Setor Sucroalcooleiro

Produtividade da lavoura não está relacionada apenas à aplicação de fertilizantes

Para uma lavoura ser considerada bem sucedida deve apresentar alta produtividade e uma série de ações influenciam nesse desejável resultado


Publicado em: 02/09/2014 às 17:10hs

Produtividade da lavoura não está relacionada apenas à aplicação de fertilizantes

Para uma lavoura ser considerada bem sucedida deve apresentar alta produtividade e uma série de ações influenciam nesse desejável resultado. O engenheiro agrônomo, doutor em agronomia e consultor técnico Ronaldo Cabrera explica que o aumento de produtividade está ligado a mais de 50 fatores de produção. Entre eles está a escolha da variedade, época de plantio e colheita, fertilização e correção do solo através da calagem, gessagem e fosfatagem, rotação de culturas, adubação verde, manejo de plantas daninha, manejo de compactação do solo, conservação da soqueira evitando o pisoteio e a adubação. E a melhor forma de aumentar a produtividade da cana-de-açúcar, no que diz respeito à adubação, é o investimento em um bom planejamento de todas as atividades relacionadas a esta área.

Alguns avanços para o setor, especialmente em pesquisas de fertilizantes nitrogenados de liberação lenta, ainda estão em fase de testes por institutos de pesquisas e por empresas públicas e privadas. Esses estudos têm como objetivo aumentar a eficiência do uso de fertilizantes, reduzir os custos e os riscos ambientais. “Neste sentido, podemos citar as pesquisas com fertilizantes nitrogenados de liberação lenta do nitrogênio, o fertilizante estruturado em misturas homogêneas com macro e micronutrientes. Estes se encontram nas fases de testes para definição de doses a serem aplicadas para a cana e outras culturas e avaliações da eficiência de uso do nutriente aplicado via fertilizante e emissões de gases de efeito estufa”, explica a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Walane Maria Pereira de Mello Ivo.

Cabrera destaca que a entrada no mercando desses fertilizantes de liberação lenta dependem muito do custo-benefício da nova tecnologia. “Elas têm quem se pagar”, complementa.

Outra possibilidade de inovação na área de adubos para a cana-de-açúcar é a disponibilização em larga escala de adubo organo-mineral seco, rico em potássio, produzido a partir da vinhaça. No entanto, Mello complementa que o uso deste adubo em larga escala e os testes para definição de doses e estudos de curvas de liberação de nutrientes, principalmente do potássio, para a cana, ainda precisam ser avaliados.

Já no mercado, a Yara apresenta o Programa Nutricional Longevita, com o uso de YaraMila, produto que contém formulações de NPK no mesmo grânulo, voltado para adubações sólidas, e o YaraVita, voltado para adubações líquidas e aplicações foliares na cultura. “A utilização deste programa permite o prolongamento da vida útil do canavial e dilui consideravelmente os custos de renovação do mesmo”, explica o especialista de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Yara Brasil, Erico Corneta.

A hora certa

Mesmo com toda a tecnologia disponível, é importante identificar que as práticas agrícolas estão todas interligadas, e que para melhorar o desempenho da cana não se pode pensar apenas na adubação isoladamente.

Segundo os especialistas, um bom exemplo dessa conexão é a relação da necessidade de água para a absorção dos nutrientes. “Para que a planta absorva o nutriente que está no solo, este deve estar na solução do solo, ou seja, necessita estar presente no teor de umidade no solo. E assim, para que a adubação seja eficiente, além de adubarmos no momento correto, com as doses recomendadas em função da extração das culturas e da disponibilidade dos nutrientes no solo, ainda temos que pensar na influência de outras práticas que compõem o sistema de produção da cana, como, nesse exemplo, na época correta para o plantio ou no uso correto da irrigação - quantidade e frequência de aplicação da água”, explica a pesquisadora da Embrapa.

O momento ideal para fazer a adubação e correção do solo é sinalizado pelos níveis de produtividade da cultura estabelecida na área, dos nutrientes no solo e por possíveis sinais de deficiência de nutrientes na planta. “Detectada a necessidade de adição de macro ou micronutrientes, deve-se lançar mão de tabelas de recomendação e, no caso da cana, observar as recomendações para cana planta ou soca”, orienta a pesquisadora.

Para a cana planta, durante a renovação do canavial, que na Região Centro-Sul é concentrada entre os meses de fevereiro a junho e de outubro a dezembro, a adubação deve ser realizada na fundação, no momento do plantio, quando geralmente é aplicado o potássio (K), o fósforo (P) e, em algumas regiões, parte do nitrogênio (N). O restante da dose recomendada para o N ou a dose total é aplicada entre 30 e 60 dias depois do plantio.

A pesquisadora da Embrapa explica que a rotação de culturas com o uso de leguminosas é uma importante prática de manejo, que deve ser feita antes da renovação dos canaviais. “Essa ação também é reconhecida como uma forma de disponibilização de nitrogênio para a cana planta. Além do N adicionado, esta prática vem acompanhada de várias vantagens, como adição de carbono orgânico ao solo, descompactação de camadas compactadas, controle de pragas e doenças”, explica.

Já a adubação da socaria é feita em cobertura, quando normalmente são aplicados o nitrogênio e o potássio. A aplicação dos nutrientes é feita entre 30 e 40 dias após o corte da cana planta, normalmente entre os meses de abril a janeiro. A dose recomendada para o K também pode ser aplicada via fertirrigação, com uso da vinhaça produzida na usina. Esta é uma importante fonte de K, substituindo integralmente os fertilizantes.

Para uma maior efetividade

Para a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Walane Maria Pereira de Mello Ivo, para melhorar a produtividade de um canavial é indicado, se possível, fazer o mapeamento das classes de solo dentro da área da usina, delimitar ambientes de produção para as variedades mais plantadas e sempre fazer o acompanhamento dos níveis de fertilidade do solo e da planta, por meio de amostragens regulares, para análise em laboratório. “A partir destes diagnósticos, têm-se as doses de macro e micronutrientes recomendadas para cada situação, bem como o monitoramento dos níveis de fertilidade de toda a usina”, explica.

O engenheiro agrônomo Ronaldo Cabrera complementa que o maior problema de produtividade nos canaviais está relacionado à gestão. Para ele, a produtividade ainda está muito aquém do que se pode atingir. Uma pesquisa mostrou que é possível produzir 350 toneladas por hectare em 12 meses e a média dos últimos anos no Estado de São Paulo ficou abaixo de 80 toneladas por hectare.

 

Fonte: Canal-Jornal da Bioenergia

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