Caprinos e Ovinos

O associativismo como ferramenta para a inclusão de agricultores familiares produtores de caprinos e ovinos no Território do Vale do Curu-Aracatiaçu (CE)


Publicado em: 17/11/2010 às 20:17hs

...

A agricultura familiar no Nordeste brasileiro tem como uma das alternativas para a convivência com o semiárido a produção de caprinos e ovinos como forma de geração de renda, empregos e de inclusão social. O Estado do Ceará é um dos maiores produtores de pequenos ruminantes no país e possui o maior percentual de áreas semiáridas em seu território, aproximadamente 90% do total. Portanto, neste Estado, estão sendo desenvolvidas diversas ações de pesquisa e transferência de tecnologias de forma a promover sustentabilidade nas áreas rurais, por meio do fortalecimento das cadeias produtivas da carne ovina e do leite e carne caprina.

Com esse intuito, a Embrapa Caprinos e Ovinos, por meio do projeto Integração das Unidades Demonstrativas de Produção de Carne e Leite de Caprinos e Ovinos e seus Derivados no Estado do Ceará, está avaliando os impactos das ações de transferência de tecnologias para agricultores familiares produtores de caprinos e ovinos. Espera-se identificar os instrumentos para a inserção socioeconômica e o fortalecimento das unidades familiares produtoras de pequenos ruminantes, possibilitando o desenvolvimento local.

A metodologia utilizada foi o acompanhamento de Unidades Técnicas de Referência dos sistemas de produção de carne de caprinos e ovinos, produção de leite de caprinos, unidades de beneficiamento de carne caprina e ovina e unidades de beneficiamento de leite caprino, previamente implantadas a partir de outros projetos de transferência de tecnologia e pesquisa participativa. Nos territórios selecionados, foram aplicados questionários e realizadas capacitações com agricultores familiares produtores de caprinos e ovinos.

Um  desses territórios foi o Vale do Curu Aracatiaçu que, em 2003, foi escolhido para a execução de projetos de intervenção para o desenvolvimento local sustentável, por meio do fortalecimento da agricultura familiar, devido  a  algumas características, como o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Dessa forma, foram priorizadas atividades tradicionais da agricultura familiar, como o artesanato, galinha caipira, ovinocultura, caprinocultura, bovinocultura de leite, horticultura, fruticultura, piscicultura e apicultura.

Verificou-se que as Unidades Técnicas de Referência nesse território fazem parte de uma rede social constituída por agricultores familiares produtores de caprinos e ovinos que, por iniciativa própria para a geração de renda e inclusão social, e de forma solidária, priorizaram a produção de carne de pequenos ruminantes. Uma parte dessa produção é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e para eventos regionais.

Existem pelo menos quatro formas tradicionais de acesso aos mercados: acesso direto, intermediação via atravessador, integração com a agroindústria e compras governamentais. Dessa forma, identificaram-se as três primeiras alternativas de inserção em mercado a partir da formação destes empreendimentos. Acredita-se que a inserção em formas alternativas de mercados para produtos da agricultura familiar servirá de plataforma para o acesso a mercados mais exigentes.  As organizações de produtores, por meio das associações, é uma das alternativas para o desenvolvimento local; no entanto, a sustentabilidade desses empreendimentos irá requerer ações que exigirão novos conhecimentos tecnológicos, gerenciais e mercadológicos para se  qualificarem  na conquista desses novos nichos.   

Essas associações são inovações organizacionais formadas a partir da solidariedade e representam alternativas para terem acesso à informação, às novas tecnologias para aumentarem a eficiência e eficácia na produção e comercialização de seus produtos e serviços. Essas iniciativas possibilitaram a formação de um arranjo institucional com a participação do Banco do Nordeste (BNB), Agência Econômica de Desenvolvimento Local (ADEL) e Embrapa Caprinos e Ovinos, garantindo o apoio necessário para as ações de transferência de tecnologia num ambiente participativo entre os diversos atores do processo.

O arranjo institucional possibilitou uma aprendizagem coletiva, sendo um dos pilares para as inovações sociotécnicas, contribuindo para o surgimento de novas oportunidades para a inserção econômica e social dos produtores familiares, por meio de novos conhecimentos tecnológicos com o foco na produção de carne de caprinos e ovinos.

Assim, percebe-se claramente que essas associações, ao definirem seus objetivos, optaram  pela especialização na produção de carne de caprinos e ovinos, aliando a valorização de produtos locais e tradicionais com a inclusão econômica e social. Partindo dessa premissa, pode-se afirmar que as formas solidárias de associativismo são um importante canal para a inclusão dos produtores familiares no território, garantindo o acesso a novos tipos de mercados e conhecimentos por meio das capacitações técnicas.

Contudo, apesar das iniciativas solidárias das associações, formação de um arranjo institucional e da definição do foco das atividades produtivas, percebe-se que essas mesmas associações apresentam fragilidades no planejamento e gestão das unidades produtivas e escala da produção das associações. Outro ponto a ser destacado é que embora exista a valorização de atividades tradicionais, está ocorrendo falta de atenção frente às oportunidades de promoção do local por meio de ações de valorização das práticas e produtos tradicionais.

Um dos grandes desafios para que esses empreendimentos se viabilizem e possibilitem o fortalecimento da agricultura familiar e, consequentemente, do desenvolvimento local, é a necessidade de identificar, adaptar e desenvolver modelos de gestão de acordo com o porte das associações e com a visão do ambiente de atuação, de forma estratégica que possa gerar vantagens competitivas e manter as características de solidariedade e cooperação entre os produtores.

Jorge Luis de Sales Farias - Médico-veterinário, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos
Vinícius Pereira Guimarães - Zootecnista, Bolsista de Desenvolvimento Cientifico Regional do CNPq
Manoel Everardo Pereira Mendes - Administrador de empresas, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos

Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos

◄ Leia outros artigos