Meio Ambiente

Área de extração de bauxita em MG é recuperada com mata, café e pasto

Retirada do minério que dá o alumínio causa danos ao meio ambiente. Recuperação gera renda para o agricultor e devolve floresta para a região.


Publicado em: 26/10/2017 às 10:20hs

Área de extração de bauxita em MG é recuperada com mata, café e pasto

A extração

O alumínio é um desses elementos da natureza que de tão incorporados no dia-a-dia muitas vezes as pessoas não se dão conta de onde é que ele vem. Mas antes do metal virar diversos produtos, sua matéria-prima, a bauxita, precisa ser retirada do campo e isso afeta a natureza e a vida do agricultor.

A Zona da Mata de Minas Gerais é também conhecida como mar de morros devido a paisagem bonita bastante característica da região do estado. Os pontos mais altos dessa ondulação ficam em torno de 650, 850 metros de altitude. Justamente onde ocorre grande parte da bauxita encontrada no local.

A bauxita é a matéria-prima do alumínio e a cadeia de montanhas, um reservatório desse minério, que se estende numa faixa de 38 km de largura e 300 km de extensão, vai do município de São João Nepomuceno até Manhuaçu. Por dentro de toda a morraria existe algo em torno de 150 milhões de toneladas de bauxita.

A convite do Globo Rural, o agricultor Gilmar Ribeiro acompanhou o trabalho que está sendo feito nas terras que arrendou para a mineradora em São Sebastião da Vargem Alegre. Os quatro hectares onde ele tinha pasto e umas 15 cabeças de gado ficaram irreconhecíveis. “Por um lado a gente assusta, a gente não estava acostumado, não esperava assim, de tanto barranco assim".

A remuneração acima da média é o que tem atraído os agricultores e feito com que eles permitam a extração nas suas propriedades. O valor depende da quantidade de bauxita na área e da atividade que se tinha na terra. A empresa ainda promete recuperar o terreno depois.

“O processo de lavra leva, em média, de um mês até cinco meses. O processo de lavra realmente é muito rápido e depois vem o processo de reabilitação que aí sim leva em torno de três a quatro anos”, explica o engenheiro de minas - CBA, Christian Fonseca de Andrade.

Não tem jeito. Se quer o alumínio é preciso saber que o trabalho de extração gera uma cena que muita gente pode associar a uma destruição. Do local da extração é tirada a vegetação, removida toda a terra da superfície até chegar ao minério que está mais para baixo. Nessa região do Brasil, a bauxita geralmente é encontrada a uma profundidade que varia de 50 centímetros a dois metros.

A formação da bauxita se deu há bilhões de anos basicamente com os altos e baixos da temperatura, as variações de umidade e a ação do vento. O agrônomo Ivo Ribeiro, especialista em solos da Universidade Federal de Viçosa, diz que, por conta dessas intempéries, onde há bauxita, a terra é naturalmente fraca. “O ambiente tropical úmido, chuvoso, favorece a perda desses nutrientes, isso auxilia na formação bauxita. Ou seja, a ocorrência do próprio minério bauxita está condicionada à perda dos nutrientes”.

No processo de escavação, a máquina leva poucos minutos para encontrar a bauxita. São torrões de tonalidade mais clara que a terra. A partir de um determinado ponto, o minério pode chegar a uma profundidade de até 17 metros.

O trabalho de extração, no campo, resulta numa montanha gigantesca de argila, areia e bauxita. O material que ainda é bruto, vai passar por um processo de beneficiamento para separar o minério que representa 50% do total desse volume.

Na usina da Companhia Brasileira de Alumínio, em Miraí, uma sequência de esteiras se encarrega de fazer o trabalho. O que é descartado, fica na barragem de rejeito e a bauxita que jorra no final do processo ainda vai seguir para uma fábrica no estado de São Paulo. De cada 12 toneladas de bauxita que saem do local é possível fazer uma de alumínio.

Vale lembrar que a bauxita é um recurso não renovável e já que o solo onde ela se encontra é bastante frágil torna-se fundamental que a extração seja feita com planejamento ambiental, social e econômico.

Trabalho de recuperação

Que a extração da bauxita provoca feridas no meio ambiente, não restam dúvidas. Sua extração requer maquinários pesados e a remoção do solo mexe inclusive no desenho do relevo. No intuito de cicatrizar essas feridas, a Universidade Federal de Viçosa vem acompanhando um trabalho de recuperação nas propriedades da Zona da Mata de Minas Gerais. E o resultado tem dado renda para o agricultor e mais: devolvido até a floresta em áreas mineradas.

Não passa um dia sem que o agricultor Marcílio Pacheco chame suas vacas para a ordenha. A vida inteira foi assim, dando nome aos animais, enchendo o balde de leite, sustentando a família como retireiro. Diante de tantas opiniões contrárias, Marcílio só permitiu a presença da mineradora depois de muita conversa com sua esposa, Elvira. A decisão do agricultor e sua esposa tomaram sete anos atrás mudou a realidade de pelo menos dez hectares da propriedade.

A bauxita que tinha na área foi retirada e Marcílio recebeu o pasto todo recuperado. No lugar do capim gordura foi plantado o braquiarão. Segundo ele, hoje a propriedade tem umas 70 cabeças de gado. Segundo ele, até a saúde dos animais melhorou. “Minha comparação, eu vejo falar, naquele programa do Lata Velha. A minha comparação está naquela. Quanto está passando um carro velho que reformou e fez um novinho eu lembro dessas minhas pastagens dessas”, conta o agricultor.

Com a reforma, o tal "carro novo" do Marcílio passou a valer mais: de R$ 3 mil o hectare para R$ 18 mil o hectare. O preço da terra multiplicou seis vezes.

Desde que a Universidade Federal de Viçosa passou a se envolver com o trabalho de recuperação das áreas mineradas, amostras de solo começaram a ser analisadas em várias frentes de pesquisa. Uma delas, visa estudar a capacidade de regeneração dos locais que foram totalmente mexidos durante o processo de extração da bauxita.

Na área florestal, a coordenação do estudo está sob a responsabilidade do professor Sebastião Venâncio, que vem se impressionando com os resultados. O que nasceu no local é fruto do que já havia na camada mais superficial da terra de onde foi retirada a bauxita. O chamado solo rico. "É difícil você encontrar uma área com plantio de mudas apenas que dê um resultado como esse. O manuseio é muito bem feito", explica Sebastião.

A extração que a pesquisa tem aprovado é feita em várias etapas: primeiro se tira o solo rico, com o cuidado de amontoar porque ele será usado mais tarde. Depois, vem a remoção da bauxita, o que pode reduzir bastante o topo do morro.

Já o trabalho de recuperação começa com o ajuste topográfico, que acerta o relevo em seu novo desenho. Logo em seguida, vem a escarificação, para descompactar o solo e permitir a penetração de água e nutrientes. Daí, o solo rico que foi amontoado no início do processo, é espalhado em todo o terreno. Por fim, é feito o terraceamento com as curvas de nível e a correção com calcário, fosfato e cama de frango.

Com a retirada da bauxita, a nova estrutura do solo fica dividida. Na parte de cima, a parte rica, fértil, e até mais escura. Logo abaixo, o chamado saprolito, uma camada pouco nutritiva, pobre e que nunca tinha sido mexida antes do processo de recuperação.

Em uma área experimental, a universidade, juntamente com a mineradora, vem acompanhando o desenvolvimento do café, uma tradicional cultura na região e que é bastante exigente em nutrição.

Em outro talhão, está sendo testado o cultivo do eucalipto, outra cultura bastante presente nas propriedades da Zona da Mata de Minas Gerais. A nova estrutura do solo também tem dado conta de aguentar espécies mais densas, originárias das florestas nativas da região.

Fonte: Globo Rural

◄ Leia outras notícias