Saúde Animal

As infecções pelo vírus tipo 2 da Diarreia Viral Bovina (BVD) devem ser consideradas risco para as fazendas?

Infecções pelo vírus da Diarreia Viral Bovina (BVD) são endêmicas na maioria dos países com atividade pecuária, causando prejuízos econômicos significativos para a cadeia da carne e do leite


Publicado em: 16/05/2018 às 14:40hs

As infecções pelo vírus tipo 2 da Diarreia Viral Bovina (BVD) devem ser consideradas risco para as fazendas?

Baseado em propriedades antigênicas e genéticas, dois grupos do vírus causador da BVD podem ser diferenciadas: BVD tipo 1 e BVD tipo 2. As prevalências para estas espécies variam em todo o mundo, sendo que a BVD tipo 2 representa cerca de 50% dos isolados na América do Norte, enquanto a BVD tipo 1 prevalece na Europa, com mais de 90% dos isolados.

No Brasil, segundo revisão publicada por Matheus Weber e colaboradores em 2014, a prevalência de BVD tipo 1 e BVD tipo 2 é quase igualmente distribuída com frequência de 47-50% de BVD tipo 1 e 42-45% de BVD tipo 2. Essa porcentagem varia de acordo com a localidade, finalidade (gado de corte ou gado de leite) e o tipo de sistema produtivo da fazenda. A maioria dos isolados de ambas as espécies do vírus de BVD são bem adaptadas aos bovinos, sendo que infecções agudas (isto é, transitórias) com cepas de baixa virulência geralmente não são observadas e/ou reportadas, a não ser que outros fatores agravantes estejam relacionados.

Conforme mencionado, as diferentes cepas do vírus da BVD apresentam grande variabilidade de virulência. Nas infecções agudas, devido a um período de imunossupressão transitória, frequentemente haverá a presença de infecções secundárias, levando ao agravamento da doença. Esta é a maneira pela qual esse vírus participa no aparecimento de outras síndromes, incluindo casos de doenças entéricas e respiratórias. Este efeito sobre o sistema imunológico também pode levar ao desenvolvimento dos casos fatais de doença hemorrágica.

O vírus da BVD também interfere extensivamente nas funções reprodutivas, nas quais, dependendo do momento da infecção, poderá ocorrer redução significativa nas taxas de concepção e aumento na incidência de abortos, malformações, natimortos ou o nascimento de animais persistentemente infectados (PI), que são animais imunotolerantes ao vírus. Devido à constante eliminação do vírus por estes animais, eles representam a principal fonte de disseminação do vírus no rebanho. Dessa forma, sua identificação torna-se ponto fundamental em programas de controle ou erradicação da BVD.

Prevalência para BVD – Nos últimos 40 anos, a BVD tornou-se endêmica em todos os países europeus onde não foram implementados programas de controle sistemático da doença. Nessas condições, aproximadamente 50% de todos os rebanhos possuíam animais PI, assim como 90% de todos os animais sofreram exposição ao vírus durante sua vida. Adicionalmente, foi observada alta correlação entre prevalência para BVD e densidade de animais em áreas endêmicas.

Até agora, a presença de BVD tipo 2 foi reportada em diversos países, como Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Áustria, Eslováquia, Itália, Reino Unido, América do Norte e Brasil.

De acordo com relatório do Laboratório de Saúde Animal e Veterinária (AHVLA) no Reino Unido de 2013, foram identificados surtos de BVD tipo 2 na Alemanha e isso foi posteriormente relatado no ProMed1. Até aquele momento, 16 rebanhos na North Rhine Westphalia e na Baixa Saxônia relataram surtos causados por BVDV tipo 2. Tais surtos foram caracterizados por sinais de dificuldade respiratória, depressão, febre alta, fraqueza, diarreia sanguinolenta e alta mortalidade (30-50%), que afetaram tanto bezerros quanto animais adultos.

A BVD é notificável na Alemanha e os rebanhos afetados foram inicialmente submetidos a restrições no trânsito de animais (a não ser que fossem diretamente para o abate) e vacinação do rebanho. Os rebanhos próximos também foram vacinados como medida preventiva. A Holanda reportou cinco rebanhos de bezerros infectados, provenientes de importações diretas da Alemanha. A infecção teve grande impacto nesses rebanhos, com casos de mortalidade de até 90% dos bezerros. A Bélgica também importa bezerros da Alemanha, mas não houve relatos de nenhum surto. O vírus de BVD tipo 2 já foi previamente isolado na Alemanha, mas sem a presença de sinais clínicos severos. A prevalência permanece muito baixa em ambos os países afetados e a disseminação entre fazendas vizinhas e países importadores ainda parece ser muito limitada.

Infecções pelo vírus de BVD tipo 2 também foram reportadas no Reino Unido, mas representam fração muito pequena de todas as cepas identificadas, sendo isolado muito raramente. Adicionalmente, a subtipagem das cepas não é rotineiramente realizada. Portanto, ainda não se sabe o quão significativa é a presença deste genótipo.

Com prevalências do BVD tipo 2 variando de 42-45% demonstra a existência de desafio muito maior desse grupo antigênico no Brasil e fica evidente a importância da BVD tipo 2 e seus riscos para propriedades de corte e de leite em nosso país.

Por Roulber Silva, médico veterinário e gerente técnico de grandes animais da Boehringer Ingelheim Saúde Animal

Fonte: Boehringer Ingelheim Saúde Animal

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