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Proteína animal: Sindirações mapeia desafios e perspectivas da cadeia produtiva

As reflexões fizeram parte do discurso de Ariovaldo Zani durante a Fenagra 2018


Publicado em: 14/06/2018 às 08:00hs

Proteína animal: Sindirações mapeia desafios e perspectivas da cadeia produtiva

As reflexões fizeram parte do discurso de Ariovaldo Zani durante a Fenagra 2018

Vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani foi um dos palestrantes da edição 2018 da Feira Nacional da Agroindústria/FENAGRA, realizada no mês de maio, em Campinas, interior de São Paulo. Na ocasião, convidou os participantes a refletirem sobre temas que envolvem “desafios e perspectivas da cadeia produtiva de proteína animal”. A seguir estão os pontos de destaque do discurso:

Oportunidades

De acordo com Zani, é flagrante a contínua prosperidade da agricultura no Brasil. Essa afirmação se justifica basicamente por três fatores.

1. Ampliação das oportunidades para exportações do Brasil ao mercado chinês, diante do enfraquecimento do relacionamento entre Estados Unidos e China, por conta das mútuas retaliações;
2. Aumento receita exportações agrícolas por conta do câmbio, e relacionada também ao movimento americano de aumento da taxa de juros/enxugamento monetário nos Estados Unidos;
3. Os efeitos climáticos da Argentina, que, após sofrer com seca e queda na safra, contribuiu para aumento dos preços da soja, privilegiando o Brasil como fornecedor alternativo.

Ameaças

• China – Para os empreendedores do agronegócio, a questão do Capitalismo de Estado da China merece atenção. Originados de uma nação praticamente agrícola, hoje já é o país mais industrializado do mundo e cresce continuamente. Tenciona também tornar-se o maior expert em inteligência artificial e tem como prioridade a política climática. Inclusive, em defesa da qualidade do ambiente local, adere à prática de importar quando a produção gera risco de poluição. Nesse contexto, os chineses têm demonstrado grande interesse pelo agronegócio brasileiro, com investimentos em logística e empresas, além do desejo de comprar terras no Brasil para produzir e exportar para si próprios;

• Rússia – Tradicional compradora de carne suína brasileira, no entanto, vem há tempo sinalizando a intenção de se tornar autossuficiente na produção da iguaria e caminha com sucesso para o objetivo. Prova disso é que as exportações brasileiras para o país em questão já encolheram cerca de 26%;

• Europa – O protecionismo europeu criou um critério de oneração sobre a soja que é exportada, o famigerado LUC (fator de alteração do uso da terra). Em resposta, o Sindirações se uniu em discussões com europeus e norte-americanos através do GFLI (Global Feed Life Cycle Assessment Institute). O esforço é evitar que as exportações agropecuárias brasileiras sofram taxação por externalidades;

• Compliance – Recentemente ao visitar o Brasil, as autoridades chinesas descartaram a necessidade de inspecionar a qualidade dos produtos, pois estavam mesmo interessadas em averiguar o compromisso ético, ou a conduta do produtor. A missão incluía a checagem de boas práticas de governança, conjunto de infrações e punições ao setor privado. “Além disso, a percepção externa é de um Brasil ainda com insegurança sanitária. E lamentavelmente, os últimos episódios constituem motivos para isso”, comenta Zani.

• Exportação de frango – O Brasil segue como líder mundial na exportação de frango, no entanto, a taxa de crescimento nesse quesito tem encolhido, ano a ano, ficando em torno de 6%. Enquanto isso, a Tailândia avança 17% ao ano e, em termos de crescimento proporcional, já lidera o ranking dos exportadores. Os motivos da queda brasileira estão relacionados à insegurança jurídica/compliance, à burocracia regulatória, e ao crescente custo de produção e de mão de obra.

Pontos Fortes

• Soja e milho – O Brasil continua sendo um grande produtor de soja, com safras recordes e generosas. Nesse ano, particularmente, a produção avançou quase 3%. O País deve encerrar o ano como o maior produtor da oleaginosa no mundo, ultrapassando pela primeira vez os Estados Unidos. Com relação ao milho, apesar do retrocesso da ordem de 9% na produção, ainda possui rentabilidade muito alta, o que devolve capitalização ao produtor;

• Disponibilidade de pastagens degradadas passíveis de recuperação – Diante da demanda mundial por mais alimentos para suprir a necessidade das atuais e próximas gerações, o Brasil se mostra como um produtor em potencial, graças à extensa área de pastagens degradadas que através da correção do solo, têm capacidade de produzir adicional quantidade de milho e soja. Alie isso ao fato de o Brasil ser o país com a maior preservação ambiental, superando 66% do território nacional, contra 25% da União Europeia e apenas 14% dos Estados Unidos, conforme dados do Banco Mundial.

Pontos fracos

• Estrutura arcaica do Ministério – Um ponto indispensável para benefício da agropecuária brasileira depende da modificação na estrutura funcional do Ministério da Agricultura, responsável pela regulação do setor. De acordo com Zani, o órgão é extemporâneo porque não acompanhou as evoluções do mundo, do setor privado, da globalização, das redes sociais e da tecnologia em geral. “No modelo existente, observam-se práticas antiquadas de inspeção e fiscalização que abrem brechas para que oportunistas inescrupulosos manchem a imagem do País”, analisa;

• Insegurança jurídica – Outra consideração feita pelo vice-presidente executivo do Sindirações está relacionada à insegurança jurídica consequente ao mutante arcabouço legal brasileiro, e a imprevisibilidade regulatória que confunde o cumprimento das regras.

Fatores de Risco

• Eleições e câmbio - Ariovaldo ressalta que um grande fator de risco para o agronegócio está relacionado à proximidade das eleições, à incerteza dada pela polarização da extrema Direita e extrema Esquerda, e a fragilidade da candidatura de Centro que sequer apresentou proposta de Governo. Há que se considerar também a crescente valorização do dólar que invariavelmente vai estimular a inflação, seja pela insegurança política interna, pela catastrófica situação fiscal, pela guerra comercial entre americanos e chineses, pelas ameaças militares entre EUA, Irã e Coréia do Norte, pelo preço do barril do petróleo, e até pela expansão de produção de etanol de milho na China.

• Logística – Outro ponto de atenção relaciona-se à logística de escoamento de grãos no Brasil. Assim como outras interfaces da agropecuária, o Sindirações sempre pleiteou junto ao Governo Federal uma alternativa de escoamento pelo Arco Norte. “O pedido foi atendido e, de fato, muito tem contribuído na saída da safra de milho e de soja. Essa facilidade, porém, diminui a oferta interna e faz com que o preço suba. Em resumo, a facilidade é muito boa para quem produz o milho e exporta, mas para a pecuária deve ser encarada como um risco a ser observado atentamente”, avalia Zani.

Proposta do Agronegócio aos presidenciáveis

O Sindirações integra o grupo de trabalho apartidário que elaborou e encaminhou aos presidenciáveis uma proposta em prol dos interesses do agronegócio. Trata-se de um documento baseado no princípio de “apresentar soluções, ao invés de problemas”. A proposta contempla sugestões de como implementar um Ministério da Agricultura “versão 4.0”, de viés estratégico, que valorizaria as tecnologias disruptivas, de banco de dados e da inteligência artificial em que a máquina faz o trabalho “braçal” e libera o auditor fiscal para ações mais estratégicas; a análise do risco alinhada às condições sócio/geográficas; a avaliação econômica do impacto regulatório e modulação dos prós e contras na aprovação de novas leis e regulamentos; a harmonização dos sistemas públicos para que todos os auditores tenham capacidade de realizar a mesma interpretação dos fatos; e a autorregularão privada, de maneira que cada produtor tenha liberdade para determinar sua forma de produzir, porém ciente de que o produto final será auditado pela necessária arbitragem oficial e exigida pelos clientes internacionais.

Reflexões

• “Gangorra agropecuária” – Como ponto de reflexão, Ariovaldo Zani pediu atenção do setor ao movimento que ele chama da “gangorra agropecuária”. Via de regra, quando a agricultura vai muito bem e com preços em alta, o produtor agrícola está capitalizado, no entanto, o pecuarista sofre por causa desses custos, e vice-versa. Trata-se de uma discussão de décadas e para a qual os envolvidos não encontram uma solução comum;

• Carcaças de animais mortos – “Se ainda persiste dúvida quanto à sanidade no Brasil, qual seria nossa imagem diante dos clientes internacionais se oficialmente for permitida a produção de farinhas/gorduras para alimentação animal das carcaças de animais que morreram sem inspeção ou por causa indeterminada? Há que se refletir bastante antes da tomada das decisões”, salienta Zani.

O que esperar do futuro

Quando o assunto é perspectiva, Zani aposta que ainda no curto prazo as discussões envolverão iniciativas que priorizem os elementos biológicos em substituição aos químicos; a edição gênica; a potencial terceira safra; a tomada de decisão com base na inteligência artificial; uso contínuo da internet das coisas na agropecuária; conectividade crescente; biocombustíveis renováveis; privatização do crédito rural; e logística com concorrência.

Fonte: Assessoria de Imprensa Sindirações

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