Análise de Mercado

Especial: O porto como espelho da agropecuária

Paranaguá cresce menos que outros portos na exportação de soja, mas consegue expansão sólida no embarque de congelados


Publicado em: 27/05/2015 às 19:00hs

Especial: O porto como espelho da agropecuária

Muita coisa acontece fora das metas de crescimento estatístico nas exportações do agronegócio via Porto de Paranaguá. O que ocorre nas lavouras do interior do estado e na indústria de sua região de abrangência, os investimentos em armazéns e a preferência do mercado internacional por grãos estão determinando um novo perfil dos embarques. Tendências que interferem em toda a logística do setor e se refletem nos números do porto.

Paranaguá não atinge as metas de aumento no embarque de soja, mas se estabelece como único porto do país com crescimento expressivo tanto no embarque de granéis quanto no de produtos processados da agropecuária. O alvo, dois anos atrás, era passar de 8 milhões de toneladas de soja, volume que ainda não foi atingido. Mesmo assim, isso não livra o porto de ter de embarcar volume recorde em períodos curtos (leia nesta página sobre o recorde atingido em abril).

Entre janeiro e abril, 2,58 milhões de toneladas da oleaginosa passaram pelas esteiras de carregamento do porto paranaense. Com previsão de movimentação intensa até agosto, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) projeta para 2015 crescimento de 3% nos embarques, num total de 7,75 milhões de toneladas exportadas – volume próximo ao recorde de dois anos atrás.

Mas são outras cargas, de maior valor agregado, como farelo, açúcar e, principalmente, carnes que ganham destaque. Se na soja Paranaguá tem tido que se esforçar para sustentar a segunda colocação, mantém larga vantagem nos dois subprodutos do grão e assume a liderança também no setor de congelados.

Na contramão da tendência nacional, o porto paranaense ampliou em 8% seus embarques de produtos processados do agronegócio no primeiro quadrimestre de 2015. Com 489,7 mil toneladas movimentadas entre janeiro e abril, Paranaguá ultrapassou seu principal concorrente neste setor, o Porto de Itajaí (SC), e assumiu a ponta também em cargas reefer.

Esse processo de diversificação rumo aos setores complementares às cadeias produtivas, cujos produtos eram predominantes nos fluxos do porto, reflete a mudança estrutural do estado em termos econômicos, resume Júlio Suzuki, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Produção de aves pauta os embarques

A mudança de perfil dos embarques do Porto de Paranaguá está diretamente ligada à avicultura. Maior produtor e exportador, com perto de um terço dos abates e dos embarques brasileiros do produto, o Paraná viu seus embarques de carne de frango darem um salto de 12,5% em 2014, num ano em que o Brasil registrava ganho tímido, de apenas 3%, as vendas externas do setor.

“No caso dos grãos, o porto reflete exatamente a fotografia do mercado”, justifica o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonia (Appa), Luiz Henrique Dividino, alegando que neste ano as oscilações do dólar estão alongando o escoamento. No caso dos congelados, por outro lado, “foi uma ação planejada”, assegura o dirigente. “Criamos um acesso ferroviário para atender dois grandes canais de escoamento, que são Cambé-Paranaguá e Cascavel-Paranaguá”, pontua.

Para Dividino, não se trata propriamente de aumentar a arrecadação do porto. Se fosse esse o caso, argumenta, Paranaguá preferia a soja em grão ao farelo, uma vez que as tarifas de embarques são as mesmas para os dois produtos e este último tem rendimento mais elevado. “Mas, pelo contrário, desejamos, sim, movimentar mais farelo, nem que para isso percamos participação na soja em grão”, crava.

E a ampliação do carregamento de congelados poderia ocorrer sem reduzir o de grãos. Mas ocorre que, com produção de carne mais elevada, a tendência que é um volume maior de grãos seja processado no interior do estado para produção de ração, mesmo que a rentabilidade da exportação de grão esteja mais vantajosa que a da exportação de farelo e óleo.

Cooperativas definem grau de processamento

A participação maior de cargas congeladas nos embarques de Paranaguá “tem muito a ver com as cooperativas, que tomam a frente desse processo de industrialização da produção agrícola”, destaca o diretor-presidente do Ipardes, Júlio Suzuki. O porcentual dos grãos industrializados pelo sistema cooperativista paranaense têm aumentado cerca de um a dois pontos ao ano e chega a 42%, aponta Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

Hoje, 39% da receita das cooperativas é proveniente de produtos processados e a meta é elevar esse porcentual a 50% até 2020. “O escoamento maior de processados [farelo, óleo e congelados] é um processo que vem acontecendo ao longo dos anos e, hoje, as carnes assumem papel importante na agroindustrialização”, diz Turra.

Levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revela que a capacidade instalada de processamento de soja do Paraná vem se mantendo relativamente estável ao longo dos últimos anos. Por outro lado, a capacidade ociosa das indústrias vem sendo gradativamente reduzida.

Com capacidade para processar 35,745 mil toneladas/dia, o parque industrial paranaense opera hoje com apenas 2% de ociosidade, segundo a Abiove – índice que era de 5% dois anos atrás. As plantas foram dimensionadas para atender a necessidade de processamento da própria cooperativa e, nesse sentido, a maior parte delas está sendo utilizada próximo de sua capacidade total”, confirma Turra.

2,579 milhões
de toneladas de soja em grão passaram pelas esteiras de Paranaguá entre janeiro e abril de 2015 . Apesar de ter recuado 35% na comparação com os quatro primeiros meses do ano anterior, volume mantém o porto na segunda colocação.

489,7 mil
toneladas de congelados foram embarcadas pelo porto paranaense no primeiro quadrimestre do ano — um aumento de 8%, que coloca Paranaguá no topo do ranking brasileiro de exportação do setor.

1,595 milhão
de toneladas de farelo de soja ganharam o mercado internacional via Paranaguá nos quatro primeiros meses do ano, um incremento de 15% na comparação com 2014. Paranaguá é a principal porta de saída do produto.

267,1 mil
toneladas de óleo de soja foram exportadas pelo porto paranaense entre janeiro e abril de 2015 — quase três vezes mais que o volume registrado em Rio Grande (RS), o segundo colocado no ranking nacional.

1,065 milhão
de toneladas de açúcar saíram do país por Paranaguá no primeiro quadrimestre do ano — volume equivalente a 13% das exportações totais do porto no período. Alimento deve ser um dos destaques em 2015.

1,069 milhão
de toneladas de milho foram escoadas pelo porto paranaense até abril. Volume é 36% maior que o registrado há um ano e coloca Paranaguá na segunda colocação no ranking de exportação do cereal , atrás apenas de Santos.

Fonte: Gazeta do Povo

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