Aveia, Trigo e Cevada

Menor sensibilidade de raças do fungo da ferrugem?

Agricultores e técnicos envolvidos com a cultura do trigo estão preocupados com o relato da ocorrência do fungo da ferrugem no Brasil.


Publicado em: 27/10/2008 às 09:52hs

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Um fato que causou enorme preocupação a agricultores e técnicos envolvidos com a cultura do trigo foi a recente divulgação de resultados de pesquisa, nos quais é relatada a ocorrência no Brasil de raças do fungo P. triticina, agente causal da ferrugem da folha, com menor sensibilidade aos fungicidas do grupo químico dos triazóis. Esta preocupação justifica-se pois a aplicação de fungicidas na parte aérea é uma das indicações técnicas mais importantes no controle da ferrugem da folha, sendo considerada, inclusive, a principal medida de controle no caso de cultivares suscetíveis a essa doença.

Diante dessa situação, o primeiro aspecto a ser considerado é que existem pesquisadores e instituições que se dedicam à avaliação das possíveis variações na sensibilidade a fungicidas de fungos causadores de doenças em plantas. No caso de P. triticina, este trabalho tem sido realizado especialmente na Europa, onde, a ocorrência de isolados do fungo com diferentes graus de sensibilidade aos triazóis já foi constatada há algum tempo. No entanto, mesmo em países como a Inglaterra e França, cuja a população do fungo apresenta diferentes graus de sensibilidade aos triazóis, não foi adotada, ou mesmo sugerida, qualquer alteração no manejo da ferrugem da folha visando o seu controle. Isto significa dizer que na Europa os triazóis permanecem em uso no controle da ferrugem da folha. Deve-se considerar, ainda, que, ao serem comparados, os isolados de P. triticina do Brasil demonstraram ser mais sensíveis aos triazóis do que os isolados europeus desse patógeno.

Há 25 anos, pelo menos, os triazóis estão associados aos avanços obtidos pela triticultura brasileira. Nesse sentido, o princípio ativo tebuconazol foi considerado por muito tempo uma referência em termos de controle, tanto para ferrugem da folha como para as demais doenças acima mencionadas. Por outro lado, o que se tem observado é uma evolução em relação à eficiência dos fungicidas que vem sendo disponibilizados para os produtores no Brasil ao longo dos anos. Esse avanço chegou até nossos dias materializada através da disponibilização dos produtos comerciais chamados “misturas” (triazol + estrobilurina). A combinação das características de dois grupos químicos potencializa a eficiência “misturas” comerciais disponibilizadas no mercado. Nesse sentido, o que se alerta é para a comparação inadvertida da eficiência dos triazóis em relação às “misturas” sem considerar as diferenças técnicas entre os dois tipos de produtos comerciais. Não se pode, por exemplo, desconsiderar que as “misturas” apresentam um maior poder residual que os triazóis, o que é assegurado pela maior estabilidade potencial diante da ação do sol que as estrobilurinas apresentam. A interpretação dos fatos será totalmente equivocada se as diferenças em termos de eficiência no controle da ferrugem da folha entre os triazóis e as “misturas” for atribuído simplesmente à ocorrência de raças de P. triticina menos sensíveis aos triazóis nas lavouras de trigo do Brasil.

Além disso, o uso de doses, bicos, volumes de caldas inadequados ou a aplicação de fungicidas em condições de avançado desenvolvimento da doença têm influência direta sobre o desempenho de qualquer fungicida. Nessas condições, níveis insatisfatórios de controle da ferrugem da folha também não podem ser atribuídos equivocadamente como sendo um problema de insensibilidade do fungo aos triazóis.

 

João L. Nunes Maciel e Márcia Soares Chaves

Fonte: Embrapa Trigo

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