Saúde Animal

Saúde intestinal dos animais

Estima-se que a carga microbiana total presente no intestino de mamíferos seja de 1012 a 1014 microrganismos, cerca de 10 vezes o número de células do hospedeiro


Publicado em: 18/05/2018 às 07:20hs

Saúde intestinal dos animais

O intestino é a parte caudal do canal alimentar, e divide-se em intestino delgado e intestino grosso. O intestino delgado compreende duodeno, jejuno e íleo, e o grosso é composto por ceco, cólon e reto. No delgado a superfície da mucosa aumenta consideravelmente, devido à presença das vilosidades intestinais, essenciais para a absorção de nutrientes, a principal função do intestino delgado. O intestino grosso não apresenta essas vilosidades, e sua principal função é a reabsorção de água e eletrólitos, antes da eliminação do bolo fecal (KONIG & LIEBICH, 2016). 

Diversos estudos revelam a complexa microbiota que habita o trato gastrointestinal de mamíferos e aves, incluindo bactérias, fungos, protozoários e vírus. Estima-se que a carga microbiana total presente no intestino de mamíferos seja de 1012 a 1014 microrganismos, cerca de 10 vezes o número de células do hospedeiro. O conteúdo genético desses microrganismos é definido como microbioma intestinal (SUCHODOLSKI, 2010).

Essa diversificada população de microrganismos influencia diretamente o desenvolvimento, a regulação e a função do sistema imunológico. Sabe-se que o GALT, tecido linfoide associado ao intestino, possui cerca de 60 a 70% de todos os nossos linfócitos (BELLANTI, 2012). Estima-se que mais de 80% das células B ativadas do corpo sejam encontradas no intestino. A microbiota modula a imunidade sistêmica, uma vez que múltiplas populações de células imunes intestinais requerem a microbiota para seu desenvolvimento e função. Por outro lado, um sistema imunológico mais robusto é mais capaz de combater patógenos microbianos e fornecer uma residência saudável para bactérias comensais.

A microbiota combate agentes patogênicos por diversos meios de ação. Atua competindo por metabólitos essenciais e nutrientes (mecanismo denominado de exclusão competitiva), e produzem substâncias (bacteriocinas e ácidos graxos de cadeias curta e média) que inibem o desenvolvimento dos patógenos. Assim, o organismo hospedeiro e sua microbiota atuam sinergicamente contra agentes infecciosos (LEE & MAZMANIAN, 2010; TIZARD & JONES, 2017).

As bacteriocinas produzidas pelas bactérias benéficas presentes em nossa microbiota (bactérias lácticas) são peptídeos pequenos, termoestáveis e de espectro antibacteriano, podendo inibir o crescimento de bactérias patogênicas gram-positivas, leveduras e algumas espécies de bactérias gram-negativas.

A maioria das bacteriocinas age permeabilizando a membrana por meio da formação de poros, o que promove a dissipação da força próton motora e a inibição do transporte de aminoácidos, levando à morte celular. Outras bacteriocinas podem inibir também bactérias gram-negativas, porém, precisam transpor a membrana externa da parede celular e alcançar a membrana plasmática da célula-alvo para atuarem (OGAKI & FURLANETO, 2015).

Os principais ácidos orgânicos produzidos são o acético, o propiônico, o butírico e o lático. Em sua forma não dissociada, ou seja, não ionizada, atravessam a membrana celular. Uma vez no interior do microrganismo, os ácidos se dissociam, reduzem o pH interno (mantido próximo de 7,0) e inativam as enzimas celulares e o sistema de transporte de nutrientes (PARTANEN & MROZ, 1999). Na tentativa de reestabelecer a homeostase celular, o microrganismo inicia um processo de retirada dos prótons acumulados em seu interior, por meio da bomba de Na/K, processo ativo (gasto energético) que promove o esgotamento e morte celular.

Não é difícil compreender a razão pela qual, quando há desequilíbrio (disbiose) na microbiota intestinal, favorecendo o desenvolvimento de bactérias patogênicas, o organismo se torna mais susceptível ao aparecimento de doenças.

Na literatura encontram-se diversas pesquisas que correlacionam a disbiose intestinal com diferentes distúrbios metabólicos, o que demonstra a importância de tecnologias desenvolvidas visando fortalecer as bactérias benéficas que colonizam o intestino, amplamente utilizados na nutrição humana e animal, como os prebióticos, os probióticos, os ácidos orgânicos e os óleos essenciais.

Por Fabiana Luiggi, PhD e Coordenadora de Pesquisas Aplicadas da Yes