O setor agrícola brasileiro está passando por uma transformação significativa. Fazendas familiares, antes apegadas à posse de equipamentos, estão adotando uma abordagem mais pragmática e profissionalizada para administrar seus ativos. Essa mudança está impulsionando o crescimento do mercado de locação de máquinas e implementos agrícolas, que, embora ainda represente uma pequena parte das receitas da indústria, está ganhando força.

Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que a pressão sobre as margens do agronegócio, especialmente no setor da soja, está levando os produtores a reavaliar seus custos. “O empresário começa a prestar mais atenção se é mais vantajoso alugar ou comprar. Ele busca reduzir custos fixos, transformando-os em variáveis”, explica Bastos.

Apesar do crescimento na demanda por locação, a modalidade ainda tem um peso reduzido no faturamento total das fabricantes, que deve sofrer uma queda de 15% em 2024. A Unidas, conhecida por locação de automóveis, está apostando neste nicho de máquinas agrícolas. Claudio Zattar, seu principal executivo, relata que, atualmente, as locações nas fazendas de soja e milho concentram-se principalmente em picapes, mas vê grande potencial para expansão, com o exemplo da SLC Agrícola, que adotou a estratégia de alugar máquinas e terras para reduzir sua dependência de ativos próprios.

Marcelo Lopes, diretor de vendas da John Deere Brasil, ressalta o sucesso da SLC Agrícola ao adotar a locação como parte de sua estratégia de negócios. A SLC é um dos 23 clientes ativos do grupo RZK Rental, concessionário da John Deere, que em 2021 lançou um projeto-piloto de locação de máquinas agrícolas. O sucesso foi tanto que o grupo expandiu sua frota de aluguel, gerando receita crescente e inaugurando, em janeiro de 2023, a RZK Rental, com um aporte de R$ 500 milhões. A expectativa é que a empresa fature R$ 300 milhões com o aluguel de equipamentos agrícolas em 2024.

Além das concessionárias de fabricantes, outras empresas também estão investindo na locação de máquinas agrícolas. A Addiante, criada em 2022 pela Randoncorp e Gerdau, terceirizou 1.400 unidades em seu primeiro ano, com uma expectativa de chegar a 3 mil ativos em 2024. A crescente sofisticação do setor agrícola está criando espaço para novos modelos de negócio e soluções financeiras inovadoras, como a locação de equipamentos, consórcios e leilões.

Para pequenos e médios produtores, consórcios e leilões têm se mostrado alternativas interessantes para a aquisição de equipamentos. Na Superbid Exchange, uma empresa que domina 70% do mercado de leilões de maquinário agrícola, as compras por meio desse modelo cresceram 13% em 2023. A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) relatou um crescimento de 11,8% nos consórcios para veículos pesados no ano passado, com créditos chegando a R$ 46,76 bilhões, incluindo consórcios para tratores, plantadeiras e colheitadeiras.

O surgimento desse novo mercado de locação de máquinas agrícolas reflete a evolução do setor rural brasileiro e a busca por mais eficiência e flexibilidade na gestão de recursos. A tendência é que esse mercado continue a crescer, oferecendo aos agricultores mais opções para otimizar suas operações.