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A silvicultura, as indústrias moveleira e de celulose e os ecologistas


Publicado em: 19/12/2011 às 12:57hs

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As necessidades de fornecimento em fluxo contínuo da indústria moveleira e da indústria de celulose para papel determinam que estes setores tenham que investir e pesadamente na manutenção de hortos florestais e áreas de plantio conhecidas como silvicultura.

A princípio não parece que estas atividades tenham potencial de impactar tanto os ecossistemas naturais. Mas em realidade projetos de reflorestamento são bastante impactantes e por isso geram reações de toda natureza entre ecologistas.

As monoculturas de eucaliptos e pinus que são as duas espécies mais comuns nos grandes projetos de reflorestamento causam grandes impactos. O primeiro e mais óbvio é que a resistência de um ecossistema é a soma dos elementos que constituem este ecossistema.

Monoculturas de qualquer espécie, tanto vegetais quanto animais ou de qualquer natureza trazem o prejuízo de serem muito vulneráveis na medida em que representam uma só ou poucas espécies associadas.

Existem ainda muitos outros impactos associados a flora, fauna, recursos hídricos e a própria monocultura que está sendo desenvolvida que sofre impactos decorrentes da própria natureza do evento.

Ainda assim é preciso reconhecer que o principal impacto está na alteração dos ecossistemas, cuja complexidade e multifatorialidade dificultam as ações de mitigação e atenuação. Muitas vezes se deixa de agir na prevenção ou precaução porque é muito difícil discernir todas as relações que podem ser afetadas.

A implantação de monoculturas em atividades silvícolas associadas a pólos moveleiros ou celulósicos produz o que se chama de deserto verde, pois a monocultura de espécies exóticas interfere profundamente nos ecossistemas locais, alterando tanto a fauna quanto a flora e desarticulando a rede complexa de relações que define o ecossistema do local.

Existem casos comprovados de que a ação dos ventos acaba por disseminar a espécie exótica por áreas adjacentes à plantação da floresta manejada, com conseqüências difíceis de serem completamente avaliadas.

Não existe presença humana que não produza algum tipo de alteração nos meios físico e biológico, que juntamente com o antrópico constituem o meio ambiente. Nem em comunidades indígenas, onde é reconhecida a integração entre o homem e o meio natural, deixam de ocorrer impactos ambientais ainda que mitigados e muito minimizados.

As atividades de reflorestamento ou silvicultura, da forma como são conhecidas é ao mesmo tempo preservadora e predadora do meio ambiente. É predadora no momento que interfere nos ecossistemas locais de forma que nem sempre é compreendida em sua totalidade, alterando as relações locais naturais entre os múltiplos fatores que controlam a flora e a fauna.

Mas a questão é que ao agir desta forma, são preservadas outras áreas da ação impactante gerada pelas monoculturas da silvicultura. Portanto no fundo se trata de escolher áreas onde os ecossistemas são mais resistentes ou menos vulneráveis às ações predadoras desta atividade.

Áreas de encostas que são muito suscetíveis a ações de escorregamento quando não estão protegidas podem ser regiões preferenciais para instalação de grandes projetos de reflorestamento, ainda mais quando são áreas de encostas elevadas onde os níveis de profundidade dos lençóis freático ou subterrâneos são grandes.

Nestes casos, além de proteção contra instabilizações superficiais dos terrenos, sejam rochas ou solos, não vai haver alteração relevante nos níveis de disponibilidade dos recursos hídricos e os impactos serão minimizados adequadamente.

Mas é certo que este artigo não esgota o tema e que ainda haverão muitas discussões importantes e fundamentadas sobre os impactos ambientais gerados ou evitados pelas necessidades de reflorestamento impostas pelas indústrias moveleiras e celulósicas.

Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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