Apicultura

Integração de abelhas em agroflorestas de fruticultura


Publicado em: 28/12/2009 às 13:03hs

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O manejo de agroecossistemas frutícolas envolvendo abelhas e direcionados à sustentabilidade da unidade produtiva pode beneficiar mutuamente a produção frutícola e o crescimento do setor apícola. A fruticultura é o sistema de produção que mais facilmente pode se aproximar de um equilíbrio ambiental, sem prejuízos da produção e produtividade, por meio da implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Os SAFs são sistemas de uso da terra nos quais espécies arbóreas e arbustivas perenes se desenvolvem em associação com plantas frutíferas, lavouras, pastagens ou criações. São uma realidade concreta da construção de um novo conhecimento que parte da interação entre as biodiversidades ecológicas e socioculturais locais com os saberes dos produtores e dos técnicos envolvidos no processo de desenvolvimento.

SAFs apícolas, por sua vez, são aqueles sistemas agroflorestais em que estão envolvidas criações de abelhas melíferas africanizadas ou de abelhas indígenas sem ferrão, junto a sistemas de produção agroflorestais diversos. SAFs envolvendo a criação de abelhas são usuais em certas regiões do mundo e especialmente apropriados para locais declivosos e inadequados ao manejo intensivo dos solos, tornando-se o mel um importante produto dentro do agroecossistema. Desenhos específicos para maximizar a produção pelas abelhas podem ser planejados em sistemas de produção agroflorestal, incluindo espécies que florescem em diferentes períodos, floradas específicas para a obtenção de méis típicos ou monoflorais, distribuições espaciais adequadas das árvores para seu maior florescimento e proteção climática às colmeias.

A transição agroecológica no pomar é um processo de mudança gradativa que se inicia com a redução de insumos de capital intensivo e avança para o uso de insumos de baixo impacto, mas busca atingir o redesenho das práticas produtivas, onde produtores e agroecossistema dependam cada vez menos de insumos externos e aproveitem da melhor forma os fluxos de energia e materiais que circulam no sistema.

A criação de abelhas integrada a sistemas agroflorestais desponta como uma atividade agropecuária que gera impactos sociais, econômicos e ambientais de relevância para o desenvolvimento local e regional. SAFs apícolas favorecem a sustentabilidade da propriedade frutícola e podem adequar-se ao sistema de manejo adotado nos pomares, interferindo pouco na ocupação de área e exigência de mão de obra, não impondo rigidez no momento de execução de suas atividades e se ajustando às demais tarefas da propriedade. O mel é um alimento de extraordinário valor nutritivo e medicinal, podendo inclusive se tornar um produto importante nas receitas do empreendimento frutícola.

A transição agroecológica no pomar é um processo de mudança gradativa que se inicia com a redução de insumos de capital intensivo e avança para o uso de insumos de baixo impacto, buscando atingir o redesenho das práticas produtivas, no qual produtores e agroecossistema dependam cada vez menos de insumos externos e aproveitem os fluxos de energia e materiais que circulam no sistema.

Pomares podem se tornar sistemas agroflorestais pela  simples inserção de consórcios entre as fruteiras e outras espécies arbóreas, herbáceas ou arbustivas cultivadas. Porém, sob uma perspectiva agroecológica, os sistemas agroflorestais mais apropriados e desejáveis são aqueles que se aproximam da dinâmica sucessional encontrada na vegetação arbórea original, baseando-se em sua estrutura e funcionalidade, copiando seus processos naturais e tratando de atender as demandas humanas de modo sustentável ao longo do tempo.

Tais associações entre as árvores frutíferas e outros componentes do sistema, em arranjos espaciais ou rotacionais, configuram-se como interações de valor ecológico e econômico. As abelhas melíferas africanizadas e as abelhas indígenas sem ferrão tiram grande proveito destes sistemas, favorecendo, em contrapartida, a polinização, melhorando a frutificação efetiva e o tamanho dos frutos, a biodiversidade e a sustentação do agroecossistema frutícola, promovendo ganhos de produtividade para diversas espécies frutíferas.

Luis Fernando Wolff -  Pesquisador da Embrapa Clima Temperado

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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