Gestão

Kepler Weber espera baixa demanda por armazenagem e contração em 2016

Falta de confiança e aperto no crédito afetam investimentos e devem levar negócios da companhia ao nível mínimo, diz executivo da empresa


Publicado em: 06/05/2016 às 18:50hs

Kepler Weber espera baixa demanda por armazenagem e contração em 2016

A Kepler Weber espera demanda enfraquecida por sistemas de armazenagem para a agricultura em 2016. Especialmente neste primeiro semestre, a empresa deve sentir os efeitos do ambiente considerado desfavorável diante da situação do crédito relativo à safra 2015/2016, que sofreu reduções de recursos e aumentos de taxas de juros.

“Nosso principal mercado, que é o de armazenagem, tende a continuar caindo, pelo menos até o final do primeiro semestre. Até junho, vai se completar um ano do Plano Safra atual”, diz Olivier Colas, vice-presidente da companhia.

Ele ressalta a forte dependência da agricultura brasileira dos financiamentos colocados à disposição pelo governo. E destaca que, diferente de outros segmentos, a parte do crédito destinada a investimentos foi mais “sacrificada” na temporada atual, tendo impacto nos negócios da companhia.

De acordo com o executivo, por causa da situação da economia, quem pretendia investir ficou mais cauteloso. Além disso, os bancos comerciais, que repassam para os produtores rurais os recursos subsidiados pelo governo federal, ficaram mais seletivos na liberação dos financiamentos. “Nosso setor foi afetado pelo mercado e pela falta de confiança de diversos agentes da cadeia em investir”, afirma Colas.

Números divulgados na semana passada pelo Ministério da Agricultura (Mapa) reforçam a avaliação do executivo. De julho de 2015 a março de 2016, o valor liberado de crédito rural para investimentos como um todo foi de R$ 18,14 bilhões, redução de 33,02% em comparação com o período de julho de 2014 a março de 2015 (R$ 27,09 bilhões).

Do montante destinado ao Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) para a atual safra, de R$ 2 bilhões, R$ 467 foram liberados no período. Na comparação com o mesmo intervalo na temporada passada (julho de 2014 a março de 2015), quando tinham sido liberados R$ 1,424 bilhão, a queda é de 67%.

No ciclo anterior, de julho de 2014 a março de 2015, a demanda pelos recursos para armazenagem correspondia a 41% do disponibilizado para todo o ano-safra, de R$ 3,5 bilhões. Nos primeiros nove meses da temporada 2015/2016, a proporção era de 23%, conforme os números do Ministério.

O executivo da Kepler Weber explica que as tradings foram as que menos reduziram investimentos em estocagem. Olivier Colas acredita que isso se deve ao fato dessas empresas terem uma visão mais ampla do mercado. Diferente do produtor que, na visão dele, acaba demorando mais para perceber a necessidade de ter o controle sobre seus próprios estoques.

“Entre um e outro, existem as grandes cooperativas. Elas tiveram uma redução de compras, mas talvez venham depois das tradings. As grandes cooperativas não dependem tanto de financiamento público. Obviamente, se tiver uma linha (de crédito) boa, vai utilizar. Mas tem fluxo para poder financiar”, analisa.

Demanda mínima

No ano passado, a receita líquida da Kepler Weber somou R$ 706 milhões. Uma redução de 22,1% em comparação com 2014, atribuída ao quadro recessivo da economia e restrições de crédito. A queda de 10,6% nos custos, de R$ 687,9 milhões para R$ 615,2 milhões, não impediu que a companhia lucrasse 95,3% menos, quando comparado com o ano anterior. O resultado líquido foi de R$ 6,2 milhões em 2015.

Para este ano, o cenário considerado é de mercado em contração. De qualquer modo, ele avalia que há fatores de estímulo à armazenagem no Brasil. A safra de grãos continua a crescer e o ritmo de compra de clientes relevantes do Brasil está mais lento.

“Vamos continuar a ver um mercado se contrair. Se vai ser o fundo do poço, eu não sei dizer. Precisamos de um retorno da confiança. Tenho que acreditar que talvez o pior seja agora, o primeiro semestre de 2016. O ponto baixo da demanda é agora. Se essas condições do mercado continuarem, se não vier ajuda do governo, vai ficar assim. Chegamos em um nível que não dá para fazer menos”, acredita.

A armazenagem no Brasil é a principal fonte de receita da Kepler Weber. As apostas para limitar a queda de faturamento com o segmento, diz Colas, são ampliar as exportações e a atuação em segmentos como a área portuária.

Déficit

Mesmo com os investimentos nos últimos anos, a capacidade estática ainda não acompanha o crescimento da safra a ponto de zerar o déficit de armazenagem de grãos no país. De acordo com dados da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, o Brasil tem, atualmente, capacidade para guardar 156,12 milhões de toneladas, diante de uma produção estimada em 209 milhões no ciclo 2015/2016.

Desse total, os armazéns públicos correspondem a 5% (7,8 milhões de toneladas); as cooperativas detêm 21% (32,7 milhões de toneladas); os portos têm outros 5,9% (9,23 milhões de toneladas); as empresas privadas, como tradings, por exemplo, podem estocar 52,1% da safra (81,3 milhões de toneladas); enquanto as fazendas têm capacidade para apenas 16% do total produzido (24,9 milhões de toneladas).

Fonte: Globo Rural

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