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Silvicultura para a Amazônia


Publicado em: 27/03/2013 às 12:36hs

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A população mundial aumenta ano após ano, o que resulta em maior demanda por alimentos, fibras e energia. Em muitos países, como o Brasil, não só cresce o número de habitantes como, também, o poder aquisitivo das pessoas, que consomem cada vez mais produtos essenciais e supérfluos. Assim, é natural que a demanda por matérias-primas cresça aceleradamente. Dentre essas matérias-primas, está a madeira, presente em todos os lares, ruas e comércios, na forma de móveis, papel e até mesmo no aço.

Antigamente, a madeira era obtida somente das florestas nativas, dado o baixo consumo e a abundância de florestas, especialmente no Brasil. Ainda hoje, as florestas nativas são de grande importância para o suprimento de madeira. Porém, mesmo no período colonial, já se reconhecia a possibilidade de escassez de algumas espécies, como o mogno, o guanandi e o pau-brasil, ditas “madeiras de lei”, por terem sua exploração controlada pelo reinado português.

Por abranger regiões de alta densidade demográfica, a Mata Atlântica era a principal fonte de madeira para os brasileiros. Entretanto, à medida que a demanda por produtos madeireiros crescia, a floresta se extinguia. Percebendo que essa exploração não se sustentaria, pioneiros, como o engenheiro agrônomo Navarro de Andrade, introduziram os eucaliptos (espécies nativas da Austrália) no Brasil e implantaram povoamentos florestais, no início do século XX, com o intuito principal de produzir dormentes para estradas de ferro. Foi um marco para a silvicultura, ou seja, o cultivo de árvores, no Brasil.

Atualmente, a silvicultura responde por mais de 70% da produção de madeira no país (segundo levantamento do IBGE), sendo os principais produtos a celulose, o carvão e a lenha. Contudo, isso não vale para a região Norte, onde a Floresta Amazônica ainda supre a maior parte da demanda por produtos madeireiros e não-madeireiros. Esse quadro também deve se reverter a longo prazo, visto que o desmatamento na Amazônia é combatido com intensidade cada vez maior e o manejo florestal sustentável, embora importante, não pode assegurar o suprimento de madeira no ritmo de crescimento da demanda, especialmente para fins energéticos.

Alguns estados da região Norte, como o Amapá, Roraima, Tocantins e o Pará possuem consideráveis extensões de florestas plantadas, dada a existência de siderúrgicas e fábricas de celulose na região. Já no Amazonas, no Acre e em Rondônia, as áreas ainda são pequenas, mas crescentes. A princípio, o principal produto das florestas plantadas destes estados deve ser a lenha, para o abastecimento de caldeiras de cerâmicas, frigoríficos, graníferas e termelétricas, além de fornos de panificadoras e restaurantes.

Não obstante, a crescente demanda por madeira para fins energéticos, o plantio de árvores para produção de madeira serrada, tratada e painéis de madeira, nos estados da região Norte, também pode ser uma alternativa economicamente viável, podendo-se trabalhar em sinergia com o manejo florestal sustentável. Afinal, serrarias, marcenarias e fábricas painéis de madeira, geralmente, podem beneficiar tanto madeiras nativas quanto exóticas.

Espécies cultivadas

Em se falando de espécies florestais para cultivo, atualmente, os eucaliptos são os mais cultivados, ocupando mais de 6,5 milhões de hectares no Brasil (74% do total de florestas plantadas), segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf). Com exceção de Roraima, onde a acácia-mangium parece ser preponderante, nos demais estados da região Norte os eucaliptos também são as principais espécies cultivadas.

A preferência pelos eucaliptos se explica por sua elevada produtividade, plasticidade (podem ser cultivados em diversas condições edafoclimáticas), multiplicidade de uso (lenha, celulose e madeira serrada, por exemplo), disponibilidade de material genético e aceitação no mercado. Apesar de ser a segunda essência mais cultivada no Brasil, os plantios de pinos na região Norte são tímidos, provavelmente devido à baixa demanda por celulose de fibra longa, madeira e resina pelas fábricas da região.

Ainda com relação às espécies exóticas, uma espécie que tem sido cada vez mais plantada na Amazônia Legal é a teca (Tectona grandis), conhecida por sua madeira nobre, de alto valor de mercado. Já grandes extensões de acácia-mangium existem basicamente em Roraima. A acácia-mangium, assim como os eucaliptos, é relativamente rústica e presta-se para a produção de lenha, celulose, madeira serrada e mel. Também é fixadora de nitrogênio atmosférico, sendo bastante empregada em recuperação de áreas degradadas. Porém, não há disponibilidade de materiais melhorados e sua aceitação no mercado regional não é tão alta.

Com relação às espécies nativas, para produção de madeira, apenas o Schizolobium parahyba var. amazonicum, conhecido como paricá ou bandarra, possui considerável área plantada (cerca de 85 mil hectares), concentrada em Tocantis e no Pará. A espécie possui rápido crescimento e seu principal uso é a fabricação de laminados.

A Floresta Amazônica possui uma grande diversidade de espécies nativas com potencial para produção de madeira, como o pau-de-balsa (Ochroma pyramidale), a sumaúma (Ceiba pentandra), o taxi-branco (Sclerolobium paniculatum), o ipê (Handroanthus spp.) e o tauari (Couratari spp.). Domesticar essas espécies é fundamental para garantir a perpetuidade do setor florestal, pois pode evitar o esgotamento das árvores de remanescentes florestais e garantir o suprimento de produtos diversificados, tanto para o mercado interno quanto para exportação.

Nesse sentido, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) busca elaborar um portfólio de silvicultura de espécies nativas. O objetivo é facilitar o gerenciamento de projetos de pesquisa e canalizar esforços para solucionar os principais problemas que envolvem a domesticação dessas espécies, valorizando a biodiversidade brasileira. O plantio de espécies nativas, no entanto, não compete com o de exóticas. O fomento da silvicultura como um todo pode beneficiar a região Norte, aumentando sua participação num mercado que movimenta mais de 50 bilhões de reais por ano.

Henrique Nery Cipriani, pesquisador da Embrapa Rondônia, e-mail: henrique.cipriani@embrapa.br

Fonte: Embrapa Rondônia

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