Soja

Quebra da safra brasileira não foi tão significativa, diz analista do Rabobank

Renato Rasmussen reforça expectativa de acomodação de preços de grãos nos próximos meses


Publicado em: 24/04/2014 às 19:30hs

Quebra da safra brasileira não foi tão significativa, diz analista do Rabobank

Os preços da soja mantém a tendência de alta no curto prazo, mas devem cair nos próximos meses. É a avaliação do Rabobank em um relatório divulgado recentemente. De acordo com o banco, o aperto na oferta nos Estados Unidos e as incertezas relacionadas ao clima na América do Sul, especialmente no Brasil, no começo do ano, pressionaram o mercado a ponto de colocar a soja a patamares acima de US$ 15 por bushel na bolsa de Chicago.

No entanto, as mais recentes projeções para o novo ciclo apontam para uma tendência de pressão de baixa sobre as cotações, que podem chegar a US$ 11 por bushel. “A quebra da safra de verão do Brasil não foi tão significativa. Apesar dos efeitos da seca, a perspectiva para a produção brasileira é muito boa”, afirma Renato Rasmussen, analista de mercado de grãos do Rabobank no Brasil, em entrevista a Globo Rural.

No último relatório de acompanhamento de safra, divulgado no início deste mês, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima sua estimativa de produção de grãos, que retomou o patamar de 190 milhões de toneladas. No caso específico da soja, a produção deve crescer 5,6% em relação à safra 2012/2013 e chegar a 86,082 milhões de toneladas.

Rasmussen lembra que, neste ano, parte dos produtores brasileiros resolveu plantar uma “safrinha” de soja. Ele calcula que a revisão feita r pela Conab já contabilize a segunda safra, o que, na avaliação dele, não vinha sendo feito antes. “Mas acredito que safrinha de soja foi uma questão pontual. O agricultor está ciente dos riscos”, diz ele, que é agrônomo de formação.

Além da expectativa de maior produção brasileira, o analista do Rabobank lembra que os produtores dos Estados Unidos devem aumentar o plantio de soja e diminuir o de milho, conforme as expectativas do próprio governo do país. Com isso, a tendência é de recuperação dos atuais estoques, que estão apertados, com pressão sobre as cotações da soja.

“Até o final do ano, a gente aposta em uma reversão dos preços. Se acontecer uma boa produção nos Estados Unidos, com uma produção boa na América do Sul, vai pressionar os preços. A gente está vendo que os estoques de curtíssimo prazo estão muito apertados, mas a gente está com uma condição de reverter esses estoques.”

Milho

Com relação ao mercado de milho, a expectativa do Rabobank também é de uma acomodação nos preços, que podem chegar ao nível de US$ 4,70 por bushel na bolsa de Chicago. As atenções do mercado internacional neste momento estão voltadas, em parte, para o plantio nos Estados Unidos, que deve ser menor que o do ano passado além de estar mais lento que no ano passado.

O relatório, o banco destaca, com base em dados dos sistemas de meteorologia dos Estados Unidos, que existe pelo menos 50% de chances de ocorrência do fenômeno El Niño, marcado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “A partir da definição da área plantada nos Estados Unidos, a produção dependerá do desenvolvimento climático, principalmente entre maio e junho”, destaca o relatório, lembrando ainda que o inverno americano foi bastante rigoroso, o que pode retardar o degelo do solo e atrasar o plantio.

O mercado está atento também à segunda safra no Brasil, que teve a semeadura atrasada em função do clima, gerando incertezas. O analista do Rabobank no Brasil destaca que parte do plantio da safrinha em Mato Grosso, maior produtor nacional, foi feito fora da janela considerada ideal, o que afeta a produtividade da lavoura.

“Temos que ficar atentos. Existe espaço para o mercado trabalhar com preços um pouco mais altos operando clima. Tanto em relação à safrinha aqui do Brasil quanto em relação à safra de milho nos Estados Unidos”, diz Renato Rasmussen, para quem, mesmo com a expectativa de queda em relação ao ano passado, a produção brasileira de milho está “em patamar elevado”.

Outro ponto de incerteza para o mercado de milho é a situação política na Ucrânia e a tensão com a Rússia, terceiro maior exportador mundial do grão. De acordo com o analista, a região Criméia, recentemente anexada pelos russos, está próxima de três importantes portos ucranianos.

“Qualquer problema maior na Ucrânia poderia interromper o fluxo de navios por esses portos. Então o mercado está um pouco ansioso em relação a isso. Essa condição é alheia ao problema de fundamentos, mas temos que monitorar.”

Gripe aviária

O relatório do Rabobank chama a atenção ainda para a situação da gripe aviária no continente asiático, um fator que pode interferir na demanda por grãos, especialmente da China. O documento ressalta que, da parte dos chineses, já ocorreram diversos cancelamentos de embarques de soja para maio do Brasil e da Argentina “supostamente devido aos impactos da gripe aviária.”

Renato Rasmussen lembra ainda que, além do problema na avicultura na Ásia, a suinocultura dos Estados Unidos está sofrendo com o problema da diarreia epidêmica, doença que levou o Departamento de Agricultura do país (USDA) a tomar medidas emergenciais.

Para o analista, de uma forma geral, no curto prazo, os efeitos dessas doenças sobre demanda por milho e soja podem trazer um certo “fôlego” para o mercado. “Essas doenças podem implicar em redução da demanda de soja e de milho, apesar disso ser pontual. É importante considerar que isso dá um pouquinho de fôlego para o mercado.”

Fonte: Globo Rural

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