Feijão e Pulses

Produtores doam feijão em protesto contra preço baixo

Foram distribuídas 19 toneladas do grão em manifestação no Oeste do Paraná


Publicado em: 22/08/2014 às 16:30hs

Produtores doam feijão em protesto contra preço baixo

O município de Três Barras do Paraná, que ostenta o título de capital do feijão, está à beira de uma crise econômica justamente por conta do grão que a tornou famosa. O produto responsável por sustentar a maioria das famílias da cidade de quase 12 mil habitantes tornou-se motivo de receio por conta dos baixos preços de comercialização.

Ontem, cerca de 200 agricultores se reuniram no centro da cidade para distribuir 19 toneladas de feijão à população - cerca de R$ 30 mil se o produto fosse vendido pelo preço mínimo estipulado pelo governo federal, de R$ 95. A ação foi realizada como forma de protesto e para pressionar a União a comprar o produto por meio da AGF (Aquisição do Governo Federal).

“Já que não está compensado vender feijão, vamos distribuir de graça, porque é uma vergonha o preço que estão oferecendo ao produtor rural. Realmente, a situação chegou ao limite. Está insustentável”, disse o agricultor Helio Brunning ao iniciar a doação. A medida drástica é reflexo do desespero dos agricultores, uma vez que o grão está sem cotação. Eles têm aceitado até R$ 30 à saca de 60 quilos, enquanto o ideal, como já ocorreu em safras anteriores, é de R$ 120 a R$ 130. O preço é tão ínfimo que não chega a cobrir os custos da produção, na casa dos R$ 70 por alqueire.

A distribuição ocorreu em frente ao Banco do Brasil, local que não foi escolhido à toa, visto que a maioria dos produtores está endividada com a agência, uma vez que usou empréstimos para dar início ao plantio do grão e com a invertida do mercado acabaram sem dinheiro para pagar os financiamentos. “A tentativa é realmente de sensibilizar o governo para que compre esse feijão e o estoque. Só assim para garantir o sustento de centenas de famílias de trabalhadores”, pontua o produtor Marcos Antônio Barea.

Ele, um dos organizadores do movimento, chegou a questionar a política do governo federal, que já garantiu a AGF a estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas preteriu o Paraná. “Em 35 anos trabalhando com o feijão, em uma família de produtores, essa é a pior crise de todas. Definitivamente, esse é o pior governo federal de todos os anos, pois não dá valor para o agricultor”, avalia.

CALVÁRIO

Do plantio à comercialização, a produção foi um calvário para o agricultor. “Apenas 50% foi colhido, justamente porque a safra sofreu com geada, doenças e muita chuva. Tivemos perdas mesmo antes de começar a comercializar. O produtor chegou a colher somente 50 sacos por alqueire, enquanto o ideal seriam 90”, observa Helio.

Diante dos prejuízos da cultura, os produtores concordaram de não plantar feijão na próxima safra, embora a cultura tenha sido por anos parte da história de Três Barras. “Faremos como todo mundo e apostar no milho, trigo e soja”, disse Helio.

População apoia agricultores

Com uma economia baseada fortemente na agricultura, a população não deu às costas aos agricultores e reforçou o protesto em prol da aquisição dos grãos pelo governo federal. Além disso, centenas compareceram para levar o produto para casa. Houve até mesmo filas de pessoas com sacolas nas mãos para pegar o feijão. O pedreiro Ílson Riberto Teixeirinha foi um dos primeiros a garantir o grão. “É uma resposta à falta de atitude do governo e eu concordo: melhor que deixar estragar é doar à população”, opina. Além disso, o cardápio da família vai ganhar uma força por alguns dias. “Já estou planejando uma feijoada”, brinca. O também agricultor Erni Jorge Winter levou para casa mais de dois quilos de feijão. “Com certeza, o produto vai ser bem aproveitado”. O comércio, por sua vez, também mostrou apoio aos manifestantes. “O setor já está sentido os efeitos da falta de recursos do colono. Afinal, são eles que sustentam a economia de Três Barras. Se eles não têm dinheiro, isso acaba gerando crise para todos os outros setores”, afirma a comerciante Marli Scarmocin.

Fonte: O Paraná

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