Apicultura

Apicultura se mostra sensível a fenômenos meteorológicos

Apontada por especialistas como um indicador biológico de desequilíbrio ambiental, a apicultura tem se mostrado sensível a fenômenos meteorológicos, o que estaria ligado ao declínio da população de abelhas observado recentemente em vários países


Publicado em: 29/07/2015 às 20:00hs

Apicultura se mostra sensível a fenômenos meteorológicos

Um estudo publicado há duas semanas na revista científica Science aponta o aquecimento global como a principal causa do desaparecimento de algumas espécies. A cargo de uma equipe liderada pela Universidade de Ottawa, no Canadá, o estudo analisou quase meio milhão de registros de 67 espécies de abelhas nos últimos 110 anos, na América do Norte e Europa. A conclusão é de que elas perderam terreno nas áreas mais quentes, ao Sul, e não estão colonizando novas áreas, ao Norte.

O presidente da Associação Gáucha de Apicultores (AGA), Adenor Furtado, afirma sentir saudades de quando o Rio Grande do Sul tinha as quatro estações bem definidas. A mudança na temperatura, segundo ele, “trava” a postura da rainha, que produz mais em ambiente de clima temperado, com temperatura entre 25 e 30 graus. Furtado diz que as mudanças começaram a ser percebidas de forma mais intensa há cerca de 15 anos. Em condições climáticas normais, as colmeias começam a ser alimentadas 60 dias antes do início da primavera, que é quando se inicia a safra. “Quando chegava no final destes 60 dias, a colmeia já estava populosa, acima de 100 mil insetos, pronta para a produção de mel”, recorda. “Hoje isso não acontece por causa dessa quebra de ciclo. A rainha não mantém a postura e para começar novamente demora muito tempo.”

Criado próximo dos apiários do pai, em Roca Sales, no Vale do Taquari, o produtor Nelson Vuaden, 50 anos, perdeu 300 colmeias na última safra — quase um terço do total de mil que ele possui distribuídas em municípios da região. “Nestes últimos 15 anos, todos os anos a mãe natureza tem nos dado laço”, descreve. Na última safra, o problema foi o inverno muito úmido. Mas as altas temperaturas do verão também contribuem para reduzir a produtividade. “Tu preparas a abelha para uma certa época, já tem a identificação da época em que aflora. Qualquer intempérie muda completamenta a previsão”, descreve Vuaden.

Embora as lamentações sobre o clima sejam unânimes entre os apicultores, ele não é o único responsável pelo declínio da população de abelhas. O agrônomo Luis Fernando Wolff, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, aponta outros três fatores: a contaminação pelos agroquímicos aplicados nas lavouras, manejos inadequados e oportunismo dos inimigos naturais. Ao clima, porém, ele atribui importância superior a 25%. “Ele afeta não só a rotina e as atividades das abelhas em si, mas também a oferta de néctar e pólen”, detalha. Conforme o especialista, os desequilíbrios ambientais fazem com que as floradas fiquem mais curtas ou não aconteçam. “Isso afeta diretamente a biologia das abelhas e também da flora apícola, mas principalmente os inimigos das abelhas, em especial os parasitas”, constata Wolff.

A abelha africanizada, espécie mais comum no Rio Grande do Sul, até gosta do calor. O problema, segundo Wolff, é a frequência de eventos extremos, como o prolongamento de períodos de estiagem, inundações ou tornados. A queda no número de abelhas preocupa não apenas quem vive da produção de mel, já que a polinização é apontada em diversos estudos como fator de aumento de produtividade de grãos, inclusive a soja. “A grande maioria das plantas cultivadas pelos seres humanos tem benefícios ou necessidades de polinização dirigida pelas abelhas, de maneira que essa ausência de polinizadores coloca em risco e produtividade das culturas”, descreve Wolff.

Fonte: Correio do Povo

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