Fruticultura e Horticultura

Produção de melancia deve recuar no Rio Grande do Sul devido à estiagem

Falta de chuvas afetou áreas cultivadas após meados de novembro do ano passado no Estado, mas não deve prejudicar a safra nacional da fruta, que conta com nova variedade neste ciclo


Publicado em: 01/02/2018 às 12:20hs

Produção de melancia deve recuar no Rio Grande do Sul devido à estiagem

A safra gaúcha de melancia deverá registrar perdas de até 40% na produção devido à estiagem registrada nas últimas semanas no Estado. O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor da fruta no País, atrás de São Paulo e Goiás, e seus volumes abastecem os consumidores nos meses de dezembro a março.

De acordo com a Emater/RS, o Estado produziu 291 mil toneladas de melancia no ano passado. A chuva escassa afetou principalmente a fruta cultivada após o dia 15 de novembro, período tardio de cultivo. Segundo o engenheiro agrônomo João Kaupsinski, apenas um terço da produção gaúcha foi cultivada antes desse período, entre setembro e outubro. “As áreas afetadas apresentam problemas como virose e infestações de tripes (inseto) e também tiveram que ser irrigadas com maior frequência, o que ampliou os custos de produção”, afirma.

Para o gerente de contas de melancia da Bayer, Leonardo Herzog, as perdas no Estado devem ser compensadas por um melhor desempenho de Goiás, que produz de abril a agosto, e São Paulo, onde a safra ocorre de setembro até o mês de novembro.

Ele estima que 70 mil hectares sejam cultivados no País, com produtividade média de 20 toneladas cada. “Não há indicação de que essas áreas terão problemas climáticos. Além disso, quem colheu antes da estiagem teve produtividade acima da média para o RS”, afirma. Por isso, ele não acredita em uma valorização da fruta, que está cotada em R$ 0,44 o quilo no Estado.

O produtor Gilberto Rambor, de Encruzilhada do Sul, projeta uma perda de oito a dez toneladas por hectare em razão da estiagem. “Normalmente, consigo alternar o uso do mesmo equipamento de irrigação nas diferentes áreas cultivadas. Neste ano, porém, foi difícil atender à demanda por água na lavoura”, afirma o produtor, que ainda está colhendo nas áreas arrendadas que mantém na cidade e também em General Câmara.

Alternativa

Rambor é um dos 30 produtores brasileiros que colhem neste verão pela primeira vez a variedade style, batizada no Brasil de Pingo Doce, desenvolvida pela Bayer. A melancia tem peso reduzido, entre 6 e 8 quilos – a fruta grande tem, em média, 14 quilos –, doçura mais acentuada e menor número de sementes. Essas características são obtidas por meio de um cruzamento entre variedades em laboratório.

O agricultor afirma receber até 30% a mais ante o valor pago pelas melancias comuns, o que, na avaliação dele, compensa os custos de produção 15% mais elevados, de R$ 6 mil o hectare, em média.

O preço da semente, que é o dobro da convencional, e o maior custo de embarque dos caminhões elevam os gastos. “Optei por ela porque queria inovar e buscar acesso a novos clientes”, afirma o fruticultor. “Acredito que nos próximos anos essa melancia vai ter uma demanda e um retorno financeiro ainda maior que o atual.” Outra vantagem, segundo ele, é que os compradores pagam pela fruta uma semana após a entrega, devido ao alto interesse dos consumidores, com um desconto de 3% sobre o valor total. O prazo habitual de pagamento é de 90 a 120 dias.

Três dos dez hectares ocupados pela variedade na propriedade já foram colhidos, com uma produtividade média de 50 toneladas por hectare. A fruta está sendo negociada com compradores do Rio de Janeiro, Fortaleza, Piauí e São Paulo, em redes como o Pão de Açúcar e a Ceagesp.

Conforme Herzog, os testes de produção começaram no Brasil em 2014, no Rio Grande do Sul – onde dez produtores cultivaram a variedade de melancia em 100 hectares – e em seguida para São Paulo, Goiás e Tocantins. No ano passado, as primeiras cargas chegaram ao varejo.

Ele explica que, como se trata de uma variedade híbrida e que é estéril, os produtores precisam dedicar 30% da área cultivada a outra variedade e devem utilizar abelhas para a polinização. “O mais comum na produção brasileira é que se use abelhas que já estão no ambiente, mas se o produtor usar caixas para a produção profissional de abelhas, a produtividade é superior.”

Na propriedade de Rambor, foram colocadas 16 caixas de abelhas, uma por hectare cultivado com a variedade. Até então, ele tinha 20 caixas.

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