Orgânico

Produtores de Parelheiros encontraram na agricultura orgânica fonte sustentável de renda

Hoje a cooperativa do bairro rural da capital paulista tem 39 membros, que comercializam produtos em mercados da região e feiras especializadas


Publicado em: 31/10/2014 às 15:10hs

Produtores de Parelheiros encontraram na agricultura orgânica fonte sustentável de renda

Cícero Shirazawa e Lia Goes cultivam orgânicos no extremo sul da capital paulista, em Parelheiros. Conhecido por ser uma das poucas zonas rurais no município de São Paulo, o distrito se divide entre pequenos conglomerados urbanos e sítios e chácaras onde é possível transitar por estradas de terra. Nos últimos anos, pouca coisa mudou, a não ser a paisagem do roçado dos produtores que trocaram a agricultura convencional pelo plantio agroecológico.

Lia Goes, diretora da Cooperativa dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas) e produtora de hortaliças e plantas ornamentais, afirma que hoje o grupo conta com 39 membros. "O trabalho de convencimento teve início em 2007 e com a ajuda da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo, aos poucos, fui trazendo cada vez mais agricultores para os orgânicos." À época, a incubadora oferecia cursos de capacitação em agroecologia como forma de incentivar a transição para o cutivo de orgânicos. O objetivo era preparar os agricultores para plantar de forma consciente, agregando qualidade e valor comercial aos seus produtos.

Shirazawa conta que a própria ideia que se cria em torno dos orgânicos foi prejudicial no início. Segundo ele, "os agricultores convencionais estão acostumados a plantar muito e vender barato", mas com o orgânico acontece o inverso. "Você tem que investir um pouco mais de cuidado na produção e na maioria das vezes chega a lucrar o dobro. No começo, é comum achar que vai ter muita perda, que o produto vai ser feio, deformado; porque você não usa adubo químico. Tendo paciência, a gente aprende as técnicas de cultivo e produz com qualidade."

Hoje, ele, o pai, a mãe e dois irmãos cultivam em torno de 60 variedades de frutas e verduras durante o ano. "Além dos produtos tradicionais, buscamos sempre inovar para chamar a atenção dos clientes." Abobrinha amarela, couve roxa e tomate japonês estão entre as últimas novidades expostas na banca da família. Os produtos são vendidos na região e na feira de orgânicos do Parque Burle Marx, que acontece aos sábados na capital paulista.

Adubo verde

No caso de Lia, a história com os orgânicos começou muito antes da chegada da incubadora ou da fundação da Cooperapas, em 2010. "Minha mãe dizia que não tinha dinheiro para comprar pesticidas e, por isso, cultivávamos orgânicos."

As receitas aprendidas na infância, fazem parte do trato com a plantação até hoje. "Faço compostagem de restos de frutas, verduras e legumes para usar como adubo verde e também planto nabo forrajeiro, que deixa o solo fofo, e feijão de porco, para controlar ervas daninhas." Outra dica da produtora é fertilizar a terra com esterco de galinha e preparar uma mistura de leite, cal e pedaços de madeira do tronco da primavera para inibir insetos". Shirazawa prefere comprar adubos prontos. "Agora mesmo estou testando um à base de pescados marinhos fermentados", comenta.

Em relação aos combate a pragas, tanto ele como Lia, dizem que é comum na agricultura orgânica recorrer ao uso de cinzas. "Você queima os restos das largartinhas que atacam a cultura e pulveriza na plantação. Isso não mata, mas repele os ataques delas mesmas. É como se você estivesse emitindo um sinal de alerta", diz Lia.

A agricultora planta couve, mandioca, pepino, pimentão, cheiro-verde, milho, alface, alcachofra e outras variedades de hortifrutigranjeiros em pequenas quantidades. "O forte mesmo são as plantas ornamentais: a kaisuka e a tuia maçã, variedades de pinheirinho de Natal, e o buchinho. O preço é bom e elas não dão muitas pragas." A produção é destinada a jardins de São Paulo, do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O buchinho é vendido a R$ 30 a unidade e o pinheirinho, a R$ 40. Para complementar a renda, Lia também realiza trabalhos de computação, área na qual se graduou.

Certificação

Na opinião de Shirazawa, a mudança tem sido positiva. Desde 2013, a família vende os produtos diretamente para os consumidores. Para tanto, foi preciso se cadastrar (enquanto grupo) como Organização de Controle Social (OCS). O reconhecimento é fornecido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), que fiscaliza a propriedade, mas garante que o produto é orgânico com base em uma relação de confiança entre o produtor e o consumidor. Nesse modelo, os clientes da banca podem visitar a plantação e acompanhar o processo produtivo de perto. "Sem os intermediários, recebemos um preço justo pela produção", diz Shirazawa. Essa proximidade abre espaço para novas alternativas, como o turismo rural, que tem sido praticado na região.

Sementes orgânicas

A única queixa dos agricultores diz respeito à carência de sementes orgânicas. "A dificuldade de encontrar sementes é tão grande que organizamos encontros para fazer trocas entre produtores", afirma Lia. Este ano, o problema repercutiu quando o Ministério da Agricultura propôs uma norma para o uso obrigatório de sementes orgânicas, posição que foi revista quando se constatou a deficiência desse mercado.

Hoje, o que a maioria dos produtores faz é dar início ao plantio com sementes convencionais que tenham baixo resíduo de agrotóxicos. "Depois, com o tempo, você pode obter as suas próprias sementes", diz Shirazawa. Ele já iniciou esse processo e ensina como obter sementes de cenoura, por exemplo. "O que eu faço aqui é esperar a raiz crescer e, então, seleciono as melhores unidades para conseguir as sementes. Quebro a cenoura rente às folhas e vejo se ela está bem alaranjada por dentro. Se estiver, deixo uma parte do galhinho, mas corto as folhas e levo esse pedaço à geladeira. Faço isso porque elas vão melhor com o frio. Depois de 40 dias na geladeira, coloco a cenoura para fora e espero ela brotar. Leva mais uns 40 dias para nascer o pendão e eu conseguir as sementes." De acordo com ele, apesar de longo, o processo dá bons resultados e deve ser feito repetidamente. "Só assim você garante a origem do produto e pode ter bons ganhos de produtividade."

Fonte: GLOBO RURAL

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