Milho e Sorgo

Vassoura igual à do sítio

Plantação de sorgo-vassoura ocupa 970 hectares em distrito de Paiçandu (Norte). Mercado quer de dúzia, mas o cultivo se aprende na prática


Publicado em: 24/04/2014 às 16:30hs

Vassoura igual à do sítio

Tradição não se varre com o tempo. Plantar sorgo-vassoura ainda é uma atividade rentável para quem vive em Água Boa, distrito de Paiçandu, no Norte do Paraná. Por lá, as moitas tomam conta de cerca de 400 alqueires (970 hectares), conforme dados da prefeitura, e, após serem transformadas na principal ferramenta de limpeza das donas de casa, conseguem “brigar” no mercado local com as vassouras de fibras sintéticas.

A confecção é artesanal, conforme explica o agrônomo do Instituto Emater de Paiçandu, Aguinaldo José Casagrande. O ciclo dura três meses. Após o corte as sementes são retiradas das panículas com um facão ou, em alguns casos, com máquinas improvisadas pelos próprios produtores. Na sequência, os ramos do sorgo passam pela secagem, armazenados por 24 horas, geralmente, em galpões. Por fim, é feita a amarração dos feixes e a costura.

Ari Pastres é um dos pro­­dutores que cultivaram a planta ao longo dos anos. Há três décadas ele se dedica à cultura em 40 alqueires (97 ha). O agricultor conta que sobrevive do plantio de soja, mas reforça a renda anual com a venda das vassouras. Em cada alqueire é possível colher sorgo para confeccionar até 3 mil vassouras e arrecadar R$ 30 mil.

Os cuidados o agricultor diz ter aprendido por conta própria, como outros produtores do setor. O cultivo é semelhante ao milho, mas os custos são menores em função do uso reduzido de adubos e herbicidas. “A gente nem sabe se a quantidade de veneno que se passa é a correta. A gente copia o método que agrônomo indica para cuidar do milho. Tem dado certo”, garante. Até o preparo das sementes também é feito nas propriedades durante as colheitas.

Para vender, os agricultores não precisam sair do campo. Pastres conta que cerca de 70% da produção são entregues para supermercados, empresas de limpeza e vendedores ambulantes dos municípios vizinhos. O que sobra é comprado pelos próprios clientes que vão até a propriedade.

A comercialização em maior número é feita por dúzia. Cada uma é vendida a R$ 72. Mas, o produtor garante que o gosto do cliente também é determinante na confecção. “Tem gente que pede uma vassoura mais grossa, mais robusta. A gente faz, mas aí o preço é outro (R$15).”

O agricultor Antônio Men­des dos Reis diz que a tarefa de produzir e colher já é suficiente. “Deixo a venda para quem sabe negociar.” Adepto à cultura há mais de 20 anos, planta 20 alqueires (48 ha), intercalando com milho e soja. Para ele, a alternativa tem ajudado a permanência na roça. Mas Reis se esquiva ao falar dos lucros. Temeroso, diz acreditar que comentar sobre valores pode causar alarde, o que, segundo ele, resultaria em um “boom” de plantações na região e esfriamento das vendas.

Falta mão de obra para enfrentar os sintéticos

Apesar da rentabilidade e da preferência de boa parte dos consumidores, a falta de mão de obra na roça e na fábrica dificulta a situação das vassouras de palha na disputa por mercado diante das vassouras sintéticas. Parte do trabalho de campo não é mecanizada. O plantio (realizado duas vezes por ano) é feito com máquinas, mas o aperto vem na colheita, inteiramente manual.

A atividade perde trabalhadores há pelo menos uma década, segundo o agrônomo Aguinaldo José Casagrande. As diárias de R$ 90 nem sempre atraem os desempregados. Encontrar gente habilidosa para amarrar as vassouras também não é fácil.

“As famílias acabam fazendo tudo por conta própria, o que dificulta o crescimento. Alguns até improvisam algumas máquinas reaproveitas de moedores de cana ou ração, mas nem sempre dá resultado”, relata Casagrande.

Fonte: Gazeta do Povo

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