Soja

Produtor brasileiro segura as vendas de soja à espera de novas altas das cotações

Com os bolsos cheios após uma sucessão de safras rentáveis e na esperança de que as cotações possam ter um novo repique, produtores brasileiros "sentaram-se" sobre a soja e travaram a negociação da oleaginosa no mercado doméstico


Publicado em: 23/04/2014 às 11:00hs

Produtor brasileiro segura as vendas de soja à espera de novas altas das cotações

Como a safra 2014/15 dos EUA está apenas em início de plantio, os agricultores brasileiros têm se fiado na possibilidade de que algum problema climático naquele país possa elevar os preços da commodity.

Nas contas da consultoria Céleres, o Brasil negociou, em média, 60% da produção 2013/14 de soja até o momento, aquém dos 66% do mesmo período do ciclo passado. Em relação à média dos últimos cinco anos, o atraso é de um ponto percentual. Conforme Aline Ferro, analista da Céleres, os produtores estão bastante capitalizados, por isso não tiveram tanta necessidade de comercializar antecipadamente. "Apesar da expectativa de uma safra de soja maior este ano, a perda de produtividade por conta da seca no Sul e do excesso de chuvas em Mato Grosso ajudou a sustentar as cotações", explicou. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma colheita de 86,1 milhões de toneladas, 5,6% acima de 2012/13.

No Paraná, a estimativa é que 65% da produção já tenha sido negociada, ante 63% no mesmo intervalo de 2013. Segundo a analista, o menor volume colhido justifica essa previsão de vendas um pouco mais avançadas. "O percentual comercializado da safra toda acabou se elevando por conta da quebra de rendimento esperada no Estado", afirmou Aline.

Já em relação a Mato Grosso, principal Estado produtor de soja, a Céleres calcula que 67% da safra está comercializada, ante 80% do mesmo período do ano passado. A desaceleração acontece mesmo em meio à maior valorização da saca, atualmente muito próxima dos R$ 60 no Estado, na comparação com menos de R$ 50 há um ano.

Para o analista Bruno Perottoni, da corretora Terra Investimentos, os baixos estoques americanos atuais, resultado da intensa demanda externa, são um fator adicional para a crença em uma nova alta dos preços. "Por ora, há soja apenas no Brasil e na Argentina. Só teremos uma nova oferta de soja em novembro, com todos os ses e poréns da safra dos EUA. E ausência de produto é um fundamento muito forte para os produtores se apegarem", observou.

Em Primavera do Leste, uma das mais importantes regiões de negociação da soja em Mato Grosso, a cotação oscila entre R$ 58 e R$ 59 por saca. "Mesmo assim, há um vazio de oferta nos últimos dias", disse Leonir Christ, da Seeds Corretora. Ele acredita que as vendas retomem o ritmo em maio, já que o agricultor precisará começar a abrir espaço nos armazéns para receber o milho safrinha.

A cooperativa paranaense C.Vale, com sede em Palotina, estima já ter vendido 60% de sua safra 2013/14 de soja, que deve ser de 1,6 milhão de toneladas. No mesmo período do ano passado, as negociações chegavam a 63% da produção. O atraso ainda não é tão significativo, mas o marasmo na comercialização tende a persistir. Isso porque, segundo Valentim Squisatti, gerente do departamento de operações e mercado da C.Vale, muitos cooperados acreditam que a soja pode subir dos atuais R$ 62 para o patamar de R$ 70, alcançado entre outubro e novembro do ano passado, pico da entressafra.

Os agricultores, disse Squisatti, não cedem nem mesmo diante das atuais cotações da soja na bolsa de Chicago, referência para a formação de preços da commodity. Os contratos com vencimento no curto prazo, para maio, ainda estão na casa dos US$ 14 por bushel, mas os de prazo mais longo, para novembro, já estão em nível bem mais baixo, a US$ 12 por bushel. "O mercado está precificando um aumento de área plantada e safra cheia de soja nos EUA, mas e se isso tudo não vier? O produtor aqui prefere esperar para ver".

Os agricultores estenderam esse compasso de espera às negociações da próxima safra de soja. Mesmo em Mato Grosso, que costuma estar na dianteira das vendas antecipadas, há poucos contratos fechados neste momento. A C.Vale, que também atua no Estado, calcula ter comercializado 2% do que deve colher em 2014/15. No mesmo período do ano passado, já havia negociado antecipadamente ao menos 8% da safra 2013/14.

Fonte: Canal do Produtor

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