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Conta de juros cresce e engole superavit

O setor público pagou de juros, somente em fevereiro, mais do que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prevê economizar o ano inteiro para cobrir encargos financeiros


Publicado em: 01/04/2015 às 19:20hs

Conta de juros cresce e engole superavit

Segundo o Banco Central (BC), a fatura do mês chegou a R$ 56,3 bilhões, três vezes mais do que em janeiro, quando esse tipo de despesa somou R$ 18 bilhões. Ou seja, em apenas 30 dias, o montante foi suficiente para comprometer todo o superavit primário, de R$ 55,3 bilhões programado pelo governo federal para 2015. Para toda a esfera pública, a meta fiscal é de R$ 66,3 bilhões.

Quase metade do volume de juros desembolsado em fevereiro - R$ 27,3 bilhões - refere-se aos prejuízos com o programa de swap cambial do Banco Central, encerrado ontem após duas renovações. Desde que a autoridade monetária deu início à chamada Ração diária, em agosto de 2013, as perdas superaram os ganhos em R$ 67,4 bilhões.

Ao longo desse período, o BC injetou quase R$ 115 bilhões por meio dos leilões de swap, uma operação equivalente à venda futura de dólares. O presidente do órgão, Alexandre Tombini, tem sustentado que a intervenção cumpriu o objetivo de oferecer proteção às empresas em um período de alta volatilidade da moeda norte-americana. O fim da estratégia, porém, ocorre justamente em um momento de escalada ainda maior da divisa.

Em meio ao ajuste fiscal prometido pelo governo e às incertezas sobre o aumento dos juros pelo Fed - o Banco Central dos Estados Unidos -, o dólar fechou o primeiro trimestre com alta acumulada de 20%, a maior desde 2011 para o período. Ontem, a divisa teve um recuo de 1,26% e terminou o dia cotada a R$ 3,189. Na segunda-feira, analistas consultados toda semana pelo BC aumentaram a previsão do dólar no fim deste ano, de R$ 3,15, na medição anterior, para R$ 3,20.

Apesar do término da Ração diária, os contratos de swap cambial com vencimento a partir de maio serão renovados integralmente. O estoque passa dos US$ 114 bilhões e Tombini já deixou claro que não tem pressa para se desfazer dele.

Durante a apresentação do resultado fiscal de fevereiro, o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, admitiu que o prejuízo com o programa de swap foi uma das causas do elevado deficit nominal (resultado primário somado às despesas financeiras), que atingiu R$ 58,6 bilhões. Ele afirmou, no entanto, que a estratégia do BC não pode ser avaliada "de forma isolada".

Para cada R$ 1 com gasto de swap, calculou Maciel, há um ganho de R$ 2,50 com as reservas internacionais. Segundo ele, os leilões não foram desenhados "para ter ganhos ou perdas". "Foram implementados para oferecer proteção aos agentes econômicos, proteção em momentos de volatilidade", sustentou.

Recorde

Com os dados de fevereiro, a conta de juros pagos na era Dilma Rousseff fica ainda maior. Desde que ela assumiu o comando do país, mais de R$ 1 trilhão foram com o custo das dívidas do setor público, um recorde em pouco mais de quatro anos de governo. Nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, o pagamento de juros totalizou R$ 1,2 trilhão. Em 2015, o setor público já pagou R$ 74,4 bilhões em encargos financeiros, 77% a mais do que no mesmo período de 2013.

US$ 27,3 bilhões

Prejuízo do BC com estratégia voltada a controlar o dólar.

Fonte: Correio Braziliense

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