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Emergentes podem voltar a ser alvo de turbulências

As duas luas que regem a sorte dos que investem em mercados emergentes estão minguantes em uníssono


Publicado em: 01/09/2014 às 18:00hs

Emergentes podem voltar a ser alvo de turbulências

Os gastos em investimentos pela China - estrela guia dos exportadores de commodities - estão mais lentos e o Fed (banco central dos EUA) está com um discurso mais agressivo no sentido de reverter os estímulos monetários.

Caos - A última vez que tal configuração predominou, no início do ano, produziu um caos nos emergentes. Particularmente atingidas foram as moedas, ações e títulos dos chamados "cinco frágeis" - Brasil, África do Sul, Indonésia, Índia e Turquia. "O crescimento dos emergentes tem sido impulsionado pela demanda chinesa e pela frouxa liquidez mundial, mas ambos estão agora sob pressão", diz Maarten-Jan Bakkum, estrategista para ações de mercados emergentes no ING Investment Management.

Vulnerabilidade - "De modo geral, as ações de emergentes são, provavelmente, menos vulneráveis do que a dívida desses mercados, porque os títulos de dívida dos emergentes denominados em moeda forte têm se valorizado mais devido à liquidez [global]", acrescenta Bakkum.

Preocupações - As preocupações do estrategista são enfatizadas por dados do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), mostrando que os investimentos em carteiras de ativos de mercados emergentes caíram drasticamente em agosto, para US$ 9 bilhões, ante uma média mensal de US$ 38 bilhões entre maio e julho.

Distribuição geográfica - Em termos de distribuição geográfica, as estatísticas do IFI mostram uma saída de emergentes na Europa e África e substancial diminuição dos fluxos com destino a países de Ásia e América Latina. A emissão de títulos por mercados emergentes também foi fraca, totalizando estimados US$ 22 bilhões em agosto, contra uma média mensal de US$ 62 bilhões, e US$ 44 bilhões em agosto de 2013.

Cautela - "A forte desaceleração nos fluxos de investimentos em agosto poderá assinalar o início de um período de maior cautela por parte dos investidores mundiais em relação aos mercados emergentes", diz Charles Collyns, economista-chefe do IIF, acrescentando que pode ter sido atingido um "ponto de inflexão cíclico".

Mudança - Apesar dos sinais pessimistas, muita coisa mudou nos mercados emergentes - especialmente entre os "cinco frágeis" - desde as convulsões registradas anteriormente neste ano. O índice de ações MSCI de mercados emergentes apresenta alta de 9,1% desde o início do ano, e está 19,3% acima de seu vale em fevereiro. Os rendimentos de títulos de mercados emergentes em moedas fortes e locais estão em queda, nos últimos 12 meses, o que significa uma percepção de moderação dos riscos.

Moedas - Em termos de moedas, apenas dois dos "cinco frágeis" - o rand sul-africano e a lira turca - viram desvalorização neste ano, até agora, ao passo que o real brasileiro mostra valorização de 5,1%, a rupia indonésia subiu 4,2% e a rupia indiana apresenta alta de 2,4%.

Desempenho - "Nós, em verdade, achamos que 'cinco frágeis' é um termo algo engraçado. Se olharmos o melhor desempenho de moedas [de emergentes] neste ano, algumas são dos cinco frágeis", diz Edwin Gutierrez, gerente de investimentos na Aberdeen Asset Management.

Estigma - Vários analistas concordam em que um ano após Morgan Stanley ter cunhado o termo "cinco frágeis", a designação pode ter perdido sua utilidade. Dois membros, Índia e Indonésia, constituem-se em casos convincentes no sentido de que o estigma seja descartado.

Indonésia - A Indonésia elevou a taxa de juros doméstica em 175 pontos-base desde o início de 2013, ampliou suas reservas em moeda estrangeira e deverá reduzir seu déficit em conta corrente de um pico de 4,5% do PIB no ano passado para cerca de 3% neste ano, algo que, diz Gutierrez, o país é facilmente capaz de financiar.

Otimismo - Também há otimismo quanto a que Joko Widodo, presidente eleito da Indonésia, esteja determinado a reduzir o déficit orçamentário mediante uma redução gradual, porém estruturada, do subsídio de US$ 21 bilhões aos combustíveis no país, usando alguns dos recursos assim liberados para construir infraestrutura pública. "A Indonésia, inquestionavelmente, reduziu sua vulnerabilidade a forças [de mercado] exógenas", diz Gutierrez.

Esforços - Glenn Maguire, economista do ANZ Research, diz que os esforços da Índia para reduzir suas vulnerabilidades no ano passado eclipsaram até mesmo os da Indonésia. A Índia está um passo à frente da Indonésia em redução dos subsídios aos combustíveis; o crescimento de seu PIB deverá ultrapassar o da Indonésia a partir de 2015; e as perspectivas para a inflação indiana são mais estáveis do que para a Indonésia em 2015-16, disse ele em relatório recente.

Tendências - Se essas melhorias servirão para isolar a Índia e a Indonésia das turbulências do mercado criadas pelo recuo dos investimentos chineses e pela normalização monetária do Fed dependerá, em parte, de quão abruptas serão cada uma dessas tendências. "Se houver um choque [no aperto monetário por parte do Fed], então haverá uma grande onda de vendas de moedas de emergentes", diz Bakkum.

Posição mais forte - Apesar disso, a Índia e a Indonésia estão em posição muito mais forte do que seus ex-companheiros nos "cinco frágeis" - Brasil, África do Sul e Turquia -, que pouco ou nenhum progresso realizaram no saneamento de seus déficits em conta corrente e fiscal, dizem analistas.

Fonte: Financial Times

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