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MANDIOCA: Indústria de fécula atinge R$ 1 bilhão

Recordes de preços colocam o ano de 2013 em destaque na história do setor mandioqueiro


Publicado em: 22/04/2014 às 19:50hs

MANDIOCA: Indústria de fécula atinge R$ 1 bilhão

O Valor Bruto da Produção da indústria brasileira de fécula de mandioca – um dos principais derivados da raiz – chegou a R$ 1,007 bilhão, acréscimo de 58% frente ao de 2012, segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP Em termos reais (descontada a inflação pelo IGP-DI de março/14), Valor da Produção próximo a este foi observado somente em 2004, quando superou ligeiramente os R$ 990 milhões.

A marca de 1 bilhão de reais foi atingida mesmo com o volume moído pelas fecularias tendo diminuído 7,6% e o rendimento médio de amido baixado 0,8% m relação a 2012, conforme aponta o 10º Levantamento sobre o Desempenho da Indústria de Fécula de Mandioca realizado pelo Cepea em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM). Os dados foram obtidos por meio de questionários enviados às 69 empresas do Brasil (100% do total) – 80% responderam – e também por telefone e/ou com base em dados armazenados semanalmente pelo Cepea.

Em 2013, o clima mudou completamente o cenário esperado para a cadeia produtiva da mandioca e derivados, conforme explicam pesquisadores do Cepea. A estiagem severa no Nordeste desde 2012 levou tanto revendedores de farinha quanto farinheiras daquela região a se abastecerem no Centro-Sul. Mesmo com a raiz de mandioca atingindo valores bastante elevados e sendo preciso pagar frete superior a 2 mil quilômetros, farinheiras nordestinas mantinham as compras de raiz em São Paulo e Paraná porque, em alguns polos de produção nordestinos, a tonelada da mandioca na lavoura ultrapassou os R$ 1.000,00.

Na média geral das regiões acompanhadas pelo Cepea, a tonelada de raiz posta indústria esteve a R$ 381,69 (valor nominal, a prazo) em 2013, valorização de 61,1% frente a 2012. A fécula de mandioca também teve sucessivas valorizações ao longo do último ano, com a média nominal a prazo (posta fecularia) chegando a R$ 2.125,09/t (R$ 53,12/sc de 25 kg), alta de 58% frente ao valor médio de 2012.

Esses percentuais mostram que, diante da disputa acirrada por matéria-prima entre fecularias e farinheiras, a raiz novamente – pelo quarto ano seguido – valorizou-se mais que a fécula, sendo indicativo de aperto nas margens da indústria. Nas fecularias, a mandioca (matéria-prima) representa mais de 80% do custo industrial.

Apesar de o Brasil se destacar como um dos principais produtores mundiais de mandioca, em 2013, a indústria de fécula operou com 53,5% de ociosidade, conforme o Levantamento do Cepea e da Abam. A capacidade instalada em 2013 permitia a moagem de 18,5 mil toneladas de mandioca por dia e, em 220 dias de trabalhos/ano e rendimento médio de amido de 25%, a produção de fécula poderia superar 1 milhão de toneladas. Porém, no ano, a estimativa é que tenha disso de apenas 473,72 mil toneladas, o que representou redução 8,8% da oferta nacional de 2012, sendo a menor desde 2004.

Pouco mais de 70% da fécula foi produzida no Paraná (333,36 mil toneladas); em segundo lugar aparece Mato Grosso do Sul, onde a instalação de novas empresas elevou a participação estadual de 17,3% em 2012 para 20,3% em 2013, com produção de 94,7 mil toneladas. Já no estado de São Paulo, a produção diminuiu devido a estratégias industriais e também pela maior demanda de farinheiras, que reduziu a disponibilidade de matéria-prima para as fecularias. A participação paulista (40,4 mil toneladas) no total nacional foi de 8,7%. Bahia, Pará e Santa Catarina representaram 0,3% cada sobre o total produzido nacionalmente.

Atacadistas são os principais clientes de fecularias de mandioca, seguidos por empresas dos setores de massa, biscoito e panificação, frigoríficos, varejistas e de papel e papelão. Quanto às regiões que consomem fécula de mandioca, o destaque é para o Sul, que absorveu 37,2% do total comercializado pelas fecularias em 2013. Isso se explica, segundo pesquisadores do Cepea, em grande parte, pela própria concentração da indústria produtora. Com parque industrial considerável, o Sudeste foi o segundo maior destino da fécula de mandioca, representando 36,4% do total. Em terceiro lugar, esteve o Nordeste, com 12,9% do total, e, logo depois, o Centro-Oeste, com 12,5% - segundo pesquisadores do Cepea, estados do Centro-Oeste estão se consolidando como “entrepostos” de distribuição de fécula e outros derivados para o NE e NO.

PERSPECTIVAS - Em 2014, a oferta de mandioca no Brasil pode aumentar cerca de 10% em relação ao ano passado, segundo dados do IBGE. A retomada da produção seria mais intensa no Nordeste. Segundo colaboradores do Cepea, tem sido bom o desenvolvimento das lavouras, podendo haver recuperação da produtividade agrícola e do rendimento de amido, principalmente no Paraná.

Em linha com essas projeções, dados do Cepea mostram que, no primeiro trimestre de 2014, o volume de mandioca processado pela indústria de fécula supera em 11% o de igual período de 2013. Conforme os pesquisadores, isso é resultado, principalmente, do aumento da colheita de raízes de segundo ciclo. Os levantamentos mostram também que, ainda que a oferta esteja um pouco maior que no início de 2013 e também de 2012, não chega a haver excedente que pressione significativamente as cotações.

Paralelamente aos preços, tradicional balizador do estímulo do produto, estão os custos de produção. Pesquisas do Cepea mostram que os dispêndios principalmente com mão de obra e colheita poderão limitar os avanços na área a ser plantada na temporada 2014/2015, mas, claro, o comportamento das cotações da raiz pode mudar esse quadro.

Considerando-se a possibilidade de melhora na produção de mandioca neste ano, profissionais das fecularias - dados obtidos por meio de questionários – acreditam em aumento de 27% na produção de fécula de mandioca, que totalizaria 603,66 mil toneladas – somatório das expectativas individuais de produção. Essa melhora na oferta, segundo pesquisadores do Cepea, tende a pressionar as cotações – impactadas também pelo aumento das importações – e promover ganhos de mercado para a fécula de mandioca em alguns segmentos industriais, como no de papel e papelão, a depender do comportamento das cotações do amido de milho.

Na avaliação dos pesquisadores do Cepea, de modo geral, em 2014, o mercado de fécula deve estar menos susceptível aos choques de oferta que ocorreram nos últimos anos. Para os agentes da indústria produtora de fécula, é o momento de planejamento de médio prazo com vistas a retomar a competitividade da fécula de mandioca em mercados potenciais.