Agrotóxicos e Defensivos

Instituto Biológico realiza pesquisa sobre os impactos do uso de herbicidas nos peixes

O estudo avaliou a contaminação do peixe-zebra por substâncias usadas no combate de plantas daninhas nos canaviais


Publicado em: 27/01/2014 às 10:00hs

Instituto Biológico realiza pesquisa sobre os impactos do uso de herbicidas nos peixes

Os herbicidas são utilizados em diversas culturas agrícolas para o controle de plantas daninhas. Os produtos, que têm como componentes a ametrina e o diuron, são bastante utilizados em algumas culturas, como a de cana-de-açúcar. O problema é que quando aplicados em excesso e de forma indevida acabam tendo impacto negativo nas espécies chamadas de não-alvo. A mistura desses dois herbicidas no tanque de pulverização é uma prática comum entre os produtores, ainda que seja proibida por lei. Para avaliar os efeitos dessa mistura nos peixes, o Instituto Biológico (IB-APTA) realiza pesquisas em parceria com a Embrapa Meio Ambiente, financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os pesquisadores constataram que quando aplicados em conjunto, os produtos são cerca de quatro vezes mais tóxicos para a tilápia e o peixe-zebra – mais conhecido como paulistinha – do que se aplicados de forma isolada. Os resultados trazidos pelos estudos podem auxiliar as agências reguladoras no estabelecimento de concentrações máximas permissíveis desses herbicidas em águas continentais, visando à proteção de sua biota associada.

Em 27 de janeiro de 2014, o Instituto Biológico, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vai realizar o “Workshop: Uso do peixe-zebra em ecotoxicologia”, em Campinas. O objetivo do evento é difundir o uso de embriões de peixe-zebra como modelo em ensaios ecotoxicológicos, cujos objetivos são descrever os efeitos adversos e avaliar a interação entre aos organismos vivos e os contaminantes ambientais.

Durante o evento, a pesquisadora do IB, Mônica Accaui Marcondes de Moura e Mello, vai apresentar alguns resultados do projeto de pesquisa do Instituto. Os estudos para verificar a contaminação de peixes por herbicidas começaram em 2010 e tiveram a primeira fase encerrada no final de 2013. Os pesquisadores comprovaram que, ao serem misturados, a ametrina e o diuron têm efeito muito mais tóxico nos peixes do que se aplicados sozinhos.

De acordo com Moura, o método comumente utilizado para exprimir a toxicidade de uma substância é a Concentração Letal 50 (CL50), que representa a concentração necessária para uma substância causar a mortalidade de 50% dos animais expostos. “Mas a avaliação da toxicidade de um contaminante não se limita à mortalidade, pois efeitos sub-letais, como dificuldade de natação, alimentação, reprodução e fuga à predação também podem comprometer a sobrevivência das espécies em longo prazo”, explica.

Segundo Moura, ametrina e diuron têm efeito sinérgico, ou seja, quando misturados esses herbicidas chegam a ser quatro vezes mais tóxicos para os peixes estudados, do que quando a exposição aos componentes ocorre isoladamente. O diferencial dos estudos do Instituto Biológico está no fato de avaliar a toxidade dos componentes em mistura, utilizando ferramentas como biomarcadores enzimáticos, fator de bioconcentração e modelagem matemática, para avaliar a interação de herbicidas, que ainda incluem outros princípios ativos como a hexazinona e o tebutiurom.

Ainda segundo Moura, mesmo que o produtor não faça uso da mistura de herbicidas no tanque de pulverização, todos os produtos que não são absorvidos pelas plantas podem ser carregados para os corpos d’água pela chuva ou penetrar no solo até atingir o lençol freático. Ou seja, no ambiente é praticamente impossível encontrar esses herbicidas isoladamente. “Daí a importância de analisarmos o efeito dos dois componentes misturados”, explica. A pesquisadora afirma também que muitos agroquímicos podem manter-se ativos por um longo tempo e têm facilidade de transporte. Dessa forma, podem agir sobre espécies não alvo mesmo longe das lavouras.

“Nossos estudos analisam os efeitos no peixe-zebra e na tilápia do Nilo, que são espécies tropicais. Até agora podemos observar que estas são mais sensíveis do que as espécies de clima temperado, muitas vezes utilizadas como referência para o estabelecimento da toxicidade de uma substância para fins de registro e comércio”, afirma Moura. A próxima etapa da pesquisa é verificar se os componentes são absorvidos pela musculatura do peixe, representando risco à saúde humana.

A pesquisadora do Instituto Biológico, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), afirma que para evitar esses prejuízos ambientais, os produtores devem seguir as orientações dos técnicos da área e as recomendações de aplicação dos produtos na embalagem, não fazendo misturas e utilizando a dose correta nas lavouras. “Dessa forma, diminuem os riscos de contaminação das águas e de intoxicação dos seres vivos”, afirma.

O trabalho desenvolvido pelo IB poderá ajudar as agências reguladoras na determinação das concentrações máximas para evitar prejuízos ao ambiente por esses produtos. A Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 357), de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água no País, ainda não traz informações sobre condições e padrões de qualidade das águas continentais no que se refere aos herbicidas que estamos estudando. “Acredito que as informações do nosso trabalho vão contribuir para o estabelecimento destes limites”, explica.

Evento

O “Workshop Uso de peixe-zebra em ecotoxicologia” tem a proposta de difundir o uso do embrião do peixe-zebra como modelo em ensaios ecotoxicológicos. Os peixe-zebra são muito empregados em ecotoxicologia, graças à sua facilidade de reprodução, de adaptação a diversas condições ambientais e a sensibilidade a inúmeros contaminantes.

Além da pesquisa do Instituto Biológico, serão abordados no evento os protocolos da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), que são de grande importância para os estudos de avaliação de risco ambiental e de recomendação do uso do peixe-zebra. O teste Fish Embryo Acute Toxicity (FET) foi criado como uma alternativa aos testes agudos com peixes juvenis e adultos, possibilitando a redução ou substituição do uso destes organismos na experimentação animal, considerada uma tendência mundial.

O evento, a ser realizado em 27 de janeiro, às 8h, no Centro Experimental Central do Instituto Biológico, em Campinas, tem como público-alvo alunos de graduação, pós-graduação e profissionais das áreas de sanidade animal, sanidade vegetal e proteção ambiental.

Fonte: Assessoria de Imprensa – APTA

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