Análise de Mercado

Negócio de equipamentos de irrigação deve crescer de 10% a 15% em 2018

Capitalização do produtor e crédito com juros acessíveis deverão estimular o avanço dos investimentos na atividade neste ano, mas dificuldade com outorga para uso de água preocupa


Publicado em: 22/02/2018 às 18:00hs

Negócio de equipamentos de irrigação deve crescer de 10% a 15% em 2018

Se as incertezas geradas pela disputa presidencial não atrapalharem os negócios, as vendas de equipamentos para irrigação no campo devem crescer de 10% a 15% neste ano, para R$ 1,7 bilhão. Produtores mais capitalizados e uma boa perspectiva de safra podem garantir o incremento.

“Se não fosse um ano atípico, com eleições e dúvidas quanto ao acesso ao crédito, 2018 poderia ser tão bom quanto os últimos dois ou três anos”, destacou o presidente da câmara setorial de equipamentos para irrigação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Implementos (Abimaq), Marcus Henrique Tessler. “Ainda assim, 2018 tem tudo para ser um bom ano”, disse. A câmara representa 200 empresas do setor, que respondem por 90% do mercado.

Ele explica que a perspectiva de crescimento em relação a 2017, quando as vendas aumentaram 12% e somaram R$ 1,5 bilhão, se deve à capitalização do produtor após a safra recorde de grãos em 2016/2017.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura (Mapa) divulgados na sexta-feira (16), o Moderinfra, principal linha de crédito para o segmento, liberou R$ 279 milhões em recursos de junho de 2017 a janeiro deste ano, um incremento de 80% em relação ao mesmo período da safra anterior. O governo programou a aplicação de R$ 600 milhões nesta linha de crédito.

“Tem dinheiro sobrando, é verdade. Algumas vezes, porém, o agricultor não consegue ter acesso ao recurso”, disse. “Mas este não tem sido um fator limitante e não espero que seja um problema na próxima safra”, destacou. Conforme Tessler, diante da perspectiva de redução da taxa de juros para o próximo ciclo, muitos produtores devem aguardar o segundo semestre para investir.

Área

No ano passado, a área irrigada no País cresceu 3,7%, para 5,8 milhões de hectares, sendo em torno de 1,2 milhão destinados à produção de arroz irrigado. O crescimento foi puxado pela demanda por irrigação localizada – por gotejamento ou aspersão –, cuja área cresceu 6,6%, para 80 mil hectares.

“O ano que passou foi o primeiro em que possivelmente a irrigação localizada se aproximou da feita com pivô, e cresceu num ritmo mais forte, devido ao bom ano registrado nas culturas de café e citrus”, avaliou Tessler, que também é diretor da Netafim, especializada no segmento de irrigação localizada. A companhia ampliou o faturamento entre 12% e 13% no mundo e registrou, no Brasil, o melhor ano de sua história em 2017.

Ele acredita que a tendência é que o uso desse tipo de equipamento cresça em taxas maiores que as demais. “Isso porque demanda menos água e insumos, o que deve fazer com que a localizada cresça inclusive em áreas ocupadas por pivôs centrais”, estimou o diretor da empresa.

Em todas as outras categorias houve queda, com destaque para a área irrigada com pivô central, que recuou 7,14%, e para a irrigação por aspersão com carretel, que caiu 22,2%. “Esse tipo de irrigação depende muito da cana-de-açúcar, uma vez que é utilizada para aplicação da vinhaça. Quando a indústria vai bem, o segmento também e vice-versa”, destaca.

Entraves

Ainda assim, Tessler projeta que a área irrigada continuará a crescer no País. “[A área] poderia ser ainda maior, mas há muita dificuldade para a obtenção de outorgas para uso da água nas propriedades”, argumentou o dirigente.

Segundo ele, esse processo pode levar até um ano e meio para ser concluído, o que desestimula produtores a investir em irrigação. “As restrições ambientais limitam o crescimento da atividade, especialmente no caso doa pivôs, que consomem mais água.”

Adicionalmente, a visão de agricultura irrigada como uma “gastadora” de recursos ambientais preocupa o setor. “Esse é um estigma que temos que derrubar, pois o setor evoluiu e o consumo de água, que gera alimento, tem diminuído muito”, garante.