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Cofco, gigante agrícola chinesa, quer agora estender tentáculos nos EUA

A chinesa Cofco Corp. está numa onda desenfreada de aquisições


Publicado em: 01/04/2015 às 12:20hs

Cofco, gigante agrícola chinesa, quer agora estender tentáculos nos EUA

A chinesa Cofco Corp. está numa onda desenfreada de aquisições. Em poucos anos, discretamente comprou canaviais na Austrália, vinhedos na França e plantações de soja no Brasil, negócios que ajudaram a torná-la uma das maiores empresas alimentícias do mundo. Agora, está em busca de negócios no maior exportador global de commodities agrícolas: os Estados Unidos.

Ainda pouco conhecida, a Cofco está crescendo para se tornar a resposta chinesa à gigante americana Cargill Inc.

Tendo sido o braço do governo para importação de alimentos quando a China era pobre e isolada, a estatal aproveitou a ascensão chinesa a um país com consumidores de classe média. A Cofco — abreviação oficial de China National Cereals, Oils and Foodstuffs Corp. — hoje é dona de processadoras de alimentos em cinco continentes. Em 2014, desembolsou US$ 2,7 bilhões para adquirir a negociadora de grãos holandesa Nidera BV e 51% da unidade agrícola do Noble Group, ganhando presença em regiões como Europa e América do Sul, incluindo no Brasil.

“Queremos estar mais envolvidos em outras partes do mundo, especialmente nas Américas, onde muitos grãos são cultivados, produzidos e exportados para outros mercados como a China”, diz Paul Liu, líder da Cofco na América do Norte.

Os negócios com a Nidera e a Noble Agri Ltd. deram à Cofco um punhado de elevadores de grãos nos EUA, e Liu diz que a empresa começou a sondar firmas americanas para potenciais negócios que possam expandir sua presença nos EUA. As transações podem incluir aquisições ou parcerias com concorrentes para garantir acesso a terminais de grãos e portos no país, diz Liu.

Os negócios recentes da Cofco a alçaram à posição de concorrente de líderes americanas como Cargill e Archer Daniels Midland Co. e da francesa Louis Dreyfus Group. Sob a liderança de um presidente carismático e afeito a fazer negócios, Ning Gaoning, que fala inglês fluentemente, a Cofco se transformou numa estatal que busca ser globalmente competitiva.

A empresa tem acesso aos cofres estatais chineses, que disponibilizaram US$ 10 bilhões para aquisições, segundo executivos da empresa. Seus produtos permeiam a cadeia alimentar da China, do campo às mesas dos consumidores. “É muito importante para o mercado chinês que eles tenham recursos”, diz Matthé Vermeulen, presidente da Associação Comercial de Grãos e Alimentos da Holanda, da qual a Nidera faz parte.

A receita da Cofco, estimada em US$ 63,3 bilhões em 2014, após as aquisições da Noble e da Nidera, ainda fica atrás das três maiores gigantes mundiais do agronegócio. As pressões no mercado doméstico também estão crescendo. A Cofco é a segunda no mercado de óleo de cozinha, com uma fatia de 15%, atrás da Wilmar International Ltd., de Cingapura, que detém 55%, segundo a consultoria Shanghai JC Intelligence Co.

A Cofco tem evitado aquisições caras e buscado adquirir conhecimento com as empresas que compra. A Nidera, por exemplo, possui laboratórios que desenvolvem tecnologias para ampliar a produtividade agrícola. “Essas aquisições representam um distanciamento das políticas anteriores de garantir alimentos”, diz Nelson Low, diretor de commodities para a Ásia da operadora de bolsas CME Group Inc., referindo-se à política anterior da China de tentar produzir internamente a maior parte dos grãos que consome.

Durante a maior parte da sua existência, a Cofco encarnou a preferência da China por um forte controle do Estado sobre a economia. Fundada em 1952, ela se tornou a maior importadora e exportadora de grãos e outros produtos agrícolas numa época em que o país vivia uma escassez crônica de alimentos. Depois que as reformas econômicas começaram, no fim dos anos 70, a Cofco se aventurou em um novo território, levando a Coca-Cola KO para a China e fechando um acordo com a Seagram Company Ltd. para importar álcool.

A Cofco permaneceu amplamente focada na negociação de grãos até a chegada de Ning, em 2004, como presidente. Esse foi um período de explosiva prosperidade na China e de mudanças na dieta alimentar da nova e subitamente enriquecida classe média chinesa.

Ning rapidamente definiu um ambicioso plano para reinventar a Cofco, segundo documentos da firma. Ele reformulou a avaliação de desempenho anual e instituiu um sistema que classifica os 100 gestores mais seniores e substitui os cinco últimos — técnica copiada do ex-líder da General Electric,Jack Welch. “Ela cria muita pressão e, sim, tem sido um pouco estressante”, diz um executivo sênior da Cofco.

Segundo Ning, a Cofco precisava ser mais que uma negociadora de grãos com margens competitivas e ganhar escala na produção de alimentos para alcançar influência global. A Cofco não quis disponibilizar Ning para uma entrevista.

A aquisição transformadora ocorreu em 2011, quando produtores de cana de açúcar na Austrália colocaram à venda a Tully Sugar, que é a joia da coroa do setor no país e responde por 10% do processamento anual de cana na Austrália. A China estava vivendo uma onda de consumo crescente de açúcar e importando cada vez mais o produto. A gigante americana Bunge também sondava a Tully Sugar.

Discretamente, a Cofco despachou quatro profissionais da consultoria Deloitte Touche and Tohmatsu Ltd. para ir de fazenda em fazenda e tentar vencer a desconfiança dos produtores para com uma pouco conhecida empresa chinesa. A oferta de US$ 145 milhões da Cofco acabou vitoriosa e o negócio ajudou a preparar a empresa chinesa para dar um passo maior: a aquisição da Noble e da Nidera.

Ainda assim, a Cofco pode enfrentar fortes obstáculos nos EUA. Comprar ativos de grandes participantes do mercado pode sair caro, enquanto consolidar pequenas propriedades espalhadas talvez seja um processo complicado, dizem analistas. Além disso, a presença de uma grande empresa chinesa no setor de alimentos dos EUA pode gerar resistência política

Fonte: Idea Online

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