Meio Ambiente

Zerar o desmatamento não impacta economia nacional

Em estados de fronteira agrícola, como Mato Grosso e Pará, pequenas perdas podem ser compensadas com instrumentos políticos existentes e pequenos ganhos de produtividade


Publicado em: 21/11/2017 às 15:00hs

Zerar o desmatamento não impacta economia nacional

Acabar com o desmatamento no Brasil e, consequentemente, com a expansão da fronteira agrícola, teria um impacto praticamente nulo social e economicamente no país. Estados com maior participação da agropecuária em sua economia ou com grandes estoques de terra onde é possível desmatar legalmente, como Pará e Mato Grosso, teriam uma redução do PIB mais intensa. Isso acontece, principalmente, por conta de perdas de áreas de pastagens. Esse é o principal resultado do estudo recém-lançado Qual o Impacto do desmatamento zero no Brasil?, idealizado e coordenado pelo Instituto Escolhas, e realizado a partir de parceria com pesquisadores do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

“Os dados mostram, porém, que ganhos adicionais moderados a pequenos de produtividade compensariam o efeito negativo nesses estados. Taxas históricas observadas indicam que esses ganhos seriam possíveis e provavelmente estão em curso. Além disso, essas assimetrias também poderiam ser corrigidas por instrumentos de políticas públicas já existentes, como o Fundo de Participação dos Estados”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Escolhas.

Segundo o estudo, se todo o desmatamento – e a consequente expansão da fronteira agrícola – no Brasil acabasse imediatamente, seja legal ou ilegal, incluindo terras públicas e privadas, haveria uma redução de apenas 0,62% do PIB acumulado entre 2016 e 2030, o que corresponderia a uma diminuição do PIB de R$ 46 bilhões em 15 anos, ou R$ 3,1 bilhões por ano.

Nesse cenário, chamado DZAbs, apesar do desmatamento projetado ser maior no Pará, Mato Grosso teria uma perda de PIB relativamente maior, o que se reflete nos demais itens analisados (consumo das famílias, emprego e salário). No Pará, a perda de PIB seria de 2,05% e, no Mato Grosso, de 3,17%. Isso acontece porque a pecuária (corte e leite) representa uma parcela maior do valor total da produção em 2016 (5,4%) em Mato Grosso do que no Pará (4,2%). Além disso, o setor de mineração (que se beneficiaria com as exportações, a partir da desvalorização do real causada com o fim do desmatamento) também é relativamente maior no Pará (10,6% do valor total da produção do estado em 2016), em comparação com Mato Grosso (0,4%).

No segundo cenário projetado pelo estudo do Escolhas (no qual o desmatamento público é zero em 2030 e o desmatamento privado em áreas permitidas continua apenas sobre os estoques de elevada aptidão agrícola, chamado DZ2), contudo, o resultado se inverte: a perda de PIB é maior no estado que tem maior desmatamento (1,35% no Pará e 0,91% no Mato Grosso). O que acontece é que o desmatamento é maior, em termos relativos, no Pará do que em Mato Grosso. Enquanto no DZAbs a relação desmatamento no Pará/Mato Grosso é de 1,2, no DZ2, essa relação é de 2,8. Isso significa que ainda há mais terras disponíveis de alta e muito alta aptidão agrícola em Mato Grosso do que no Pará.

O estudo simulou, ainda, um terceiro cenário (DZ3), no qual o desmatamento público continua zero em 2030, mas o desmatamento privado acontece sobre todos os estoques permitidos independentemente da aptidão agrícola. Nesse cenário, as perdas seriam ainda mais baixas nos dois estados (0,23% no Pará e 0,14% no Mato Grosso).

O diretor do Escolhas explica, ainda, que o estudo adotou uma abordagem de modelagem e parametrização conservadora, cujo objetivo foi acentuar os impactos negativos do fim do desmatamento sobre a economia. “Com isso, esses resultados representam uma análise bastante próxima do impacto potencial máximo, e por isso improvável, do fim do desmatamento sobre a economia nacional e dos estados. As simulações não consideraram, por exemplo, os impactos de um pequeno aumento da produtividade da pecuária, que são importantes, mas ainda não são numericamente detectáveis”, diz Leitão.

Fonte: Núcleo de Conteúdos Ambientais (NUCA)

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