T. da Informação

Agricultura com tecnologia

São diversas as técnicas utilizadas na seleção genética para desenvolvimento de cultivares, proporcionando melhor qualidade e maior quantidade, ao separar os melhores indivíduos de uma população de plantas


Publicado em: 28/03/2018 às 17:20hs

Agricultura com tecnologia

Existem plantas que se autofecundam, facilitando o processo, o que preserva os genes bons de forma natural. São conhecidas como autógamas, o caso de arroz e do feijão. As plantas alógamas, como o milho e o girassol, se reproduzem dispersando pólen e então é necessária a ação do profissional melhorista para direcionar os cruzamentos com o objetivo de obter plantas mais saudáveis. Ao fazer sucessivas gerações obtêm-se linhagens puras, imitando o que a planta autógena faz naturalmente. Os cursos que formam melhoristas são em níveis de mestrado e doutorado, envolvendo uma série de disciplinas, entre elas genética, estatística, genética de população e experimentação e biologia molecular, proporcionando uma formação que permita a condução de técnicas direcionadas.

De acordo com Lauro Guimarães, pesquisador de melhoramento genético da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Sete Lagoas, a evolução da agricultura, que hoje apresenta técnicas modernas de controle de pragas via transgenia, adubação, ou seja, o manejo, responde por 50% de contribuição no desenvolvimento de novas cultivares. “Um bom exemplo é o de que há um século se produziam 3 mil quilos de milho a cada 10 hectares, hoje se pode chegar a uma produção de 10 mil quilos na mesma área plantada.” Transgênese ou transgenia é o processo de alteração do material genético de uma espécie pela introdução de uma ou mais sequências de genes provenientes de outra espécie, mediante o emprego de técnicas de engenharia genética.

Maquinário

As maiores demandas estão nas culturas de grãos, explica o pesquisador, e os profissionais têm que estar sempre atentos aos desafios do campo, e do avanço tecnológico exigindo atualização constante. “Uma cultivar excelente neste ano pode não ter sido exposta a determinadas doenças e patógenos (vírus, bactérias e outros micro-organismos) e pode mostrar suscetibilidade tão grande que, com a exposição da mesma cultivar ela futuramente deixará de ser produtiva. O melhoramento deve estar sempre um passo à frente.” Quanto às tecnologias, Lauro exemplifica comparando as cultivares de milho e da soja. Há pouco mais de uma década, o milho era plantado com espaçamento de 80 centímetros a um metro entre linhas e 20 centímetros entre as plantas. Para a soja, ao se tornar a principal cultura de grãos no Brasil, o plantio era entre 45 e 50 centímetros entre linhas. O maquinário utilizado nessas plantações teria que ser adaptado a cada mudança de operação nessas duas culturas. A solução para se adaptar a tecnologia do maquinário foi encontrar cultivares de milho que pudessem ser plantadas no mesmo espaçamento que a soja.

“Foi um desafio a adaptação do milho ao sistema de cultivo mais adensado. O melhoramento dá um passo a mais para o avanço da produção ano após ano. Se parar desses programas e estudos de melhoramento, em pouco tempo as culturas agrícolas terão sua produção depauperada. Hoje, as técnicas moleculares, em que se usa a extração de DNA das plantas em laboratório, distribui marcadores moleculares ao longo de genoma em milhares de plantas. Isso permite que o pesquisador evite estar sempre no campo para selecionar as plantas. Basta uma amostragem comparada com os marcadores disponíveis em laboratório”, explica Lauro Guimarães. Ele reconhece que o custo para utilização dessas cultivares é alto e mais usado nas grandes plantações, mas que existem nichos de mercado que atendem a outras necessidades, como as plantações em pequenas áreas, onde são utilizadas tração animal ou plantio com matraca, para quem essas sementes saem muito caras.

Novidades

Há outras tecnologias de melhoramento que estão mais em conta para esse público, permitindo que esses agricultores tenham acesso a essa linha, como as sementes híbridas duplas. A agricultura orgânica é outro nicho, que procura preservar as tradições e trabalha com associações de preservação das sementes tradicionais. São os experimentos compartilhados, onde o próprio agricultor vai selecionando as melhores plantas e guardando as sementes para o próximo plantio, promovendo uma seleção a partir de seu próprio conhecimento. É o caso de Valteir Soares, de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, que é um dos guardiões de sementes crioulas. Por meio de sindicatos e cooperativas regionais eles criam bancos de sementes e mudas, selecionadas pelos próprios agricultores, e que são distribuídas aos trabalhadores da agricultura familiar.

“Estamos agora construindo um viveiro para mudas, e já trabalhamos com 120 tipos de sementes de grãos, hortaliças e frutas, atendendo a 28 comunidades. A vantagem é que podemos trocar ou comprar sementes fora do circuito dos grandes mercados ou de transgênicos.” Segundo Valteir, não há grandes problemas com pragas ou doenças porque as plantas são nativas e adaptadas ao ambiente onde as sementes são colhidas e armazenadas. A conservação das sementes de variedades crioulas tornou-se um aspecto fundamental na preservação da biodiversidade. O termo crioulo é utilizado para identificar um indivíduo nativo, autóctone, que vive naquele determinado local. Originário daquela localidade. Uma planta que está em cultivo no mesmo local já um determinado período de tempo.

Sabedoria

Muitos produtores utilizam a sabedoria do homem do campo para definir quais as melhores plantas que merecem ser selecionadas e reproduzidas. Gabriel Demuner, administrador e filho do proprietário da empresa agrícola Fazenda e Viveiro Demuner, em São Roque do Canaã, no Espírito Santo, cuida de 200 hectares de café arábica e 100 do conilon. “A empresa investe muito em melhoramento genético, já pagamos R$ 5 mil em um único pé de café, só para produzir seu clone”, contou. A avaliação de qual a planta deve ser selecionada é feita por um grupo de produtores “no olhômetro”, brinca.

“Plantamos primeiro para ver o que vai dar e acompanhamos desde o início no viveiro até a primeira colheita. As informações são compartilhadas entre nossos engenheiros-agrônomos e aquele produtor tradicional, alguns que nem sequer sabem escrever, mas têm sua ciência do dia a dia”, diz. “Hoje, a gente, por ser empresa de grande porte, tem uma condição de levar ao povo do campo o método melhor de plantar e de gerir os negócios. Com dados científicos e aproveitando os saberes do homem do campo. No viveiro, que é a nossa principal fonte de renda, temos que vender a muda, ensinar como plantar e como cuidar.”

Fonte: Estado de Minas

◄ Leia outras notícias