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IPCA-15 rompe o teto e vai a 6,51%

Mesmo com o país à beira da recessão, e com a ajuda da queda do preço dos alimentos, a carestia não tem dado sossego ao brasileiro


Publicado em: 23/07/2014 às 19:00hs

IPCA-15 rompe o teto e vai a 6,51%

Apesar de ter desacelerado de uma alta de 0,47%, em junho, para uma elevação de 0,17% em julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) continua sob forte pressão. Tanto é que o indicador, que funciona como uma prévia da inflação oficial, marcou um novo recorde ao cravar variação de 6,51% no período acumulado de 12 meses.

Foi a primeira vez em 2014 que o IPCA-15 rompeu o limite máximo de tolerância admitido pelo governo, de 6,5%. E nada indica que os preços cairão para o centro da meta, de 4,5%. Na verdade, o risco é que a inflação siga em disparada até dezembro, podendo fechar o ano acima do teto, o que não acontece desde 2003. "No começo do ano, a chance de a inflação romper o limite era de 30%, mas hoje chega a 50%", disse o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano.

Durante os três anos e meio de governo Dilma Rousseff, a inflação ultrapassou o teto da meta 11 vezes. Ou seja, praticamente um terço da gestão da petista foi marcado pelo descumprimento do limite. Nos últimos três meses, o IPCA-15 mostrou desaceleração. Seria boa notícia não fosse o fato de que é justamente entre maio, junho e julho que a inflação perde força no país. "Por um padrão sazonal, há meses em que a inflação desacelera e outros em que ela volta a subir. O que tem acontecido agora não é diferente", disse o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman.

Visto dessa perspectiva, o resultado de 2014 tem sido pior do que o observado no ano passado. Em maio, junho e julho de 2013, o IPCA-15 avançou, respectivamente, 0,46%, 0,38% e 0,07%. Este ano, as variações foram maiores: 0,58%, 0,47% e 0,17%. "Não vejo como dizer que a inflação esteja perdendo força. Na verdade, é justamente o contrário", assinalou o economista.

Estagnação

O IPCA-15 de julho veio abaixo das previsões do mercado, que apontavam para uma alta de 0,22%. Por isso, o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, classificou o resultado de 0,17% como "uma grata surpresa num período de notícias tão ruins". O que os analistas não esperavam era que o fim da Copa do Mundo ajudaria a derrubar tão rapidamente os preços de alguns itens que pesaram no bolso dos turistas. O principal deles foi o preço das passagens aéreas, que caíram 26,8%. O efeito Copa só não foi mais favorável porque as despesas com hospedagem aumentaram 28% no período.

Não por acaso, Perfeito reduziu a projeção para o indicador oficial de inflação em 2014 de 6,42% para 6,31%. A queda, no entanto, tem pouco a ver com o controle efetivo dos preços pelo governo e resulta muito mais da ameaça de recessão que ronda o país. Pela última previsão do mercado, o PIB deverá avançar apenas 0,97% este ano.

Por conta disso, muitos bancos e corretoras passaram a acreditar que o BC poderá fazer um corte da taxa básica de juros (Selic) ainda este ano. A medida ajudaria a estimular o crescimento e a evitar que o último ano do governo Dilma seja marcado pela recessão. Ontem, pelo terceiro dia consecutivo, os juros negociados no mercado futuro (que refletem as previsões para a Selic) operaram em queda.

Aventura

A ideia foi reforçada pelo uso do termo "neste momento" no comunicado divulgado depois da reunião da semana passada, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter os juros básicos em 11% ao ano. Para analistas, o BC deixou a porta aberta para reduzir a taxa já no próximo encontro, no início de setembro. Sinais mais claros sobre essa possível guinada na política monetária podem estar na ata da última reunião, que será divulgada amanhã pelo BC.

Flávio Serrano, do BES, pondera, no entanto, que a redução dos juros, agora, aumentaria a desconfiança do setor privado no governo e derrubaria ainda mais o já combalido desempenho do PIB. "A razão do baixo crescimento não é juro alto, mas inflação elevada. Se as taxas baixarem para ajudar o PIB, o remédio pode matar o paciente", assinalou.

Schwartsman lembra que algo semelhante foi feito em 2011, quando, mesmo com uma inflação acima de 7%, a autoridade monetária deu início ao processo que levaria a Selic para a mínima histórica de 7,25% ao ano. "Se o BC fizer nova aventura, talvez até consiga acelerar o crescimento, mas certamente lançará as bases para uma inflação acima de 6,5% por um longo tempo", advertiu. "Em 2011, ele fez isso e deu no que deu: a inflação subiu e o crescimento desabou. Até hoje estamos pagando a conta desse erro."

Fonte: Correio Braziliense

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