de modelagem indicam que ocorrerá uma redução na produção mundial de batata de 18 a 32 % nos próximos 50 anos, sendo que as regiões tropicais e subtropicais serão as mais atingidas. Só no Brasil, a estimativa é de que ocorra uma diminuição em 23% na produção de batata.

O desenvolvimento de germoplasma adaptado às novas condições climáticas é o principal meio de superar a ameaça da escassez de alimento prognosticada para o futuro próximo. O sucesso no desenvolvimento de cultivares adaptadas a condições adversas é totalmente dependente da diversidade genética do germoplasma disponível para estudo.

Entre as plantas cultivadas de maior relevância para alimentação humana, provavelmente nenhuma outra espécie tenha tantos parentes silvestres como a batata. São identificadas 196 espécies silvestres de batata, distribuídas entre as latitudes 38º N e 41º S, do sudoeste dos Estados Unidos até o centro da Argentina e Chile.

Devido à ampla diversidade de habitat em que estas espécies estão distribuídas, esses recursos genéticos são fonte de resistência a diversos estresses bióticos e abióticos, contrariamente às espécies cultivadas de batata que se originaram de poucas espécies silvestres e evoluíram em regiões temperadas frias dos Andes e que, com frequência, não são capazes de resistir aos ataques de pragas e doenças que ocorrem na grande amplitudede ambientes em que hoje são cultivadas.

Três espécies silvestres de batata ocorrem no Brasil: Solanum commersonii, S. chacoens e subsp. muelleri e S.calvescens. As espécies S. commersonii e S. chacoense são distribuídas no Sul do Brasil, Uruguai e Argentina, enquanto S. calvescens é endêmica do Brasil e ocorre apenas no Sudeste do Brasil, no estado de Minas Gerais.

Desde 1986, a Embrapa Clima Temperado vem desenvolvendo atividades com o objetivo de conservar, caracterizar e promover o uso dos recursos genéticos de batata oriundos do Brasil. Viagens de coleta entre os paralelos 26oS e 33oS resultou no resgate de mais de 100 acessos, os quais estão conservados no banco ativo de germoplasma de batata e parentes silvestres.

Recentemente a Embrapa obteve, junto ao Ibama, autorização para pesquisa científica das atividades do projeto “Explorando o germoplasma silvestre de batata na busca por fontes de resistência e estresses bióticos e abióticos” e, como fruto desse projeto, alguns acessos tem se mostrado promissores quanto  à resistência a pragas e doenças de importância econômica no cultivo comercial de batata.

O futuro é promissor quanto o uso mais eficiente desses recursos genéticos. Os avanços na área de genômica surgem como um importante meio para facilitar o acesso à riqueza genética conservada no banco de germoplasma. Tanto através da descoberta de genes de interesse, fazendo uso de ferramentas de bioinfomática, quanto por facilitar a introdução desses genes nos clones avançados do programa de melhoramento genético de batata, através da seleção assistida por marcadores moleculares. Os recursos genéticos de batata nativos do Brasil são um patrimônio Nacional. Os estudos que vem sendo desenvolvidos de caracterização e avaliação desse germoplasma são essenciais para colaborar com a mitigação dos impactos negativos do aquecimento global na bataticultura brasileira.

Caroline Castro - Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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